“O imperialismo é a antessala da revolução social do proletariado.” (Lênin).

Vivemos no cenário mundial a eclosão de uma nova totalidade política, econômica e social. Não estamos falando apenas de uma mudança conjuntural da correlação de forças entre as classes e destas com os estados nacionais e com o imperialismo, mas de uma transformação global que ganha contornos “epocais” – uma nova etapa da luta de classes a nível internacional. Assim, muito longe de estarmos vivendo o “fim da história”, o capitalismo e suas formações políticas trazem um conjunto de elementos que reconfiguram a etapa imperialista de crises, guerras, revoluções e contra revoluções.

Não se trata apenas da repetição do “longínquo” início do século XX, mas da incorporação de novos elementos de crise que marcam de forma estrutural a realidade, tais como: a crise econômica que se faz cada vez mais estrutural; a barbarização social com repercussões em toda a vida e a ascensão política da extrema direita em todo o mundo; a crise e crescente catástrofe climática que ameaça a existência em todo o planeta; o conflito crescente entre imperialismos (velhos e novos) que geram não apenas tensionamentos políticos, mas também conflitos armados.

Vivemos, também, a emergência de novos atores políticos da classe trabalhadora, da juventude, do movimento negro e de mulheres que, somada à polarização da luta de classes, recolocam as condições que não apenas realimentam as rebeliões populares e lutas de menor alcance, mas também condições objetivas para a abertura de processos revolucionários. Claro que para isso, o avanço da consciência política de classe através da construção de movimentos e partidos revolucionários, coloca-se como condição indispensável.

Sob este cenário temos que encarar a guerra na Ucrânia e na Palestina como, obviamente por se tratarem de conflitos armados, os dois pontos mais quentes da conjuntura mundial sem deixar de considerar toda a movimentação política de crescimento da extrema direita, do ultraliberalismo e da resistência dos explorados e oprimidos.

Hoje o centro política mundial passa pela luta contra esse novo momento da ocupação sionista da Palestina. Diferentemente de muitas correntes da esquerda, que desprezam a necessidade de combinar bandeiras imediatas com transicionais, é necessário defender a suspensão imediata dos bombardeios combinada com a luta por uma Palestina única, livre, democrática e socialista, pois a luta contra o Estado colonizador e racista de Israel e por garantias democráticas apenas tem potencial estratégico (histórico) se for combinada com a luta anticapitalista e socialista.

Na América Latina um dos terrenos mais importantes da política mundial, a partir da ascensão de Javier Milei, é a Argentina. A Argentina foi um dos centros do ciclo político mundial de rebeliões populares desde o início dos anos 2000, que com o argentinazo foi referência não só para a região, mas para todo o mundo, e hoje tem à frente um governo ultrarreacionário de extrema-direita. Governo que tem por objetivo impor retrocessos históricos – fim de conquistas econômicas, sociais e políticas e a imposição de um regime de viés autocrático – à classe trabalhadora e aos oprimidos. Porém, a correlação de forças na Argentina ainda está sendo testada e o desenlace do choque ainda está por ser escrito e, em que pese uma conjuntura abertamente reacionária, a resistência dos trabalhadores e da esquerda revolucionária nas ruas já impôs as primeiras e importantes derrotas a Milei.

A luta para derrotar o bolsonarismo e as contrarreformas devem ser pelas ruas

 Passando ao cenário nacional, precisamos partir do fato incontornável de que a derrota do neofascista Bolsonaro ocorreu apenas no campo eleitoral a partir de uma ampla aliança de classes através da chapa Lula-Alckmin, o que provocou apenas uma mudança parcial na difícil correlação de forças entre as classes no Brasil que herdamos desde a ofensiva reacionária aberta no ano de 2014/15. Bolsonaro e seu clã, neste último domingo (25) tiveram uma importante demonstração de força e resiliência da extrema-direita. Não se trata de um ato que possa mudar a atual conjuntura, contudo, subestimar a relevância político-social desse setor como faz a esquerda da ordem significa desarmar nossa classe para os enfrentamentos que termos pela frente.

Já o governo que sai da eleição de outubro de 2022, como não poderia ser diferente, é um governo burguês de conciliação de classes com intenções normalizadoras do regime: um governo liberal-social que combina a imposição de contrarreformas com medidas e conciliação de classes de baixo impacto nas condições de vidas das massas.

Vivemos uma situação política bem distinta dos governos Lula 1 e 2. Da mesma forma que no cenário mundial, o fenômeno do crescimento da extrema-direita a patamares de influência de massas em nosso país não tem se demonstrado passageiro. Reflete as crises estruturais que vivemos em vários âmbitos e é parte de uma nova etapa internacional. O que faz com que – além das contrarreformas levadas por Lula – haja uma ofensiva das forças mais reacionárias, como com o Marco Temporal e o novo e perigosíssimo Estatuto das Polícias Militares que unificou a bancada governista e da bala, assim como outros ataques que passam pelo Congresso e pelo Judiciário.

