Desde que assumiu o governo o número de incêndios florestais cresceram cerca de 80% este ano, comparado com ano anterior. O país registrou mais 66,9 mil focos, sendo a Amazônia o bioma mais afetado.
Rosi Santos
A macabra política ambiental de Bolsonaro
Enquanto uma verdadeira barbárie ambiental ocorre no país, rechaçada por toda comunidade internacional, o presidente protofascista Jair Bolsonaro, depois de mais de vinte dias de incêndio na Amazônia, ao finalmente falar, transferiu toda a responsabilidade do crime ambiental para organizações não governamentais (ONGs), que de acordo com ele: teriam a intenção de prejudicar o seu governo.
A discussão ambiental ganhou as manchetes depois que Bolsonaro de forma autoritária demitiu o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e, sem nenhuma base técnica, questionou entidades que medem os avanços da degradação ambiental no país. Os incêndios na Amazônia e no Cerrado poderiam ser evitados e hoje desmascaram definitivamente o real conteúdo da agenda política de Bolsonaro em relação ao tema ambiental.
Ação premeditada
O descaso do presidente diante da gravidade dos incêndios denota sua cumplicidade, principalmente quando a catástrofe ocorre há poucas semanas de sua ofensiva verborrágica e abuso de poder contra cientistas e da suspensão do Fundo Amazônia, repasse internacional destinado a preservação que poderiam ser significativos agora no combate ao incêndio. A suspensão do recurso alemão e norueguês aconteceu logo após o presidente afirmar a jornalistas que a chanceler alemã, Angela Merkel, deveria usar o dinheiro doado ao fundo para reflorestar o próprio país.
”Não podemos permitir mais danos a uma fonte importante de oxigênio e biodiversidade”, declarou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, nesta quinta-feira.
Governo de crises
Apesar de todas as negativas do governo sobre os prenúncios ambientais, os efeitos da queimada estão sendo sentidos no ar, a fumaça chegou até São Paulo e em regiões a milhares de quilômetros de distância da região afetada. Nessa semana, usuários do Facebook relatavam cheiro de queimado em todo e o dia virou noite em diversas partes do país, devido à fumaça dos incêndios.
Não há como ocultar os efeitos do crime ambiental. A indignação é crescente e produzida pela intencional política de Bolsonaro de beneficiar o agronegócio e a indiscriminada ação de mineradoras, inclusive em áreas restritas da região amazônica.
Apesar do boicote de parte da imprensa oficial diante da catástrofe que vem ocorrendo, as redes sociais reagiram a níveis surpreendentes e há anúncios de manifestação fora do país e em mais de 20 estados e cidades brasileiras.
A hashtag #PrayForAmazonas está entre os assuntos mais comentados no Twitter. Até o fim dessa nota, no Twitter foram mais 949 mil hashtag em inglês e 598 mil em português além de outros idiomas.
A agenda da política ambiental em alta
O fortalecimento dos partidos ambientalistas – mesmo que liberais – no parlamento europeu nas últimas eleições pode ser um sinal de que uma parte importante da sociedade pode a qualquer momento sair as ruas na próxima etapa da luta de classes.
As mobilizações estão sendo convocadas no interior e fora do país, podem ser uma importante resposta política a nível global sobre a questão do clima e a essa clara tentativa de devastar um dos maiores biomas do planeta. E, claro, esses fatos e toda essa repercussão coloca em xeque o governo brasileiro.
Diante do imenso fato político, essa pode significar uma das maiores intervenção políticas do ambientalismo. Em todo o mundo está sendo questionada a destruição em massa de recursos naturais fundamentais para a sobrevivência humana e de ecossistemas inteiros da Terra. E, no caso da maior floresta tropical do mundo, parece que ao menos o ativismo virtual, não está disposto a ignorar mais essa brutal destruição capitalista a despeito do bem coletivo.
Essa pauta poderia ser um canalizador das forças dos trabalhadores, mulheres e, principalmente, da juventude nessa que chamamos de etapa de hiper exploração do capitalismo sobre o planeta e seus ecossistemas.
A nível local, as manifestações convocadas para os próximos dias poderiam ser uma resposta contundente ao governo bolsonarista, à insistência da burguesia nacional e internacional em enfraquecer o licenciamento e as leis ambientais, à abertura de terras indígenas para a mineração desenfreada e ao esvaziamento do Acordo de Paris, além do aumento exponencial de conflitos pela terra.
Uma etapa superior do reacionarismo e de ataque às maiorias
O povo brasileiro não pode seguir a mercê dos desmandos de um governo dessa natureza. Nesse momento de contenção das chamas na região amazônica são sentidos os efeitos da suspensão dos recursos da Noruega e da Alemanha ao Fundo Amazônia – destinado à proteção e, principalmente, ao combate a incêndios florestais, recursos que foram perdidos graças as provocações baratas do governo.
