Ao acompanhar a greve dos entregadores por aplicativos em Diadema, vemos um exemplo de combatividade que impulsiona novas mobilizações por todo o país. É fundamental que sindicatos, movimentos e organizações políticas de esquerda cubram essa luta de solidariedade.

ANTONIO SOLER

Ontem acompanhamos o terceiro dia de greve dos entregadores por aplicativos da cidade de Diadema (Grande São Paulo).

Como parte desta nova onda de mobilização da categoria, estes trabalhadores lutam por uma taxa de entrega de no mínimo R$ 10 por pedido; uma taxa de R$ 3 por km rodado; fim dos duplos e triplos pedidos; apólice de seguro; representação da base no processo de regulamentação da categoria.

Concentrados em frente ao shopping Praça das Moças (localizado no centro da cidade), estivemos no piquete de greve que conta em sua linha de frente com cerca de 50 motoboys, em sua maioria são jovens de 30 anos em média.

As  lideranças dos grevistas é formada por um grupo denominado Motocas do ABC.Durante a conversa, informaram que a adesão à greve é bastante alta –  contaria com cerca de 60%.- e que existe grande simpatia do conjunto da categoria pelo movimento.

Apesar de o Ifood – como é parte da prática antissindical dessa empresa e de outras plataformas – não ter aberto ainda nenhum canal de negociação com os grevistas, a mobilização permanece forte e está prevista para ir até a próxima segunda-feira.

Como todos sabem, essa é uma categoria superexploração, para que se possa ter uma renda equivalente a cerca de um salário mínimo é necessário trabalhar muitas horas por dia. Para piorar a situação, na cidade de Diadema não existe a chamada “taxa alta”, uma promoção que eleva a taxa mínima de entrega a R$10 e os trabalhadores não contam com nenhum sistema de seguridade social.

Conversamos com dois motoboys que são parte da mobilização e sofreram acidentes enquanto faziam entregas para o Ifood e não tiveram nenhuma assistência por parte da plataforma. Entre os grevistas que estavam presentes no piquete, o caso mais gritante é o do Ademir, ele é pai de família e motoboy há 3 anos. Ele teve a perna fraturada em vários lugares depois de uma colisão com um veículo cujo motorista não prestou socorro e desde então não pode trabalhar e não conta com nenhuma ajuda do aplicativo.

O outro entregador com o qual conversamos foi o Robson, ele sofreu um acidente há 2 anos enquanto estava em uma entrega para o Ifood.  Também não foi socorrido pelo motorista que o atingiu e, como se não bastasse, foi bloqueado pelo aplicativo logo após o acidente. Robson, que perdeu o movimento de um dos dedos, está até hoje sem nenhuma ajuda ou indenização da parte do Ifood.

Os valentes entregadores de Diadema não estão isolados, além do ato do dia 25 deste mês, hoje os trabalhadores por aplicativos de Itaquera (São Paulo) também estão em greve e amanhã está prevista a mobilização grevista dos entregadores das cidades de Americana, Sumaré, Nova Odessa e Campinas (São Paulo), além da Tijuca (Rio de Janeiro).

Democratizar o debate sobre a regulamentação da categoria

Como podemos ver com esses e milhares de outros relatos espalhados pelo país e pelo mundo, essa é uma categoria extremamente explorada e precarizada. Mas, é um setor da nova classe trabalhadora que tem cada vez um papel mais importante na produção e reprodução da vida social e que passa por um processo de organização, ampliação e radicalização da sua luta.

Por essa razão, em todas as partes está se discutindo o processo de regulamentação do trabalho desse setor. Como parte da luta para pressionar o novo governo a abrir um processo real de discussão em torno do tema da regulamentação da categoria, foi marcado um ato nacional para o dia 25 de janeiro.

Como é parte da prática de todo governo de conciliação de classes, e o lulismo é mestre nisso, ao invés de apoiar a mobilização, o Ministério do Trabalho do governo Lula fez gestões para que o ato fosse desmobilizado, o que infelizmente contou com o apoio de algumas lideranças dos entregadores, que tiveram a política de recuar sem consulta à base dos trabalhadores.

Mas um setor da liderança dos entregadores, do qual fazemos parte, corretamente manteve o ato no dia 25 de janeiro, pois compreende que não existe contradição nenhuma em negociar e mobilizar, muito ao contrário, só podemos obter mais conquistas, principalmente o fortalecimento da luta, quanto não descolamos a mobilização direta da negociação e aplicamos na prática a democracia de base. Manter o ato do dia 25 foi um grande acerto, pois essa linha empalmou a necessidade – e a vontade – de luta diante das terríveis condições de trabalho; enfim, foi acerto político que tem se refletido concretamente nessa nova onda de mobilizações.

Agora é fundamental dar todo apoio à greve dos entregadores de Diadema e a todas as demais lutas que estão se espalhando. São mobilizações que têm basicamente as mesmas demandas, que lutam pelo aumento das taxas de entregas, pelo fim dos pedidos duplos e triplos e por apólice de seguro. Além disso, o que mais totaliza a luta dos entregadores hoje é a regulamentação do trabalho dos entregadores por aplicativo. 

Para que os entregadores tenham conquistas reais com esse processo de regulamentação, é preciso combater toda e qualquer burocratização na formulação e encaminhamento da luta por sua aprovação. Em todo o país os entregadores devem participar diretamente da elaboração, discussão e da luta na base e em Brasília para que o projeto seja aprovado pelos/para os trabalhadores. Como lição histórica do movimento operário, afirmamos que sem democracia, participação e luta pela base não há conquista!