Conselho de Ética da Alesp “acocha” novamente todas as mulheres em decisão sobre assédio sexual

O que a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e o seu Conselho de Ética (sic) fizeram nesta sexta-feira (5) contra a deputada Isa Penna foi um novo crime que deve ser repudiado pelo conjunto do movimento de mulheres, pelo movimento social e pela esquerda como um todo e demonstra que só a unidade do movimento de mulheres nas ruas pode combater todas as formas de violência contra as mulheres.  

Rosi SantosVermelhass

Machismo estrutural

Assediada no Plenário Alesp por Fernando Cury (Cidadania) em 16 de dezembro, a deputada Isa Penna vinha lutando pela cassação do mandato do parlamentar por importunação sexual, simplificando: se tratou do famoso acochamento por trás conhecido pela imensa maioria de mulheres que já sofreram assédio, só que dessa vez o crime foi gravada pelas câmeras do própio recinto durante uma sessão.  Mas, a decisão de Conselho de Ética foi de apenas afastar o deputado por 119 dias mantendo todo o subsídio de seu gabinete.

Sem dúvidas, esse não é o gesto que milhares de mulheres ansiavam. Principalmente considerando que essa votação ocorreu faltando apenas dois dias para o 8 de março, data em que todas as mulheres reivindicam como de luta por direitos e contra a toda forma de violência de gênero.

O Brasil de Bolsonaro está cada vez mais descaradamente misógino, e as instituições do Estado cada vez mais contaminadas pelo machismo estrutural. Por apenas um voto, todas as evidências da agressão sofrida por Isa Penna: a sua palavra de mulher, seu evidente abalo emocional, as imagens do ocorrido, declarações e o próprio comportamento institucional duvidoso e declarações violentas contra o direito das trans e travestis do parlamentar não tiveram peso algum diante da “palavra” de Cury, parlamentar homem.

O machismo também simbolicamente se perpetua

Essa foi e é uma vergonhosa decisão da Alesp, pois tenta dissimular um ataque ao direito de uma mulher ter seu corpo e sua ocupação respeitados, e ainda te uma violência sexual ser tida com um gesto comum. Quando o que se vê claramente nas imagens e constatado em depoimentos é que houve uma violação da intimidade da parlamentar e não um simples “cumprimento” entre pessoas que trabalham no mesmo espaço.

Se houvesse alguma sensibilidade institucional com a violência de gênero – cerca de 98% das mulheres sofrem por parte dessas matilhas misóginas que polarizam os espaços de poder – o deputado Cury sendo comprovadamente um assediador e costumeiro transfóbico, seria obrigado a retratar-se, ser expulso do cargo público e detido.

Tudo isso tem um efeito simbólico importante, pois dá um péssimo sinal para uma sociedade já tão violenta contra as mulheres, como é a nossa. E claro, já sabemos o completo abandono no qual se encontra as mulheres trabalhadoras. Se diante de tantas evidências, a denúncia de Isa Penna foi desconsiderada, imaginemos como tal sentença impacta a realidade de mulheres que sofrem assédio no trabalho ou diariamente no transporte público, por exemplo.

Lutar contra as instituições machistas nesse 8M

Por um lado, a indignação diante de casos assim é evidente, por outro, confirma o que o Movimento Feminista vem falando a cada jornada de luta e diante de casos de impunidade machista nesse país: não há nenhuma intenção dos de cima em disciplinar os seus pares. E foi por isso que a Alesp “passou pano” novamente para seu colega masculino em detrimento de uma parlamentar mulher eleita que tem entre seu programa a defesa da dignidade e direito das mulheres, trans e tavestis.

Deputada Isa Penna fala sobre assédio sexual na Alesp, ao | EXPRESSO CNN

A luta contra a misoginia estrutural, contra o feminicídio, contra a violência sexual sofrida pelas mulheres e por seus direitos reprodutivos, como é o caso da legalização do aborto, só podem ser conquistados pela luta direta das mulheres nas ruas e em todos os espaços públicos.

Assim, é fundamental lutar por um 8 de Março combativo que torne visível todas as formas de exploração e opressão contra as mulheres no governo Bolsonaro e sua fake ministra Damares Alves. A saída para as mulheres é na luta por baixo, pela base e ombro a ombro com as suas e a classe trabalhadora, é aí que somos de fato ouvidas!

Basta de misoginia, feminicídios e assédio sexual!

Lutemos também pela legalização do aborto público e gratuito!

Lockdown nacional já! Vacina para todos, renda mínima e Fora Bolsonaro já!

Não se isole se organize, lute com as Vermelhass

1 COMENTÁRIO

  1. Se um deputado estadual pode agarrar e bolinar uma deputada estadual no ensaio da Assembléia, na frente de câmeras, dizer que foi brincadeira e sair livre, então que mulher está livre disso e em que lugar do mundo? Pena que ela não tinha um aparelho de choque elétrico desses pra usar nele na hora… Mas ainda era capaz de ser condenada se o usasse. E, companheiros,
    as redações precisam aprender a botar a cara dos abusadores e não das vítimas ilustrando esse tipo de reportagem. Quem tem que ficar famoso na rede são os culpados, não os inocentes.