Renato Assad

Desde que Abraham Weintraub assumiu o Ministério da Educação em abril do ano passado – substituindo Ricardo Vélez Rodríguez, que havia sido escolhido a dedo por Olavo de Carvalho (o ideólogo da familícia Bolsonaro), hoje ofuscado pela criminosa atuação do atual ministro frente a pasta -, confirma-se mais uma vez aquele velho ditado de que no governo negacionista-genocida de Bolsonaro nada é de tão ruim que não possa piorar.

Caracterizado como um “ministro da educação sem educação, grosso, horrendo, nojento” pelo escritor Ignácio de Loyola Brandão, Weintraub assim que assumiu a liderança do MEC no ano passado anunciou o criminoso corte de 30% da verbas para as universidades federais porque, segundo ele, eram instituições que “em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia”.

Essa medida foi derrotada com as históricas jornadas de luta em defesa da educação no mês de maio de 2019 com o 15M e o 30M. No entanto, o processo de mobilização iniciado pelos estudantes, infelizmente, não se manteve também contra a criminosa Reforma da Previdência devido à traição das centrais sindicais burocráticas, dentre elas as dirigidas pelo lulopetismo e por outras burocracias. Isso expressou-se, dentre outras medidas de desmobilização, no anúncio horas antes do início da greve do 14J de que os rodoviários e os ferroviários não iriam participar do movimento grevista.

Weintraub, que hoje é símbolo da chamada ala ideológica do governo, um seguidor inculto de Carvalho, é conhecido não só pelos seus grotescos erros ortográficos e gramaticais, mas por um projeto obscurantista de sistemáticos ataques e tentativas de desmonte da educação pública, fazendo valer o principal método bolsonarista: a disseminação criminosa de notícias falsas (Fake News).

A todo momento, o ministro tenta colocar a opinião pública contra a ciência e a educação pública, democrática, autônoma e, verdadeiramente crítica. O que não faltam são mentiras sobre nomes históricos, como o de Paulo Freire, até porque imagino que o ministro não possua condições ético-teóricas de compreendê-los. Contudo, a mentira mais marcante foi a afirmação de que plantações de maconha e produção de anfetaminas tomavam conta das universidades federais – risos.

Ano passado, durante o período de aplicação do ENEM, Weintraub iniciou uma campanha pessoal cujo slogan era “O melhor ENEM da história”. No entanto, já sabemos o que de fato aconteceu. Começando pela contratação sem licitação a R$ 151,7 milhões da gráfica que imprimiu as provas – 6% mais cara em relação ao ano anterior – e a “falência” desta logo após a aplicação do exame.

Marcantes foram os erros na correção das provas que comprometeram a nota de milhares de jovens que lutavam pelo acesso ao ensino superior público ou por uma bolsa nas instituições privadas. Os desastres não pararam por aí, outros problemas graves se materializaram, como: péssimo funcionamento no sistema online de inscrição do SISU; acusação de solução errada do tratamento dado ao erro de correção e judicialização do resultado; vazamento dos resultados; dificuldades de acessar a fila de espera e indícios de falhas na oferta de vagas para deficientes. Devido ao pior ENEM da história, as divulgações dos resultados do SISU acabaram por ser suspensas temporariamente naquele ano.

No mês passado, dia 22 de maio, o país parou para assistir o vídeo divulgado da criminosa reunião ministerial que fora realizada no mês de abril, citada por Sergio Moro em sua controversa saída do governo. Nesta reunião, assistimos a fala do ministro Weintraub, proferindo ataques ao STF e pedindo a prisão de seus representantes: “Eu por mim botava esses vagabundos todos na cadeia, começando pelo STF”.

A integra deste conteúdo ainda segue anexado ao inquérito aberto pelo STF, a pedido da PGR, para investigar a clara tentativa de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal para livrar sua família e amigos de investigações. Ontem enquanto escrevia esta nota, o MPF encontrou fortes indícios de crime de lavagem de dinheiro em transações imobiliárias pelo hoje senador e filho do Presidente, Flávio Bolsonaro.

O mais recente e perigoso fato político envolvendo o ministro foi a criação da MP 979 que centralizava o poder de escolha de reitores nas mãos de Weintraub, uma medida que transferiria a política bolsonarista diretamente para às instituições federais de ensino. Esta inconstitucional e autoritária medida acabou sendo revogada e as universidades já retomaram seus processos de escolha de reitores a partir da lista tríplice; método este que não podemos deixar de denunciar também pelo caráter antidemocrático de representação que retira o peso do corpo discente e dos/as trabalhadores/as das instituições públicas de ensino, tanto federais como estaduais.

Não podemos esquecer que ainda este ano, sob circunstâncias singulares no cenário de pandemia que parece se prolongar dramaticamente em território nacional como consequência da política negacionista-genocida de Bolsonaro, teremos a realização do ENEM que, com muita luta da juventude, foi adiado. Mas a verdade é que não há e nunca houve tolerância para que uma figura fascistoide e incompetente estivesse à frente de um dos ministérios mais importantes, demandando uma resposta emergencial a altura.

É preciso, com os atos antifascistas que vêm acontecendo, incorporar como eixo político o “Fora, Weintraub” imediatamente. Além do fundamental papel que devem cumprir a UNE e a UBES – entidades que ainda não aderiram politicamente à necessidade de colocar a disputa política pelas ruas – na construção das manifestações e numa campanha nacional pela interdição do ministro.

Não podemos hesitar politicamente frente à encruzilhada histórica em que estamos. Como já ressaltamos inúmeras vezes: o tempo de intervenção na luta de classes é determinante. Por isso, faz-se necessário a ampla unidade na ação e entender quais são nossas responsabilidades e desafios a serem construídos a partir das demandas e necessidades de nossa classe, que hoje é a de massificar a luta nas ruas sem deixar de considerar as necessidades de controle sanitário. Assim, podemos caminhar para que as manifestações que ocorrem semanalmente nas principais cidades do país incorporem a juventude, o movimento negro, as mulheres, a nova classe trabalhadora dos aplicativos e os setores históricos para consolidar uma mudança categórica na correlação de forças em relação a esse governo neofascista.

Fora Weintraub!

Nenhum e nenhuma estudante a menos!

Por uma educação universal, pública de qualidade e laica!

Vidas Negras Importam!

Fora Bolsonaro e Mourão!

Eleições Gerais!