Victor Artavia 

Dirigente do NPS da Costa Rica, com a colaboração de Antonio Soler e Renato Assad de SoB Brasil.

Recentemente, o PTS da Argentina lançou uma campanha de ataques contra a corrente Socialismo ou Barbárie (SoB), por nossa participação como tendência dentro do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) no Brasil e do Novo Partido Anticapitalista (NPA) na França, na qual nos acusam de capitular às correntes de conciliação de classes dentro desses partidos [1].

Os debates são sempre bem vindos, pois contribuem para a politização da militância e simpatizantes da esquerda revolucionária. Infelizmente, quando se trata do PTS, ao invés de um choque honesto de idéias, o que eles montam são campanhas de calúnia que, como tal, não resistem ao menor contraste com a realidade e não politizam ninguém (sua lógica é pura manobra, não encontrar a verdade). É uma operação típica de uma seita, cujo único objetivo é construir uma narrativa auto-consumida onde o PTS e, por extensão, os grupos que compõem sua corrente internacional, são a única organização revolucionária no planeta Terra.

Nesta nota, vamos nos referir aos “argumentos” polêmicos deles sobre nossa participação no PSOL; na realidade, se trata de uma soma de falsidades e provocações que tomam elementos parciais da realidade, os distorcem e os “temperam” com uma linguagem falsamente “esquerdista”, e depois os publicam em suas redes como se fossem realidade (misturar coisas diferentes que nada têm a ver umas com as outras para apresentar uma história “coerente” é o método clássico de amalgamação, um método no qual o stalinismo fez escola).

O desencanto do PTS com o PSOL

Antes de entrar plenamente nos detalhes da polêmica, é apropriado afirmar que o MRT, um agrupamento do PTS no Brasil, carrega em suas costas uma situação que não é agradável para ele, embora o negue: não faz parte do PSOL, uma vez que seu pedido de adesão foi rejeitado em 2017, depois que um documento interno foi divulgado, indicando que sua tática era se engajar no entrismo e posteriormente, provocar a implosão do partido.

Embora nossa corrente, ainda que naquela época não fizéssemos parte do PSOL, tenha se pronunciado publicamente para sua entrada no partido, a realidade é que a tática do entrismo é geralmente usada em organizações stalinistas e burocráticas onde falta qualquer tipo de democracia interna, mesmo formal, o que não é o caso do PSOL, e é por isso que já desde o início sua abordagem para a entrada pretendida no partido foi mal orientada de forma ridícula e sectária.

Este é um fato conhecido no Brasil, mas o PTS o escondeu em sua nota, alegando que o PSOL negou a entrada do MRT por ser um partido antidemocrático e, é claro, o suposto “medo” do alcance do “todo-poderoso” nas redes sociais do “Esquerda Diário”… Além da natureza caricatural da história, o que queremos enfatizar é a marginalidade política que isto representa para uma corrente de esquerda no Brasil, pois estar fora do PSOL os isola do epicentro dos debates da vanguarda, que, ademais, também é uma referência para milhares de ativistas de esquerda, sindicalistas e movimentos sociais, assim como para amplos setores da juventude.

Tal é a marginalidade do MRT que, nas últimas três eleições, participou pedindo  “emprestado” a legenda do PSOL. Tremendos princípios do grupo brasileiro do PTS que, embora não pare de atacar o PSOL como oportunista e reformista, não tem escrúpulos em usar sua legalidade para caçar alguns votos e promover seus quadros! Isso implica um grau de compromisso político com o partido, embora o MRT tente disfarçá-lo alegando que eles são uma cédula “independente”.

O acima exposto explica o desencanto do PTS, pois, apesar de sua posição atual contra a participação em partidos amplos, a verdade é que ele tentou se juntar ao PSOL conhecendo a centralidade deste partido no “universo” das correntes socialistas no Brasil e a importância de constituir uma corrente dentro dele, o que os colocaria em contato direto com os 300 mil filiados e dezenas de milhares de militantes do partido. Isto também explica seus ataques ao SoB, porque eles não digerem o fato de que nossa corrente conquistou sua entrada no PSOL e eles não conseguiram.

As origens do PSOL e os perigos contidos dentro dele

Dito isto, achamos importante contextualizar para nossos leitores fora do Brasil as origens do PSOL, seu funcionamento por tendências e os perigos que nos esperam, o que nos ajudará a melhor responder as calúnias do PTS.

