Nos últimos dias, os Talibãs ocuparam oito capitais de província no norte do Afeganistão. Como era previsível, as tropas islâmicas estão aproveitando a retirada das tropas americanas e europeias. Rompe-se assim a ficção do tratado de paz assinado no ano passado entre as autoridades afegãs e o Talibã em Doha, no Qatar.

Os Talibãs estão avançando sem maiores resistências pelo norte do Afeganistão, devastando tudo em seu caminho, saqueando cidades e atacando a população civil. Eles já ocuparam as capitais de província de Farah, Sar-e-Pul, Pul-e Khumri, Sibargan, Lashkar Gah, Kandahar, Herat e Kunduz. Kunduz é uma cidade estratégica, localizada a apenas 50 quilômetros da capital afegã, Cabul. Além de contar com maiores recursos e logística, os Talibãs estão aumentando suas forças ao ocupanr novas cidades e liberando combatentes talibãs detidos.

O anúncio da retirada das tropas americanas havia sido feito no ano passado. Biden iniciou a retirada e estima-se que no final de agosto não haverá mais tropas americanas no Afeganistão. Enquanto vários líderes da UE reclamavam da decisão, os Estados europeus também começaram a retirar suas tropas.

Após 20 anos de ocupação da OTAN, os Talibãs continuam altamente ativos. A cruzada americana em nome da “liberdade e democracia” não teve outro efeito senão o de exacerbar a crise humanitária da população civil afegã. Agora que o avanço do Talibã foi confirmado, a administração Biden negou ter qualquer responsabilidade. O porta-voz do Pentágono John Kirby declarou que “Trata-se de defender seu país. É responsabilidade deles [dos afegãos]”.

Medo de uma nova crise migratória

A guerra sem fim no Afeganistão deixou um grande número de migrantes e refugiados. Estima-se que só no Irã vivem 3 milhões de refugiados afegãos, e 3,5 milhões no Paquistão. Mas o novo avanço do Talibã poderia criar centenas de milhares de refugiados a mais.

Nos ataques do mês passado, a ONU contabilizou 183 mortes e 1.181 feridos entre a população civil. Mas estes são apenas os casos que foram documentados; pode haver centenas ou milhares mais. A chegada do Talibã já deslocou milhares de afegãos, que estão fugindo com medo para Cabul, a capital. Foram relatados saques e abusos sexuais de mulheres civis pelo Talibã.

Enquanto isso, os Estados membros da UE se preparam para deixar os afegãos à sua sorte. Alemanha, Áustria, Bélgica, Holanda, Dinamarca e Grécia pediram à UE permissão para continuar as expulsões de refugiados afegãos em seu território. Isto abre o caminho para a possibilidade de uma nova crise migratória no Oriente Médio como a que atingiu a população síria há alguns anos.

Original em https://izquierdaweb.com/afganistan-kabul-a-punto-de-ser-un-nuevo-saigon/

Tradução José Roberto Silva