Defesa do Projeto Meninos e Meninas de Rua

    Manifestação em SBC em defesa do Projeto Meninos e meninas de rua

    Prefeitura tenta despejar o Projeto Meninos e Meninas de Rua do Centro de São Bernardo do Campo

    Através de mentiras, Orlando Morando tenta justificar sua política racista e higienista contra a população em situação de vulnerabilidade social

    EDER ALEXANDRE pela Bancada Luta Coletiva

    O prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), sem abrir nenhum diálogo e com toda sua truculência, está novamente tentando despejar o Projeto Meninos e Meninas de Rua de sua sede, localizada desde 1989, no Centro de São Bernardo do Campo.

    Com uma política racista e totalmente higienista, a atual gestão busca fazer uma chamada “limpeza social”, retirando do Centro da cidade tudo o que “atrapalha” a especulação imobiliária para a realização de seu cartão postal central da cidade. Com nenhuma política efetiva de combate às desigualdades sociais, Morando gasta milhões (inclusive sendo denunciado ao Tribunal de Contas) com propagandas e publicidades para vender uma São Bernardo que não existe. Esse photoshop social é uma prática comum entre a burguesia que joga para baixo do tapete os verdadeiros problemas do povo.

    Para entender o tamanho do desastre que é esta gestão tucana, precisamos voltar na primeira eleição de Morando, quando o ex-secretário de Meio Ambiente, Mario Henrique de Abreu, foi denunciado no Ministério Público pela venda de cargos quando eleito vereador (a famosa rachadinha), ainda assim, o mesmo foi indicado a Secretaria e após investigações do GAECO foi constatado que o mesmo integrava uma quadrilha que vendia licenças ambientais e negociava o perdão de multas sob recebimento de propinas. O ex-secretário e amigo do prefeito foi exonerado.

    Os escândalos não param por aí, e em 2018, 2 anos após assumir a Prefeitura, Orlando Morando recebeu a visita da Polícia e do Ministério Público Federal. A Operação Prato Feito investigava irregularidades em contratos emergenciais feitos com o genro do ex-secretário de Assuntos Governamentais, Carlos Maciel, nas áreas de alimentação escolar e de saúde.

    Contudo, se aproveitando do descolamento de João Dória (governador de São Paulo e seu grande espelho político) da figura do presidente Jair Bolsonaro, o atual prefeito de São Bernardo teve no combate a pandemia (mesmo não implementando medidas necessárias para conter o avanço da COVID-19, como o lockdown e auxílio emergencial para os cidadãos) sua sustentação para se reeleger nas eleições de 2020. E de lá para cá o que vimos foi um desmonte no serviço público municipal. A extinção de autarquias como a Fundação Criança e o Instituto Municipal de Assistência à Saúde do Funcionalismo (IMASF), dão o tom de como vem sendo tratados os direitos humanos e dos servidores públicos.

    Sem nenhum pudor a Prefeitura vem derrubando casas em diversos bairros da cidade, e em sua maioria, sem nenhuma decisão judicial, inclusive passando por cima de liminares que suspendem e impedem os despejos, assim como a decisão do STF que havia suspendido todas as desapropriações por conta da pandemia, todas são desrespeitadas por Orlando, que pensa estar acima da lei.

    Não podemos deixar de citar também a covardia dos vereadores da cidade que não tem coragem de enfrentar as atrocidades que Morando vem realizando. Uma base vendida por míseros cargos em detrimento do bem maior que é o bem-estar e a vida da população.

    Nesse sentido, a tentativa de despejo do Projeto Meninos e Meninas de Rua é uma continuidade desta política de desmonte, além da tentativa de enfraquecimento contra aqueles que se opõem à covardia e desumanidade deste Prefeito.

    A Organização, que ao longo dessas décadas acolheu milhares de pessoas, principalmente crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, é uma das entidades de maior reconhecimento na defesa dos direitos humanos, sendo uma das participantes na elaboração do E.C.A (Estatuto da Criança e do Adolescente). Os relatos de pessoas que tiveram suas vidas mudadas graças ao Projeto são inúmeros, e o impacto deste despejo será incalculável para todos.

    Além disso, aquele espaço é um local histórico e de extrema importância para a juventude, como disse em entrevista, a coordenadora da ONG, Néia Bueno: “É o local de referência para muitos grupos quando a gente pensa em juventude: o pessoal da Batalha da Matrix se reúne ali, do Fórum de Mulheres, do Movimento de Moradia, Levante Popular da Juventude, Sarau do Fórum, Cursinho pré-vestibular Uneafro, todo mundo se reúne ali. Desmontar aquilo, pra gente que é defensor dos direitos humanos, tem um impacto muito grande. É um local de referência”.*

    Aliás, não podemos deixar de mencionar a referência histórica deste local com a cultura hip-hop. Desde os anos 90, aquele espaço acolheu movimentos como a Posse Haússa, ligada ao Movimento Negro Unificado, onde era realizado grupos de estudos sobre política com um viés voltado principalmente a questão racial. King Nino Brown, Dexter e Mano Brown, que chegou a ser presidente do Projeto em meados dos anos 90, são algumas das importantes figuras que passaram por este espaço. A continuidade deste movimento podemos ver ao longo do tempo, como a criação do Fórum de Hip-Hop de SBC, o Sarau do Fórum, a Batalha da Matrix, Teste Seu Fôlego e muitas outras atividades que são realizadas hoje, graças a estes precursores da cultura.

    Outra importantíssima atividade que o Projeto realiza é o bloco de carnaval E.U.R.E.C.A (Eu Respeito o Estatuto da Criança e do Adolescente), que sai às ruas, desde 1991, com as crianças atendidas pelo Projeto e por outras entidades parceiras.

    Neste momento, por conta da pandemia, muitas atividades culturais e socioeducativas presenciais estão suspensas, mas Meninos e Meninas de Rua nunca parou suas atividades, como caluniosamente afirma o prefeito Orlando Morando. O Projeto continua realizando atendimento a cerca de 300 famílias, com a distribuição de cestas básicas e itens de necessidades básicas. Um serviço que deveria ter incentivo e ajuda, já que preenche lacunas que o poder público não consegue estancar.

    Como podemos ver, essa tentativa de despejo é também uma tentativa de silenciamento a quem realmente sempre esteve ao lado do povo preto, pobre e periférico, salvando vidas e modificando a estrutura dessa sociedade racista.

    Não aceitaremos calados essa tentativa de retrocesso e nos juntamos a todos os movimentos em defesa do Projeto Meninos e Meninas de Rua!

    #OPorjetoFica

    #OrlandoMorandoSai

    #NaoMexaComNossoProjeto

    *Trecho retirado de matéria feita pela Brasil de Fato