O PSOL surgiu em 2004, após a expulsão de uma série de deputados da ala esquerda do Partido dos Trabalhadores (PT), que se opuseram à contra-reforma de pensão promovida por Lula durante sua primeira administração, que deu lugar a um processo de reorganização de um setor da esquerda, com o objetivo de se tornar uma superação do petismo e de sua estratégia de conciliação de classes.

Por esta razão, o PSOL reuniu uma série de correntes e militantes socialistas que estavam à esquerda do PT – boa parte deles vindos do trotskismo ; também se constituiu como um partido de tendências, uma operação necessária para dar espaço às diferentes expressões em seu interior sem a necessidade de perder sua identidade específica. A soma destas características fez do novo partido um fenômeno progressivo, uma vez que levantou a possibilidade de colocar em pé uma organização socialista de âmbito nacional em um “país-continente” como o Brasil[2].

Por outro lado, desde seu início o PSOL esteve submetido a enormes pressões, já que as correntes que vinham do PT não acertaram contas com a “herança oportunista” que arrastavam consigo após décadas de militância “petista”. Da mesma forma, seus êxitos eleitorais propiciaram a entrada de outras correntes abertamente reformistas que, após algum tempo, assumiram o controle da direção do partido (principalmente a partir da entrada da APS, o antigo nome da corrente do deputado federal Ivan Valente, por cuja entrada votamos contra na direção nacional do partido).

Nesta nota não vamos rever a história do PSOL em seus dezessete anos de existência, mas queremos deixar marcador seu caráter contraditório como resultado das pressões exercidas pelas tendências reformista e oportunistas dentro dele, o que explica suas oscilações para a direita e esquerda ao longo do tempo.

Isto é fundamental para entender a situação atual do partido, pois está sob dupla pressão: por um lado, a ascensão do governo de ultra-direita de Bolsonaro e o perigoso projeto autoritário que ele encarna; por outro, a reabilitação eleitoral de Lula e seu perfil como principal candidato para derrotar Bolsonaro nas próximas eleições. Por causa disso, abriu-se uma intensa disputa entre as tendências do PSOL sobre qual orientação assumir para enfrentar Bolsonaro, a que inclui uma série de debates estratégicos sobre o  terreno central para fazê-lo (nas ruas ou através da rota eleitoral?); participação eleitoral (frente ampla ou frente de esquerda classista?) e a unidade de ação com outras correntes políticas.

Jogar fora o bebê junto com a água suja?

Ao ler a polêmica do PTS, é exposta uma definição fechada e irreversível do PSOL como um partido reformista cujo único objetivo é tornar-se o “reboque” de Lula e do PT nas próximas eleições. Sem dúvida, esta é uma possibilidade levantada pelo rumo que imprime a maioria do partido – a tendência “PSOL de Todas as Lutas” -, para o qual conta com o apoio de outros setores que se integraram recentemente, como “Revolução Solidária” de Boulos e a “Resistência” [3].

Da mesma forma, em sua análise, reduzem as disputas de tendências a um “novelo” de táticas eleitorais para obter mais deputados, sentenciando daí que não há nenhuma corrente que lute por uma perspectiva revolucionária para o partido; da mesma forma, não consideram que a dinâmica de polarização da luta de classes possa influenciar o partido, favorecendo a luta contra as tendências da frente popular com Lula e companhia. A conclusão dessa história é simples: condena o PSOL ao cesto de lixo da história, sem esperar o resultado da luta contínua de tendências, que se desenvolve dentro do partido e em estreita relação com a luta de classes.

Além de falsa e simplista, é uma posição que não educa a militância, porque confunde, de forma fracionária, entre uma possibilidade posta e a consumação da mesma; a diferenciação entre as duas etapas é vital na política revolucionária, porque permite discernir se há condições para lutar ou, ao contrário, identificar se a tendência se consumou e não pode ser revertida.

No caso do PSOL, o que se impõe neste momento é lutar para que ele retome o projeto original do partido, ou seja, se constitua como uma organização com independência de classe para superar a estratégia de conciliação de classe do “petismo”, apostando na mobilização para expulsar Bolsonaro do governo pela esquerda. Este ano será vital nessa luta, já que as pressões para formar a “Frente Ampla” com Lula à frente são enormes, em vista do qual o “Movimento Esquerda Radical” – do qual o SoB-Brasil é parte – foi formado para lutar contra essa tendência de liquidação do PSOL como um projeto com independência de classe. Nesse sentido, é vital apostar na reativação das mobilizações no Brasil, um fator que dá pontos de apoio para mudar a correlação das forças internas.

