PSOL de Santo André referenda chapa Bruno Daniel e Rosi Santos e chapa de vereadores/as

Um intenso processo por participação da base nas decisões, independência dos patrões e da burocracia e por protagonismo dos explorados e oprimidos tomou conta do PSOL em Santo André

Reprodução da Comunicação da campanha

A partir da Convenção Partidária do último domingo, estamos com uma chapa completa para o cargo majoritário e para vereadores. Esse foi um processo vitorioso da base do partido que garantiu a sua participação direta na composição da chapa majoritária e na política de coligação. Agora trata-se de ir com Bruno, Rosi e a chapa de vereadores/as com um programa anticapitalista para realizar uma campanha militante e ligada às lutas.

ANTONIO SOLER 

Após essa decisão, o partido será representado nas eleições municipais com Bruno Daniel como pré-candidato a prefeito e Rosi Santos pré-candidata a vice-prefeita e mais uma chapa proporcional de 20 pré-candidatos/as a vereadores/as.

Antes da referida Convenção (06/09) houve uma consulta interna (05/09) sobre quem seria a candidata a vice-prefeita e sobre a política de coligação que contou com a participação de 103 filiados. Número expressivo e que representa o dinamismo do partido em Santo André, tendo em vista que a pandemia se acelerou nas últimas semanas na região do ABC devido à política generalizada de afrouxamento das medidas de isolamento social.

A base partidária impôs sua presença no processo decisório

Como ocorreu em vários outros municípios, a posição da maioria da direção do partido era a de que toda a linha para as eleições fosse definida nos estritos limites do Diretório Municipal. Mas, uma rebelião da base do partido acabou por garantir o direito de decisão direta sobre estes dois temas: 1) Qual era o melhor nome para pré-candidatura à vice-prefeita e 2) Coligar ou não com a Rede Sustentabilidade nas eleições.

Essa consulta direta sobre tais temas foi uma conquista da base e se impôs  
à atual direção do partido que é resultado do Congresso passado. Direção que seria renovada em março desse ano, mas por conta da pandemia, o Congresso foi suspenso e os mandatos prorrogados até 2021. Portanto, estamos diante de direções municipais defasadas em sua representatividade em todo o país.

Além de ser uma garantia estatutária dos filiados e militantes, o crescimento quantitativo e o aumento da diversidade fez crescer no interior do partido o debate sobre os seus rumos, o que exige também maior participação da sua base também nas decisões políticas centrais expressadas nessa consulta do dia 05/09.

A concorrência para o posto de pré-candidata a vice-prefeita na chapa majoritária também reflete a disputa dos rumos políticos do partido em torno de vários temas: estratégia de construção partidária, peso dado à questão da luta feminista e perfil de campanha.

O que é, por fim, muito importante não apenas por razões estatutárias, mas porque a consulta direta é uma forma de aprofundar a discussão interna, elevar o nível de politização e dirigir o partido para as reais necessidades da luta da política socialista na luta de classes.

A batalha pela independência de classe 

Sobre a  política de alianças, especificamente em Santo André, coligar ou não com a Rede, é um tema que diz respeito à relação do PSOL com partidos que não são do campo da classe trabalhadora, por um lado, e de como encarar a questão da unidade de ação, das frentes de luta e das frentes políticas, por outro.

No PSOL há uma confusão quase que generalizada em relação a qual tática utilizar nos processos eleitorais. É fundamental notar que “unidade de ação”  fazemos com todos que lutam contra uma determinada força, contra Bolsonaro, por exemplo, quando podemos construir ações práticas com um leque amplo de forças políticas.

Já as frentes de luta (ofensivas ou defensivas) fazemos com as diversas organizações de massa dos trabalhadores e oprimidos, que podem ser os sindicatos, movimentos, centrais ou frentes construídas em determinada conjuntura. Em qualquer uma destas táticas, há que se garantir a total liberdade de crítica em relação às manobras, desvios ou traições das burocracias que dirigem estas frentes.

Tática bem distinta é a da frente político-eleitoral. Nessa cabem acordos eleitorais com partidos da nossa classe, mesmo que sejam reformistas, mas nunca, em nenhuma hipótese, podemos nos aliar em uma frente política com partidos que representam os interesses da classe dominante, tal qual tem sido o caminho político do PT.

Comprometer-se com alianças com essas agremiações é desastroso, pois além de sinalizar às massas contra a independência de classes, essas alianças levam a governos diretamente burgueses que administram contra os trabalhadores e que, invariavelmente, reprimem as lutas dos trabalhadores e mobilizações populares.

O que, além de destruir a reputação da organização em questão e cancelar sua possibilidade de representar autenticamente a classe trabalhadora, causa um efeito desmobilizador e de retrocesso da consciência de classes, dando lugar ao crescimento da direta/extrema direita, como visto no fenômeno recente da ascensão de Bolsonaro.

Voltando ao tema da proposta de coligação com a Rede em Santo André, para nós o mais importante é que este partido não está dentro do bloco de partidos que representam os interesses da classe trabalhadora e dos oprimidos – um partido socialista por sua base, programa e direção.

Ou seja, uma organização que se coloca no campo da luta anticapitalista, que tenha base trabalhadora e dos setores mais explorados e oprimidos e que seja composto por uma direção comprometida com o projeto de transformações socialistas da realidade.

Ao contrário disso, a Rede é um partido que se coloca na centro-direita do espectro político nacional, que pertence aos partidos da classe dominante, de corte neoliberal e que se coloca do lado dos patrões em seus ataques aos nossos direitos.

Apesar de levar o nome de Rede Sustentabilidade, a única sustentabilidade real que defende essa rede é o da exploração e dominação das classes possuintes. Apoiou o impeachment em 2016 e votou a favor da contrarreforma da Previdência Social em 2019.

