Uma poderosa greve que, apesar da política da direção majoritária do movimento, começa a furar o bloqueio midiático e ganhar apoio massivo, pode derrotar o governo e abrir uma nova conjuntura

ANTONIO SOLER

Nesta terça-feira (18), mesmo com decisão contrária do Tribunal Superior do Trabalho (TST), os petroleiros em nível nacional votaram pela manutenção do movimento grevista. 

Esse movimento, que já dura 20 dias, conta com a adesão de 21 mil trabalhadores e a paralisação total ou parcial de 120 unidades do Sistema Petrobras – essa é uma luta histórica da classe operária no Brasil.

O movimento nacional dos petroleiros se iniciou com a luta contra as demissões de mais de 700 trabalhadores na Fafen (PR), pelo cumprimento do Acordo Coletivo de Trabalho e contra o processo de privatização Petrobras.

Mas além dessa pauta específica, que por si só é de interesse nacional, o movimento tem um claro caráter político e sua vitória interesse a toda a classe trabalhadora.

Ao redobrar a aposta em sua luta, demonstram uma tremenda reserva de combatividade em defesa das suas reivindicações mais imediata, realizando uma verdadeira greve de cunho nacional, que se for vitoriosa pode causar uma significativa mudança na atual conjuntura reacionária em que vivemos.

Isso é assim porque esse movimento coloca ao mesmo tempo um limite à privatização total da Petrobras e, além disso, dá um basta na tentativa de aniquilação da organização sindical e da luta independente do conjunto da classe trabalhadora – duas políticas centrais do governo Bolsonaro.

A força da greve começa a se impor

Apesar da empresa, do governo e da mídia tentar negar, o efeito dessa greve sobre a extração e produção de derivados do petróleo é notório e já começa a ameaçar o fornecimento.

Por essa razão, nesta segunda-feira (17), o Ministro Ives Gandra da Silva Martins filho, do TST, declarou a greve dos petroleiros ilegal e abusiva e autorizou a Petrobras a tomar medidas administrativa contra os grevistas.

As decisões autoritárias e inconstitucionais do TST têm sido acompanhadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Foi assim com a decisão de garantir o trabalho em 90%, que permite à Petrobras impor planos de contingência em que os trabalhadores ficam confinados por dias e em condições que ameaçam a segurança e a vida dos trabalhadores.

Essas decisões devem ser amplamente repudiadas pela esquerda, pelos movimentos sociais e mesmo pelos que dizem defender os direitos democráticos – vão contra o direito de greve e de organização dos trabalhadores.

Mas sabemos que a justiça está do lado da classe dominante, principalmente quando a conjuntura se coloca mais a direita. Provavelmente, o STF também acompanhe mais essa decisão autoritária do TST, por isso, é necessário apostar todas as fichas no fortalecimento da luta direta dos petroleiros.

O movimento tem enfrentado a invisibilização da mídia de massas, corte dos salários, ameaças de demissão, a criminalização dos tribunais superiores de justiça e a política de isolamento da burocracia lulista.

No entanto, apesar da política da direção da CUT e do PT, a greve começa a furar o bloqueio e obter o apoio efetivo de outros setores em luta, de outras categorias e de figuras públicas de peso.

Os caminhoneiros autônomos, dirigidos pelo Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos (Sindicam), que se enfrentam com o governo pelo tabelamento do frete e contra a política de preços da Petrobras, declararam apoio aos petroleiros.

Nessa segunda-feira (17) realizaram uma série paralisações e protestos, prometem continuar a sua mobilização até o governo atender suas reivindicações.

Além disso, a força do movimento também está impondo à burocracia a realização de algumas ações centralizadas. Nessa terça-feira (18) foi realizada uma importante Marcha Nacional no Rio de Janeiro que contou com a presença de milhares de participantes.

Durante o ato, chegou a informação que o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Paraná havia suspendido até o dia 6 de março as demissões FAFEN, até que se realize uma nova audiência entre o sindicato e a empresa.

Essa é uma vitória parcial do movimento, mas sabemos que não podemos confiar na justiça aliada a classe dominante e que apenas a força da nossa luta pode impor uma vitória efetiva dos petroleiros.

Superar os entraves da direção

Essa é uma luta que se for vitoriosa tem o potencial de alterar a atual conjuntura reacionária que vivemos e de abrir o caminho para derrotar Bolsonaro, que já acumula uma série de desgastes.

A luta direita é o único caminho capaz de derrotar Bolsonaro e o rolo compressor de medidas ultrarreacionárias vindas desse governo e do Congresso Nacional.

Por essa razão, precisamos redobrar a solidariedade ao movimento, furar ainda mais o tampão da grande mídia, organizar atos em todas as capitais do país e grandes cidades, criar Comitês de Apoio à greve e construir um calendário unificado com as demais categorias que estão em luta, como os caminhoneiros autônomos.

Como já dissemos em outra nota, diante da possibilidade de impor uma derrota importante a esse governo, é defensável a posição da direção da CUT, do PT e de Lula diante dessa greve.

Até agora, os dirigentes das centrais não convocam atos massivos, não colocam a máquina sindical a serviço da luta e não articularam ações com as demais categorias que estão em luta, com vistas a desenvolver um grande polo de resistência ao governo.

Lula, por sua vez, agora livre, desaparece. Não fez nenhuma declaração em favor da greve e não apareceu em nenhum momento junto aos petroleiros. Dando continuidade assim à sua política traidora de deixar Bolsonaro governar até 2020.

Já a orientação do nosso partido (PSOL) deve ser cada vez mais oposta. Considerando que, uma greve que enfrenta um governo protofascista e que pode vencê-lo não acontece todos os dias, é necessário jogar todas as fichas nessa greve.

Por isso, nosso partido e a esquerda socialista, como um todo, não podem bater cabeça. Precisamos atuar em conjunto e incansavelmente na base e na superestrutura para exigir que a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e a CUT organizem ações unificadas de apoio a greve dos petroleiros.

Além disso, é necessário construir imediatamente Comitês de Apoio parar organizar ações de defesa, agitação e propaganda da greve dos petroleiros em todos os níveis.