O resultado desta batalha será determinante para o futuro do partido, e nossa aposta é que ela será resolvida pela esquerda. Mas o PTS a priori descarta esta possibilidade, tendo por acabada uma discussão que está em curso, sob o caprichoso critério de que sua corrente está fora desta luta, uma cegueira que só pode ser explicada por sua total marginalidade diante da vanguarda.

Um relato distorcido ao modo da seita

Como assinalamos anteriormente, para o PTS, a atual disputa interna do PSOL responde a simples diferenças táticas no marco de uma estratégia de conciliação de classes, cujo ponto de disputa é se o PSOL participa das eleições com seu próprio candidato ou como parte de uma coalizão com o PT. Desta forma, esconde as diferenças programáticas entre os blocos do partido, algo funcional à sua narrativa onde todas as tendências são oportunistas e conciliadoras. Mas as mentiras stalinistas não terminam aí, porque, imediatamente depois, ele afirma que a discussão básica é conseguir a melhor posição para a indicação das vagas para deputado.

Mais uma vez, o PTS toma um elemento da realidade e o deforma para construir sua campanha de calúnia. Além disso, é realmente hipócrita que o PTS sustente isso, quando na Argentina eles promoveram o corte do voto para Bregman (NT.: Myriam Bregman candidata ao legislativo de Buenos Aires do PTS) com Alberto Fernandez (NT.: candidato a presidente, eleito, do kirchnerismo)  na última campanha eleitoral (sempre o mesmo duplo padrão stalinista).

De fato, no momento há uma disputa em curso no PSOL sobre como derrotar Bolsonaro. A ala majoritária da direção, com o apoio de Boulos e da Resistência, está inclinada por uma frente ampla eleitoral liderada por Lula e pelo PT, uma orientação capitulatória que leva ao pântano da conciliação de classes e liquida o PSOL como partido independente de esquerda, bem como a proposta de formar uma frente ainda mais ampla, que incluiria partidos históricos de direita (esta é a tese de Marcelo Freixo, que agora se aproxima – de forma absolutamente traiçoeira – do PSB).

Diante disto, um setor da esquerda independente do PSOL se agrupou para formar o “Movimento Esquerda Radical“, chamando a desenvolver a luta contra o Bolsonaro desde já nas ruas e não esperar até as eleições de 2022 – como apostam Lula e o setor conciliador do PSOL; além disso, este bloco sustenta que, para o caso eleitoral, é fundamental garantir sua própria candidatura com base em um programa anticapitalista (ou uma frente anticapitalista, conforme o caso).

As 52 teses do bloco estão contidas no documento Por um PSOL de luta, radical e pela base, que foram assinadas por nove correntes de esquerda e cerca de mil membros do partido. Não podemos detalhar todo o seu conteúdo, mas nos limitamos a citar três teses que refletem sua posição crítica em relação à política de conciliação de classes promovida pela maioria do partido:

46. (…) O giro à direita da maioria da liderança torna o cenário mais sério. Olhando para as eleições de 2022, a liderança do partido está se movendo assustadoramente no sentido de formar uma aliança nacional com o PT, para além da “centro-esquerda”, renunciando a sua própria candidatura no primeiro turno. O PSOL não formará coalizões com esses partidos. Somos contra a Frente Ampla que a liderança majoritária defende, ou a Frente Amplíssima que busca Marcelo Freixo.”

“50. A constituição de  frentes eleitorais está ligada à formação de frentes políticas para a luta pelo poder. É, portanto, diferente da unidade de ação ou frente de luta, que tem um caráter pontual e, na maioria das vezes, defensivo. Por essa razão, apoiar uma frente eleitoral de conciliação de classe como Lula e o PT propõe, e como a maioria da direção pretende, é renunciar ao programa, comprometer-se com um possível governo e destruir-se como uma alternativa política.”

“51. O PSOL deve construir uma Frente Classista e Anticapitalista, que esteja nas lutas e construa uma verdadeira alternativa política e programática de esquerda e socialista, expressando um projeto de independência de classe.”