Do ponto de vista da sua política de alianças, em 2014, Marina Silva, principal expoente da legenda, após declarar apoio a Aécio Neves (PSDB), beijou (literalmente) a mão do tucano. Do ponto de vista nacional, Marina esteve à frente das alianças com DEM, PSDB e MDB e afirmou que a Rede não é “nem de esquerda nem de direita” (sic).

Em 2016 a Rede apoiou Paulo Serra (PSDB) em Santo André e, inclusive, fez parte do seu governo. Por sua vez, Serra apoiou Bolsonaro, coloca-se na defesa deste governo negacionista de extrema direita e governa, obviamente, de acordo com os interesses da patronal.

Basta ver a privatização do SEMASA (empresa municipal de saneamento básico) levada por este governo e a política de abertura da economia, que acelera o número de mortes em Santo André (7 por dia) pela Covid-19, só para ficar nestes dois exemplos.

Entendemos que o avanço da extrema direita no Brasil se deu não apenas pela crise econômica e ofensiva da direita, mas também, porque a esquerda traiu sua base social ao suspender a mobilização de rua, governar para atender os interesses do grande empresariado, não avançar nas reformas de base e trair programas e compromissos eleitorais e aliar-se a partidos da direita para garantir a eleição de Lula e Dilma.

O partido em questão está na luta de classes, que tende a ser cada vez mais dura no próximo períodos, no lado nos nossos inimigos, por mais que as vezes se posicione criticamente ao governo Bolsonaro. Neste sentido, a coligação com a Rede Sustentabilidade aponta na direção oposta a essa perspectiva de construção de uma candidatura enraizada nas demandas da maioria e na perspectiva de mobilização popular permanente para conquistá-las.

Por essa razão, junto com outros companheiros e tendências do partido em Santo André, chamamos nesse processo de escolha para votar NÃO à coligação com a Rede Sustentabilidade. Votação que ficou em 56 votos favoráveis e 46 votos contrários, portanto foi aprovada. O que, apesar de respeitar a decisão da base do partido, consideramos um sério equívoco político que tendências e importantes figuras públicas do PSOL na cidade tenham feito o chamado aos filiados e militantes a assumirem a posição favorável à coligação.

Em que pese que a Rede não participará da chapa majoritária, essa coligação faz uma sinalização política totalmente errada numa conjuntura que precisamos fortalecer a independência de classes e, como demonstrou o resultado da consulta, divide o partido em uma eleição na qual temos oportunidades eleitorais e responsabilidade política não apenas com a eleição, mas principalmente com a luta direta contra o bolsonarismo e todos os ataques aos nossos direitos políticos, econômicos e sociais.

Assim, apesar dessa votação, para combater a direita e a extrema direita em Santo André e fazer uma campanha de esquerda, socialista e militante, vamos ser parte dos setores que irão apresentar sem medo o nosso programa de transformações radicais e realizar uma campanha movimento em Santo André, que não dê espaço político para programas, linhas políticas, métodos ou práticas contrárias aos interesses das maiorias exploradas e oprimidas da cidade.

A vice é jovem, socialista e feminista

Em relação à pré-candidatura à vice-prefeita, tivemos uma disputa dentro da base do PSOL que contou com 3 candidatas pertencentes da base partidária. fazendo com que o resultado da composição da chapa majoritária, independentemente de qual companheira fosse escolhida, estivesse dentro dos limites da independência de classes.

Além do consenso com o nome de Bruno Daniel para candidato a prefeito, era muito forte a opinião no interior do partido que o posto de candidata a vice-prefeita deveria ser ocupado por uma companheira do PSOL, o que acabou se confirmando no final do processo.

A questão que se colocou então foi sobre qual das três postulantes (Rosi Santos, Ubimara Ding e Roseli Queródia) iria conformar a chapa com Daniel. Queródia foi substituída na última semana antes da votação por Tatiana Land.

Todas são companheiras que representam a ascensão das mulheres na política internacional e sua força no interior do partido. Porém, por sua trajetória no interior do PSOL, desde a sua fundação (Rosi participou ativamente da formação do primeiro núcleo do PSOL do ABC), com o objetivo de construir um partido independente dos patrões e das burocracias, a serviço da luta política direta de amplas camadas e com um regime democrático que envolva realmente a base partidária.

Protagonizou nas lutas estudantis em defesa da universidade pública e gratuita e seu engajamento na luta feminista socialista internacional nas ruas em defesa das pautas mais sentidas das mulheres, fez com que a maior parte do partido confluísse em torno do nome de Rosi Santos –  escolhida  com 71 dos 103 votos para compor a chapa majoritária como vice-prefeita.

Rosi Santos agora é a pré-candidata a vice-prefeita escolhida pelo partido como um todo, mas que compreende que as transformações que queremos implementar na cidade a partir dos nossos eixos programáticos – 1) redução das desigualdades; 2) aprimoramento da democracia participativa e representativa; 3) desenvolvimento econômico e socioambiental – apenas serão possíveis se apresentarmos nossas candidaturas e nosso plano de governo a partir de uma campanha militante, que ocupe as ruas permanentemente – com medidas sanitárias – e que se refira diretamente aos trabalhadores/as, mulheres, negros/as e de todos/as explorados/as e oprimidos/as e suas necessidades.

Em um cenário de prolongada depressão econômica e de luta contra as forças reacionárias em Santo André, sem um programa de transformações profundas, campanha militante e apoio popular dos trabalhadores e oprimidos não será possível vencer a direita no poder e fazer, se eleito, um governo de fato alternativo.

Esse é o nosso compromisso!