Ataques para os quais estamos desarmados porque o governo, além de não enfrentar os ataques políticos, sociais e econômicos mais reacionários da direita e da extrema-direita, negocia com eles para fazer passar seus projetos. Como ocorreu com o Marco Temporal que passou pelo Congresso sem que o governo e sua base de apoio chamasse a resistência dentro e fora do parlamento. Ao contrário, a liderança do PT, em um gesto para lá de traidor, liberou a bancada nessa votação – Lula sancionou com vetos pontos mais reacionários desse brutal ataque, porém esses vetos, como não se produziu ainda uma mobilização à altura podem ser derrubados pela Câmara dos Deputados.

Este cenário de primeiro ano do Lula 3 nos coloca em uma situação em que contrarreformas – combinadas com políticas pontuais de compensação social – de diferentes e limitados impactos na vida social estão avançando sem que uma resistência à altura esteja sendo construída.

Essa apatia política se deve a um cenário complexo que envolve a força da extrema-direita e o atual governo de Lula e Alckmin: uma burocracia conservadora a serviço da manutenção da ordem. Todo o governo de Lula, do PT aos partidos que estão em sua base de apoio (PSOL e PCdoB), cumprem a função de tirar a luta política dos trabalhadores e oprimidos das ruas e a levá-la para dentro das instituições do Estado burguês. Isso não significa que não esteja ocorrendo importantes mobilizações nas ruas por salário, emprego e contra a precarização laboral, em defesa do acesso e da qualidade da educação pública, contra a privatização do transporte e do saneamento básico, contra a devastação ambiental e o Marco Temporal, a violência policial à população negra e periférica, pela revogação do Novo Ensino Médio e outras.

O problema é que essas mobilizações, ao não estarem relacionadas entre si, não combinam a luta contra a privatização do Metrô e Sabesp, para ficar em um exemplo paulista, com a luta contra o genocídio na periferia levadas por Tarcísio no estado de São Paulo. Já em termos nacionais, a luta contra o Marco Temporal não está articulada com a luta para prender Bolsonaro e todos os golpistas. O que acaba fazendo com que as mobilizações específicas nessa escala percam a capacidade de unificar os vários setores em luta e suas demandas.

A perspectiva da Juventude Já Basta! vai no sentido oposto da esquerda da ordem – principal responsável pela desmobilização das massas – que leva uma linha de apoio político ao governo burguês liberal social de Lula e, consequentemente, suas contrarreformas, quanto em relação aos setores independentes do governo que, ao levar uma política economicista (não apresentam as necessárias conexões das demandas específicas com as demandas gerais), acabam não contribuindo para que o movimento de massas faça uma política independente do governo, da classe dominante e da burocracia sindical.

Para nós, é necessário romper com essa situação em que a política tem sido feita quase que exclusivamente por cima, sem a participação independente da juventude, das mulheres, dos negros e da classe trabalhadora. Por isso, chamamos todos os calouros a se integrarem com a Juventude Já Basta! numa construção teórica e  prática de uma linha política independente do governo e dos patrões e de enfrentamento consequente ao bolsonarismo.

Nesse sentido, para aproveitar esse momento de fragilização relativa do bolsonarismo com o avanço das investigações da Polícia Federal (em relação a qual não guardamos nenhuma confiança e mantemos total independência) e diante da necessidade de lutar contra reformas reacionárias, pensamos que é fundamental combinar as lutas imediatas desde a base com a mobilização pela prisão imediata de Bolsonaro e de todos os golpistas.

Teríamos uma lista imensa de pontos a apresentar, mas de forma combinada à luta pela prisão de Bolsonaro – uma demanda politica fundamental pela positiva para começar a derrotar o neofascismo no Brasil -, parece-nos urgente hoje a luta pelo fim dos bombardeios em Gaza, contra o Marco Temporal, pelo fim da devastação ambiental, contrarreformas, privatizações, precarização do trabalho e genocídio da juventude negra, assim como pela revogação do Novo Ensino Médio e do ultrarreacionário Estatuto das Polícias Militares. Logicamente que em âmbito local, precisamos levar a luta contra a privatização do Metrô e da Sabesp, em defesa das verbas da educação para sua ampliação e democratização com a ampliação das cotas étnico-raciais rumo ao fim do vestibular, pelo fim da necropolítica do governo de São Paulo e da Operação Escudo e pelo Fora Tarcísio!