Apesar de todas essas informações estarem disponíveis em nosso portal Esquerda Web, o PTS ignora o conteúdo das teses do bloco e, numa demonstração de total desonestidade política, nos associam às posições do MES e de Luiza Erundina (que nem sequer subscreveram as teses e nem sequer mencionaram o Bloco!), que defendem uma candidatura PSOL própria, mas sem apresentar nenhum critério de estratégia revolucionária a esse respeito. A intenção disto é clara: sujar a imagem do SoB associando-o ao histórico oportunista do MES e ao passado de Erundina na chefia do governo de São Paulo, incluindo a repressão às greves dos trabalhadores.

Isso não é por acaso, porque para o PTS não há uma única corrente revolucionária dentro do PSOL, porque todas elas capitularam oportunisticamente à conciliação de classes. É um relato fantasioso, onde apenas o MRT poderia se constituir tendência interna do PSOL e ser revolucionário ao mesmo tempo, enquanto o resto das correntes que desenvolveram esta tática são acusadas de oportunistas. Um raciocínio típico de uma seita stalinista que se acredita ser a única corrente trotskista revolucionária do planeta Terra!

Sobre as candidaturas e outras histórias

Eles fazem algo semelhante com o apoio do bloco à pré-candidatura presidencial de Glauber Braga – atual deputado federal do PSOL-, que o PTS rejeita, alegando sua história antes de se juntar ao partido em 2015, pelo qual, sentenciam, que o Nuevo MAS (NT.: partido irmão argentino) e a corrente SoB são contra a independência de classe no Brasil.

Comecemos por ressaltar que, toda corrente ou figura com a qual se conjuga em um acordo, tem infalivelmente uma trajetória anterior, o que não implica assumi-la ou defendê-la. Argumentar o contrário é sintomático de uma “escola política” muito ruim, pois denota uma lógica de seita incapaz de construir qualquer tipo de hegemonia no marco da luta de tendências.

Por outro lado, é falso que apresentemos Braga como uma figura revolucionária ou algo parecido; no máximo, destacamos como progressivo que um deputado federal assuma a pré-candidatura do PSOL subscrevendo um programa anticapitalista e orientado para a formação de uma frente esquerda sem patrões, o que é um passo tático vital para enfrentar a deriva frentepopulista da maioria da liderança do partido e seu desejo de formar uma frente ampla com Lula à frente. Isto é expresso com total clareza na tese cinqüenta e dois do manifesto do bloco:

52. Portanto, o lançamento de uma pré-candidatura para presidente do PSOL, dedicada à tarefa política central de derrotar Bolsonaro, organizando uma frente política de esquerda para promover as lutas e construir um programa radical e anticapitalista, é uma ferramenta fundamental para a qual o camarada Glauber Braga está disponibilizando seu nome e expressa um acordo unitário  com um amplo setor do partido que, para além das diferenças, está disposto a lutar pela independência de classe e pelo programa fundacional do Partido Socialismo e Liberdade. O Bloco da Esquerda Radical coloca todas as suas forças militantes a serviço desta pré-candidatura e convidamos toda a militância a fortalecer esta luta.

Esta tese é clara sobre o alcance da candidatura de Braga na situação atual, cujo principal valor, insistimos, está em assumir um programa anticapitalista e impulsionar uma frente de esquerda classista, o que, caso se materialize, implicaria numa derrota das tendências que se propõem formar uma frente ampla com Lula e, mais importante ainda, garantiria que o PSOL continue no campo da independência de classe.

Mas o PTS perde isso de vista e, ao invés de analisar objetivamente o que há no fundo da luta interna do PSOL, eles optam por acomodar a realidade aos caprichos de uma seita marginalizada dessa batalha, em face da qual apelam para todo tipo de manobras para jogar lixo em nós. Eles até nos acusam de sermos vigaristas por apoiar a pré-candidatura de Braga, argumentando que em seu manifesto não há nenhuma referência explícita contra a trégua imposta pelas lideranças petistas que controlam os sindicatos e movimentos sociais na conjuntura atual.

