As chuvas que atingem a região sudeste e centro oeste do país podem ser o princípio de uma nova era na vida dos brasileiros. Os fenômenos climatológicos que provocam fortes tempestades vêm aumentando e causam preocupação na população. Por outro lado, fica notório para todos que as obras públicas prometidas pelos políticos em turno não amenizam os problemas de alagamento. A questão das enchentes não se limita aos projetos de reservatórios de água, mas engloba replanejamento da cidade e seriedade das discussões ambientais.

Esse ano o problema começou em Minas Gerais. A tempestade torrencial deixou mais de 50 mortos no estado mineiro por causa de deslizamento de terra. As casas precárias nos barros periféricos das grandes cidades são as primeiras a serem atingidas pelos efeitos de uma natureza em constante mudança e pelas ações inadequadas do governo. O cenário evidência que cada vez mais as cidades estão menos preparadas ou adaptadas para grandes volumes de água. O solo impermeável, as construções desenfreadas e mal planejadas fazem com que as cidades se tornam péssimos lugares para se viver, trabalhar e estudar.

Em São Paulo não foi diferente, a enchente dos rios Tietê e Pinheiros interromperam o livre trânsito das marginais. Os políticos e “especialistas” se justificam dizendo que essas chuvas foram acima do normal, todavia, faz anos que o investimento em prevenção vem diminuindo. A cidade tem 17 obras de drenagem pendentes. De acordo com reportagem do O Estado de São Paulo, a prefeitura deixou de gastar R$ 2,7 bilhões em obras contra enchentes nos últimos cinco anos. Um levantamento da Folha de São Paulo, em 2019, revelou que a cidade e o estado orçaram cerca de R$ 5,3 bilhões para ações relacionadas a drenagem, entretanto, gastaram apenas 41% do previsto

Por outro lado, as obras que foram utilizadas em campanhas eleitoras se tornaram falhas para a gravidade do problema. O Grande ABC é um ótimo exemplo de ineficiência do governo. Em São Bernardo do Campo, o ex-prefeito Luiz Marinho e o atual gestor da cidade Orlando Morando prometeram que o Piscinão do Paço iria acabar com as enchentes da região central do município. Em menos de seis meses da inauguração do tão esperado piscinão, moradores e comerciantes viram seus objetos de valor submersos em água poluídas na rua Marechal Deodoro e Avenida Brigadeiro Faria Lima, situados a 600 metros da famosa construção. A obra começou em 2013 e custou R$ 353 milhões.

Uma conta fácil de prever: a cidade de São Paulo cresce todos os anos e segue sem nenhum planejamento. De 1985 a 2018, a mancha urbana passou de 793,2 km² para 878,6 km² e o solo impermeável aumentou 11% em 33 anos. É de esperar que as áreas verdes diminuiria.  Em um país que queima a Amazônia é previsível que não seja de graça o desequilíbrio. “Todos os modelos de mudança climática mostram que vamos enfrentar cada vez mais eventos extremos ‘como a maior frequência de chuvas acima da média’. Vamos continuar crescendo e sem planejamento” relata o coordenador técnico de MapBiomas, Marcos Rosa.

Por que chove tanto?

Pesquisa realizadas por climatologos da Universidade de São Paulo já revelam que o conceito de padrão de chuva está mudando, especificamente no Sudeste do país. As alterações no meio ambiente repercutem no clima e o que era plausível de monitoramento está cada vez menos previsíveis. “Essas tendências estão se tornando mais dramáticas. Isso vai ficar mais frequente e pior. Onde chove muito, vai chover mais. Onde há seca, vai ficar mais seco. O governo e a população precisam entender o que está acontecendo com o clima para planejar e melhor se adaptar às mudanças”, disse Leila Maria Vespoli de Carvalho, professora associada no Departamento de Geografia da University of California.

É comum chover forte nos meses de janeiro, fevereiro ou março. O Brasil está entre duas zonas de convergência: a zona de convergência do Atlântico Sul (ZCAS) e as áreas de instabilidade da zona de convergência Intertropical (ZCIT). Apesar da localização geográfica, as tempestades quando passam mais de 50 mm em poucas horas ou 100 mm em 24h provocam o congestionamento das capitais mal planejadas. A questão é que as enchentes têm atrapalhado não só os trabalhadores e estudantes das cidades, mas também o fluxo do capital que tem como foco o conjunto de técnicas denominadas de Just in time (produção, circulação e compra “na hora certa”). A ideia que teoricamente era perfeita para o ritmo do capitalismo foi sucumbida pela própria gestão burguesa.