Martin Camacho e Heloisa Aguiar

A destruição da Amazônia e os seus efeitos colaterais são resultados das ações e dos discursos neoliberais. O capitalismo mostra os efeitos da barbárie no céu de São Paulo

“Tratores derrubando a Amazônia,
Camada de Ozônio, ferida sangrando
Matança, egoísmo em massa
É uma emergência!!!
É uma emergência!!!”
(Cólera, 2014)

O sexto álbum da banda de punk rock brasileira Cólera, lançando em 2014, já denunciava e alertava a população sobre o desmatamento da Amazônia. Na música “Deixe a Terra em Paz”, o vocalista Redson Pozzi gritava “é uma emergência!” e pedia “Já! Salve a Terra Já!”. Não só a banda alertava, mas ONGs, IBAMA, ambientalistas, indígenas e comunidades quilombolas. Há anos, a Amazônia está sendo destruída sistematicamente e, no dia 19 de agosto, os efeitos colaterais foram vistos não só pelos paulistas, mas pelo mundo inteiro. As fumaças das queimadas chegaram no centro financeiro do Brasil. Em São Paulo, o dia virou noite!

A destruição começou silenciosamente. Desmatamento das árvores, garimpo ilegal, grileiros, expansão do agronegócio, extermínio da população indígena e, por último, as queimadas- que é a fase final do aniquilamento do bioma. Todas essas etapas, exceto o fogo, são ocultas na imensidão da floresta. Não chegam na maioria dos casos à mídia tradicional e nem tem um impacto internacional. Entretanto, são correlacionadas e influenciam para colapso ambiental. O que aconteceu na cidade paulistana é um alerta até “para quem não é sensível ao tema”, como afirmou o engenheiro florestal Eraldo Matricardi na BBC News.


Banda Cólera, grupo punk paulistano foi formado em 1979, uma das primeiras bandas brasileiras do gênero. No centro o vocalista Redson Pozzi morto em 2011, já anunciava em suas letras: “é uma emergência!” “Já! Salve a Terra Já!”.

De acordo com estudo de uma equipe de pesquisadores da Universidade de Oklahoma, publicado na revista científica Nature Sustainability, a Amazônia perdeu cerca de 400 mil km² de área verde nos últimos 17 anos (de 2000 a 2017), que equivale mais de uma Alemanha em área de floresta.  A instituição americana declara que o resultado é mais que o dobro registrado pelo sistema de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Atualmente, as pesquisas estipulam que o número de focos de incêndio é maior do que registrado no ano passado. Desde que assumiu Jair Bolsonaro o governo, as queimadas aumentaram 88%. As regiões mais afetadas são Mato Grosso do Sul, Pará, Acre e Rondônia. Só no mês de junho foram desmatados 920,4 km². O descrédito pelas políticas ambientais, a nomeação de um ministro acusado pelo Ministério Público de fraudar processo do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê, a defesa da legalização do garimpo e os cortes financeiros do IBAMA colaboram com o agravamento do cenário. 

Além das ações adotadas durante o mandato presidencial, é importante lembrar que o capitão reformado foi eleito com uma agenda antiambiental e com discursos neoliberais, sendo favorável ao lobby do agronegócio e apoiando a liberação dos agrotóxicos. Com céu escurecido de São Paulo, Bolsonaro acusou que ONGs estariam envolvidas nos incêndios em resposta aos cortes de verbas.

“Pode estar havendo, não estou afirmando, ação criminosa desses ongueiros para exatamente chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o governo do Brasil. Essa é a guerra que nós enfrentamos. Vamos fazer o possível e o impossível para conter esse incêndio criminoso”, declarou ao jornal Folha de S. Paulo.

Sem provas, o presidente do Brasil desacatou entidades que têm tradição de luta em defesa da Amazônia e que arriscam todos os dias as suas vidas denunciando os invasores da floresta. Lembrando que o Brasil é considerado um dos países que mais matam ambientalistas. Segundo levantamento divulgado pela organização internacional Global Witness, pelo menos 207 ativistas foram mortos em 2017.

CAMPANHA INTERNACIONAL EM DEFESA DA AMAZÔNIA

Artistas brasileiros, youtubers e autoridades políticas publicaram fotos das queimadas e dos animais mortos nas redes sociais, evidenciando a preocupação nacional pela Amazônia. A hashtag #PrayforAmazonas chegou a ser a mais usada no mundo no início da tarde de quarta-feira (21). É notório que agora caiu a ficha de que a destruição em lugares distantes das metrópoles afeta drasticamente a temperatura, o ciclo da chuva e a qualidade do ar, ou seja, prejudica todos os habitantes da terra.

Outra coisa que foi detectada pelos satélites da NASA, é que na selva equatorial africana está acontecendo a mesma coisa. As queimadas são barbáries internacionais do capitalismo. Os efeitos do desmatamento foram notados também em Peru, Bolívia- nos departamentos de Santa Cruz e Beni- e na fronteira com Paraguai.  Se a selvageria não parar, é possível afirmar que as catástrofes apareceram de forma apocalíptica. Não só a floresta está em risco, mas a espécie humana, os animais e os recursos naturais que são úteis para a vida em sociedade.

Em diversas cidades já estão sendo convocadas manifestações contra o descaso do governo e em defesa da natureza. Convocamos todos para saírem as ruas e apoiamos a proposta de Campanha Internacional em Defesa da Amazônia. É preciso colocar na ordem do dia o grito de guerra fora Bolsonaro e sua política antiambiental. As reivindicações das redes sociais devem levantar ondas de protestos no mundo inteiro.

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