Esta última é verdade, mas também é verdade que, no manifesto em questão, há um “forte apelo à mobilização popular” para fortalecer “a organização da classe trabalhadora na superação da exploração capitalista“; também afirma que, para derrotar Bolsonaro, a “esquerda, e especialmente o PSOL, deve usar todo seu peso para promover mobilizações e apoiar ativamente greves e protestos, chamando e fazendo parte dos processos de luta e lutando para unificar os calendários em um dia nacional“. Estas são as posições de uma candidatura que é contra a independência de classe? Claro que não, mas o PTS esconde as atuais posições de Braga (que, além de seus limites, são progressivas), a fim de confundir seus leitores com seu histórico anterior[4].

Por outro lado, se o PTS quer saber a posição específica de SoB em relação às lideranças lulo petistas, os convidamos a assistir ao vídeo com a intervenção de nosso camarada Renato Assad no comício de 29 de maio passado em São Paulo, onde, diante de milhares de pessoas, ele criticou essas lideranças por não se mobilizarem para derrotar Bolsonaro e chamou a construir um calendário nacional de luta.

A prática de padrões duplos sem princípios

Finalmente, vamos nos ater a acusação sobre a participação de SoB nas eleições municipais de Santo André em 2020, onde o PSOL  acordou uma coalizão com o partido Rede, uma formação de centro-direita que apoiou o impeachment reacionário da Dilma. Esta aliança surgiu depois de uma votação da base local do partido que, como resultado da pressão para construir “frentes eleitorais antifascistas” para enfrentar o bolsonarismo, aprovou a tática eleitoral por uma diferença de apenas alguns votos: 56 a favor e 46 contra (desde SoB fizemos uma campanha aberta, chamamos a votar contra e denunciamos esta política). Contraditoriamente, nessa mesma votação, o PSOL escolheu Rosi Santos (camarada do SoB) como candidata a vice-prefeito, em que obteve 71 votos a favor (de um total de 103), garantindo um perfil socialista e feminista, além de uma campanha militante eficaz nas ruas que impactou toda a base do partido.

Por que mantivemos nossa presença nas urnas se a aliança com a Rede também foi aprovada? Primeiro, porque não implicava a participação da Rede na lista majoritária (para cargos executivos), que foi liderada por Bruno Daniel e secundada por nossa camarada Rosi, ambos militantes do PSOL. Em segundo lugar, porque a lei eleitoral não permite alianças proporcionais para os candidatos na cédula dos vereadores (onde não tínhamos candidatos SoB), de modo que, para fins práticos, a participação da Rede nesta cédula foi extremamente minoritária e abaixo das candidaturas do PSOL, de modo que não determinou o programa e o perfil da campanha em Santo André.

Por tudo isso, avaliamos que, taticamente, o melhor era sustentar nossa candidatura para disputar o espaço político com as tendências oportunistas do PSOL na região, além de dialogar com as fileiras do partido sobre a importância da independência de classe ao formar frentes eleitorais e realizar uma campanha militante no meio da pandemia, que foi levada a cabo de forma satisfatória. Este posicionamento nos permitiu acumular experiência e fazer avançar o debate em andamento dentro do partido para as eleições de 2022. Nosso método se baseia no entendimento de que há batalhas políticas a serem travadas e, portanto, os processos não estão fechados nem predestinados com antecedência, embora o cuidado em relação à independência de classe determine uma linha vermelha de primeira ordem.

Ao contrário, o MRT retirou sua candidatura da lista de vereadores (concedida democraticamente pelo PSOL), em vez de utilizá-la para criticar a posição votada a respeito da Rede e desenvolver uma campanha com um programa socialista. Foi uma orientação sectária que não estabeleceu nenhum diálogo com as bases socialistas do PSOL e com a vanguarda como um todo; algo pensado apenas como uma manobra contra os outros.

Agora eles se apoiam nisso para nos atacar por apoiar a candidatura de Rosi Santos, mas, como é costume com o PTS, é uma acusação de duplo padrão stalinista, pois seu grupo na França – chamado CCR – fazia parte da lista Bordeaux en Luttes, encabeçada por Philippe Poutou – ex-candidato à presidente do NPA – junto com La France Insoumise, um partido burguês que ocupou o segundo lugar. Neste caso, o PTS manteve sua presença em uma chapa com elementos populistas, onde ocupou a sexta posição e, mostrando uma total falta de vergonha, acusam o SoB de capitular à conciliação de classes por “apoiar” a lista em Bordeaux, quando na verdade fomos críticos da frente desde o primeiro momento e estabelecemos que sua evolução estava aberta[5].

