Em conversa com apoiadores, Jair Bolsonaro recordou o seu passado golpista no exército, afirmou que houve abuso na operação da PF contra seus aliados e que em breve tudo será “colocado no devido lugar”.

ANTONIO SOLER

Os últimos acontecimentos têm agravado a escalada de tensionamentos entre os “poderes da república”. Agora as ameaças golpistas de Jair Bolsonaro se manifestaram em uma conversa com apoiadores nos Jardins do Palácio da Alvorada depois de operações investigativas que atingiram diretamente apoiadores do presidente neofascista.

Nesta segunda-feira (15/06), a neofascista conhecida como Sara Winter, que tem estado à frente de manifestações abertamente racistas e antidemocráticas foi presa por determinação do STF. Ontem (16/06), a PF realizou operações a pedido da PGR com autorização do STF que contou com 21 mandados de busca e apreensão para investigar a estrutura financeira de grupos pró-Bolsonaro que têm feito ataques ao STF e ao Congresso.

Hoje, Bolsonaro – diante do avanço das investigações que ligam esses grupos de ativistas neofascistas ao governo através de uma estrutura político-financeira composta por parlamentares, ministros e empresários –, em uma conversa com apoiadores seguiu sua escalada retórica golpista contra os poderes da república e a esquerda (para o governo e seus apoiadores significa tudo o que é progressista).

Depois de uma apoiadora dizer que Bolsonaro não estaria governando por conta da intervenção dos outros poderes e da esquerda, o presidente relembrou de forma ameaçadora a sua passagem pelo exército, dizendo que “em 1970, eu já estava na luta armada e conheço tudo o que está acontecendo no Brasil (…) Eu estou fazendo exatamente o que tem que ser feito”. Já em outra passagem disse que “eu não vou ser o primeiro a chutar o pau da barraca. Eles estão abusando. Isso está [a] olhos vistos (…) Então, está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar”.

Estes pronunciamentos diante do cerco investigativo que se faz a ele, filhos e apoiadores (empresários, parlamentares, setores das polícias militares e milicianos) não são casos isolados. Como todos sabem, o governo e seu núcleo central interpreta de forma abertamente golpista do artigo 142 da Constituição Federal no sentido de que esse daria condições legais ao executivo frente a uma crise institucional para intervir sobre os demais poderes com o uso das forças armadas.

Não existe nada mais absurdo do ponto de vista político-jurídico. Mas esta é uma interpretação que serve de chantagem permanente e de “teoria” para uma base neofascista que torna-se cada vez mais perigosa para os direitos democráticos do conjunto das massas trabalhadoras diante de um contexto de agravamento da crise generalizada (pandêmica, econômica e política) do regime que pode permitir que as ameaças vão às vias de fato. Assim, Bolsonaro age em várias frentes para aproveitar de forma golpista a crise social aguda de forma que possa usar as suas “armas” para impor um autogolpe, se não com o fechamento direto dos demais poderes, ao menos com a imposição de extraparlamentar/judiciária de seu governo protofascista.

Em uma analogia, muito aproximativa ainda, parece que o neofascista no poder central e seus apoiadores querem reproduzir no Brasil um roteiro a la Bolívia em novembro de 2019. Neste, a agitação e violência neofascista das milícias fundamentalistas cristãs, em meio à crise política, acabou dando as condições para impor outro governo com a capitulação de Evo Morales e do MAS. Contudo, no caso brasileiro, trata-se de uma movimentação autogopista para impor sobre os demais poderes um regime diretamente bonapartista reacionário (governo acima das demais instituições), para acabar de retirar direitos democráticos, econômicos, sociais e, principalmente, de organização e luta dos trabalhadores e oprimidos.

Por essa, razão a defesa dos nossos direitos democráticos – não abstratamente da “democracia” em geral como fazem setores da classe dominante e o lulismo – não serão defendidos pelo Congresso ou pelo STF diante do agravamento da crise. Como demonstrado incontáveis vezes, e em várias épocas e lugares do mundo, estes só podem ser defendidos pela nossa mobilização direta dos de baixo – os que sofrem diretamente as opressões. Por essa razão, lutar pela unidade que massifique as mobilizações pelo Fora Bolsonaro e Mourão, contra o genocídio do povo negro em defesa dos direitos democráticos, é a tarefa central do conjunto da esquerda socialista neste momento.

LUTAR PARA DEFENDER OS DIREITOS DEMOCRÁTICOS!

FORA BOLSONARO, FORA MOURÃO!

ELEIÇÕES GERAIS GERAIS PARA QUE O POVO DECIDA!