29M na Paulista

Publicamos a arguta análise de Ítalo de Aquino sobre a composição social e política do ato Fora Bolsonaro do dia 29 de Maio na Avenida Paulista, bem como as orientações políticas da esquerda que se colocam em disputa nessa nova conjuntura política nacional. De nossa parte, pensamos que é fundamental, como afirma Aquino, superar o controle burocrático do movimento e dialogar com as necessidades mais sentidas da nossa classe e dos oprimidos. Além disso, nós da tendência Socialismo ou Barbárie, desde o Movimento Esquerda Radical do PSOL, pensamos que é fundamental também nesse processo de ascensão que está sendo colocado, construir uma Frente de Esquerda Anticapitalista que em unidade de ação pelo Fora Bolsonaro dispute a direção do movimento para uma saída políticas através do Fora Bolsonaro e Mourão, Eleições Gerais e Assembleia Constituinte soberana e democrática.

Redação

ÍTALO DE AQUINO

Comparecemos ao ato na Paulista e apresentamos algumas impressões. Multidão. Essa palavra caracteriza e define o ato pelo fora Bolsonaro na Paulista. Só para se ter uma ideia, quando a manifestação se converteu em passeata, enquanto os primeiros estavam na Paulista com Consolação os últimos, no vão do MASP, esperaram 15 minutos para iniciar a caminhada. Contou com todos os elementos das manifestações multitudinárias: marchinhas carnavalescas de conteúdo político, pessoas fantasiadas, cartazes criativos e muitos, muitos jovens. De diferente apenas o uso de máscaras. Nenhuma intimidação com o vírus. A vida é luta. E luta se faz com riscos.

Algumas considerações políticas:

1. As direções majoritárias do movimento guinaram 180 graus em menos de um mês. Dia primeiro de maio todas as centrais sindicais da CUT, Força Sindical até CSP Conlutas e Intersindical convocaram atos virtuais. Em 29 de maio convocaram atos presenciais em todo o país pelo fora Bolsonaro. O que mudou? Presumimos que a única hipótese é a conclusão de que a passividade conduzirá à vitória (de Bolsonaro) em 22. Correta, porém em seu interior há interesses diversos. A esquerda liberal concluí que se jogar com a bola parada em 22 será derrotada. Não pode ficar esperando o resultado das urnas acreditando que Bolsonaro perderá apenas pelo desgaste midiático. Bolsonaro já sinalizou que irá mobilizar suas bases. De nossa parte os atos devem capitalizar o cenário de 15 milhões de desempregados, o alto custo da cesta básica, os 40 milhões ameaçados de passar fome, a expansão das milícias, os massacres que se ampliam (lembrem-se de Jacarezinho no Rio de Janeiro) e todos os desmandos do genocida Bolsonaro.

2. A implosão do “fique em casa” foi pelos ares pela primeira vez nos EUA por ocasião das revoltas contra o brutal assassinato de George Floyd por um policial em maio de 2020. Recentemente em inúmeras capitais da Europa milhares foram às ruas contra as provocações de Israel ao povo palestino, em Londres, sábado dia 22 de maio, estimou-se em mais de 100 mil pessoas presentes. No canto sul da América governos burgueses também enfrentam resistência. Ainda neste mês de maio de 21 as massas colombianas tomaram as ruas e impuseram um recuo ao reacionário governo de Ivan Duque. No Chile, com a eleição de inúmeros candidatos independentes, o processo constituinte será uma incógnita. E para surpresa geral, Iraci Hassler, uma jovem mulher de 30 anos militante do Partido Comunista do Chile dia 29 de junho tomará posse como prefeita da capital, Santiago do Chile. Para nós brasileiros é motivo de orgulho adicional dado seu parentesco materno com o Estado do Piauí

3. Chegou a vez do Brasil demonstrar sua resistência. Em particular de sua juventude não somente pela audácia, mas por estar livre das correntes de partidos e organizações sob controle burocrático. A esquerda liberal enxerga que, apesar da CPI poder concluir pela abertura de um processo de impeachment, uma votação no plenário do Congresso pode ser derrotada. Essa esquerda pretende de um lado manter o controle sobre o movimento e ao mesmo tempo ocupar as ruas para garantir a vitória eleitoral de Lula em aliança com as velhas oligarquias e frações do capital financeiro. Um dos objetivos pode ser arrastar os indecisos da burguesia e parcela substantiva do movimento social e popular para uma frente ampla e unificar sob um único ponto – derrotar Bolsonaro. Nessa frente ampla eleitoral não existe programa. Nos palanques as mentiras serão diversas. Serão apenas promessas eleitorais. Nesse cenário os partidos de esquerda satélites do PT, o PSOL e o PCdoB, estão se diluindo. O jornal O Globo, de 27 de maio de 2021, trouxe matéria informando que Manuela D’ávila e Flávio Dino ambos do PCdoB discutem filiação ao PSB e que Marcelo Freixo do PSOL também. O cálculo é exclusivamente eleitoral. Nessa progressão os dois partidos perderão seus parlamentares por questão de cargos nos executivos e parlamento. A frente ampla eleitoral encabeçada por Lula visa, desde já, eliminar qualquer possível oposição ao seu programa e eventual governo.

4. De nossa parte, entendemos que é necessário autonomia frente às articulações que pretendem acorrentar o movimento às eleições de 22. É fundamental que as manifestações rompam com a lógica institucional e progridam para uma política que imponha uma orientação de defesa do emprego, da educação, de um SUS 100% estatal, que se decrete uma moratória da dívida pública e que uma política classista oriente a intervenção na conjuntura. Em defesa da vida, fora Bolsonaro.