O acima exposto denota a lógica do duplo padrão sem princípios empregado pelo PTS: por um lado, ele usa critérios ultra-principistas e sectários para atacar o resto das correntes; por outro lado, é oportunista na aplicação de seus padrões quando se trata de sua própria intervenção nos processos. Faça como eu digo, mas não como eu faço! É a isso que se resume o “principismo esquerdista” do PTS, por isso sua polêmica nos lembra o velho adágio popular: Quem cospe para o alto, na cara lhe cai[6]!

Por um PSOL anticapitalista e com independência de classe

A contínua disputa dentro do PSOL é de suma importância para a esquerda, pois há uma tentativa da maioria da direção de refundar o partido pela direita, distanciando-o do projeto original de ser uma alternativa com independência de classe e superando a estratégia do PT de conciliação de classes. É uma luta aberta e, enquanto não for resolvida, não é correto fechar qualquer caracterização sobre o futuro do partido. Neste contexto, a tarefa que assumimos desde Socialismo ou Barbárie no Brasil é a de participar plenamente da batalha para manter o PSOL dentro do campo da independência de classe, para a qual é necessário derrotar o avanço frente-populista que a maioria do partido está promovendo em aliança com a tendência de Boulos e Resistência[7].

Nesse sentido, a caracterização liquidacionista do PTS neste momento é sectária, o que nada mais é do que uma manobra por estarem marginalizados do PSOL e, por extensão, assistir “à margem” um dos debates mais importantes da esquerda brasileira nos últimos anos. Seu comportamento de seita os impede de compreender a transcendência da luta em curso dentro do PSOL, para a qual poderiam contribuir saudavelmente de fora para apoiar as posturas classistas das correntes da esquerda radical, seus ataques contra nossa intervenção no partido são infundados e, pior ainda, recorrem a mentiras para construir uma história onde se colocam como a quintessência  do “ser revolucionário”.

Por outro lado, a campanha de ataques que o PTS nos dedica é uma resposta sectária e fatalista, fora da experiência da luta de classes e da vanguarda, que se explica pelo crescimento e fortalecimento de nossa corrente internacional, que eles não podem ignorar e que gera uma pressão real sobre eles. Isso é notável na França, onde, após muito esforço e paciência, estamos dando importantes passos construtivos para estabelecer o SoB em um dos centros históricos do movimento trotskista; algo semelhante podemos aduzir do Brasil, onde nossa corrente conquista reconhecimento por sua coerência e intervenção classista dentro do PSOL por causa de sua independência; sem mencionar a experiência do Nuevo MAS na Argentina, onde a luta direta de nosso partido com o PTS em todas as frentes pela hegemonia dentro da esquerda é cada vez mais evidente, algo que vem de nossa recusa em nos submeter à cooperativa eleitoral oportunista da FIT-U e de reivindicar nosso direito de nos construirmos como uma corrente com nossa própria identidade.

Notas:

1] A polêmica do PTS está nesta nota: La izquierda argentina y la adaptación a la conciliación de clases en el terreno internacional

2] Um dos erros cometidos pelo PSTU, por outro lado, é não ter visto esta perspectiva; ter tido uma abordagem sectária ridícula quando o PSOL foi formado.

3]Deve-se anotar que o grupo Resistência, uma ruptura do PSTU, está completando um sério giro à direita com esta orientação. Veremos se seguem esse curso oportunista ou o corrigem de acordo com o desenvolvimento da luta de classes no próximo período.

4]Se reclamam de Braga, o que podemos dizer sobre o acordo fechado hoje do PTS com o MST na Argentina, uma corrente que não tem claro um critério mínimo de independência de classe e que tem em seu histórico dos últimos 20 anos acordos com as mais diversas figuras burguesas, além de ter apoiado as patronais agrárias?

5] A este respeito, sugerimos a leitura de El método de la calumnia como “política internacional”, onde polemizamos com as acusações do PTS contra o SoB a respeito de nossa intervenção no NPA.

6]A lógica dos dois pesos e duas medidas, quando a militância é educada para que, a qualquer momento, ela termine em uma brutal virada à direita, pois tudo vale quando se trata da própria seita.

7]Em relação às posições da Resistência no PSOL, remetemos ao nosso artigo Debate com Valerio Arcary, de Resistência-PSOL.

Publicado originalmente em http://izquierdaweb.com/debate-en-brasil-el-metodo-de-la-amalgama/

Tradução: José Roberto Silva