Os dilemas da esquerda socialista no Brasil

O chamado para o debate acima está sendo organizado e convocado por setores do PSOL  que se colocaram na batalha contra a liquidação da independência de classe do partido e que estão dando uma enorme batalha pela reversão das decisões da direção nacional na Conferência Eleitoral que se realizará no dia 30/04 próximo.

Entendemos que a formalização de uma Federação com a Rede Sustentabilidade e a entrada na chapa Lula/Alckmin, destrói os fundamentos socialistas da formação do PSOL e a possibilidade de transformação em um instrumento político dos explorados e oprimidos capaz de fazer o enfrentamento real ao capital. Uma completa diluição dos princípios fundacionais do partido.

O mais lamentável é que tais decisões da direção (que sempre manteve uma postura eleitoralista, mas não havia ido tanto a direita até agora) está sendo acompanhada por tendências do marxismo revolucionário que, apoiados em elucubrações de verdadeiros contorcionistas, corroboram com a liquidação do PSOL.

De um lado o MES, de Luciana Genro, que defende a necessidade do PSOL ter um candidato a presidente no primeiro turno, para marcar uma posição anticapitalista, com seus votos, deu a vitória para a decisão de formação da federação com um partido burguês de centro por quatro anos. Estes companheiros sempre tiveram postura e política oportunista/economicista, que deriva mormente para a troca de uma política real de classe pela conquista de aparatos. É assim não só no Brasil. Porém foram muito longe dessa vez.

De outro, valorosos camaradas a quem sempre respeitamos e nos colocamos fraternalmente para o debate de nossas visões políticas, a Resistência (que em nome da independência de classe votou contra a federação), contraditoriamente entrega de bandeja a independência de classe ao decidir em conferência interna (ver artigo “Resistência: a triste decadência de uma organização revolucionária”) dar os seus votos pela entrada na chapa Lula/Alckmin, alegando dificuldades de enfrentamento de Bolsonaro nas ruas por conta da “baixa politização da classe” e, portanto, ao invés de tomar uma postura que ajude no avanço da consciência dos trabalhadores, se rende à essa despolitização e joga no chão anos de construção de um pensamento revolucionário e se enterra no pragmatismo e no objetivismo.

Apesar de vivermos o início de um século XXI marcado por rebeliões populares e manifestações de todos os tipos e campos questionando a democracia burguesa e levantando a necessidade de se apresentarem soluções contra o aumento da opressão e exploração capitalista, seguimos sofrendo com a falta de um real instrumento político da classe, que seja capaz de reerguer a perspectiva socialista junto aos trabalhadores. Claramente, os recuos e avanços da luta de classes fazem com que o giro a direita, com processos contraditórios mais a esquerda e outros à direita, seja parcialmente revertido fazendo com que o pêndulo político saia da extrema direita e vá mais ao centro.

Dentro deste cenário, cabe à esquerda revolucionária desenvolver táticas para levar a luta pelas ruas, única forma de derrotar o giro à extrema direita consolidado com a eleição de Bolsonaro em 2018. Ocorre que entrar em uma chapa Lula-Alckmin é uma tática que vai exatamente no sentido contrário de levar as lutas para as ruas, pois ao entrar nessa chapa de conciliação de classes, além de nos comprometermos politicamente com um futuro possível governo social-liberal de conciliação,  perdemos tática e estrategicamente a capacidade de desenvolver lutas nas bases de nossa classe e de fazer exigências e denuncias perante aos organismos de massas para que esses impulsionem a mobilização. Entrar na chapa Lula/Alckmin é um duplo crime, estratégico e tático.

Desse modo, chamamos a todos os companheiros que esperam ser atores no ascenso da classe trabalhadora na luta de classes no século XXI a participar do evento e contribuir com a construção de uma linha política e organizativa que dê conta do principal desafio hoje: mobilizar de forma independente para derrotar Bolsonaro e todos os ataques da classe dominante sobre os explorados e oprimidos e, mais estrategicamente, recriar caminhos para o horizonte da emancipação de trabalhadores, mulheres, negros e juventude.