Na atual situação de crise, o Corpo de Bombeiros e as brigadas especializadas contam com poucos recursos, sendo a maioria advindos das prefeituras, informaram a assessoria de governos locais. Além disso, o governo se recusa a apresentar um plano de ação à altura da emergência.
Com os R$133 milhões do fundo, a operação de combate às chamas já estaria em outro patamar. Possibilitaria, por exemplo, a compra emergencial de helicópteros, viaturas veterinárias para retirar e atender os animais vitimados, caminhões e equipamentos modernos e especializados no combate ao incêndio florestal. Mas o enfrentamento ao fogo se dá em condições totalmente insuficientes. A revolta diante dessa tragédia ambiental em escala internacional é ainda maior devido as posições do governo que provocaram a suspensão de recursos financeiros vindos do exterior.
Um crime sem precedentes e exposição negativa frente ao mundo
A Amazônia é responsável por manter os níveis do aquecimento global no limite de 1,5º e um desequilíbrio nesse índice de pelo menos meio grau acima seria catastrófico, de acordo com cientistas, por isso, até mesmo a questionável ONU foi obrigada a se posicionar.
Além disso, mais de 136 geógrafos, só da região amazônica, vem sendo audazes nas criticas contra o governo – dizendo que Bolsonaro apresenta uma postura política criminosa – e que medidas suas medidas nessa área, como a tentativa de fusão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), principal órgão governamental de proteção ambiental e indígena com o Ministério da Agricultura que por sua vez, favorecem unicamente desastres como esse e o agronegócio.
Em consonância com esses acadêmicos, consideramos que a tragédia na Amazônia foi uma declarada ação de improbidade administrativa do governo Bolsonara e, também, criminosa em relação à política de proteção e preservação do meio em nosso país.
O “fascismo” bufão
Ao contrário de como vem apontando alguns analistas políticos, que compararam o perfil político do governo ao de Donald Trump, Bolsonaro é uma ameaça não só ao Brasil, mas ao planeta como um todo, pois trata de destruir recursos que transcendem às fronteiras no Brasil, além de tentar elevar os níveis de exploração do trabalho humano e degradação ambiental a níveis impensáveis.
Bolsonaro intensifica dia após dia em todas as áreas o caráter protofascista e criminoso de seu governo. Em seu incipiente mandato a Amazônia perdeu mais 5.879 quilômetros quadrados de florestamento, 40% a mais do que em todo ano passado.
Nossa formulação é a de que a ignorância e despreparo sobre as matérias importantes do país não servem para caracterizar por si só esse governo. Mas do nunca, é importante sair da chave subjetivista para caracterizar o governo (principalmente quando se trata de perdas irreparáveis como a da Amazônia) que procura, e por vezes consegue, impor medidas regressivas em toda a sua linha.
Frases de efeitos na saída do congresso e polêmicas desnecessárias em momentos cruciais são, na verdade, uma estratégia distracionista aplicada por Bolsonaro para governar. Política típica do bufão que em suas origens épicas, apesar de não governar, cumpria um papel político fundamental, o de distrair.
O exemplo mais recente disso foi – em meio a focos de incêndios que destroem a Amazônia, depois de seguidas falas absurdas já pontuadas – o governo anunciar a intenção de construir grandes usinas hidrelétricas no seio da Amazônia.
A construção de usinas nessa área atende a uma ambição antiga do setor de minas e energia, mas os projetos nunca foram levados a cabo devido aos fortes impactos ambientais e envolvimento direto de terras indígenas.
Enquanto diversos países que, inclusive, não possuem os imensos recursos naturais presentes no Brasil estão pensando em saídas energéticas sustentáveis, o atual presidente deixa claro que o desastre na Amazônia, hoje, é funcional para avançar sem pudor na degradação da região, amanhã.
Os macabros planos do presidente vêm na mesma pauta do pacote das novas privatizações, concessões e leilões anunciados nessa quarta-feira (21). Ou seja, quando é para os mercados e empresários o governo fala com seriedade e atende aos seus interesses.
Mas, para responder(sic) aos problemas reais utiliza frases de efeito e anúncios esvaziados de sentido. Ou seja, não tem nenhum compromisso em resolver os reais problemas do país que envolvem diretamente os interesses da elite. Nada que atinge diretamente milhões de brasileiros é considerado seriamente por Bolsonaro.
A insistência em impor uma pauta de costumes esconde um conteúdo político e econômico, objetivo devastador para a natureza, para as massas populares e para os trabalhadoras. Por isso, é fundamental que nesse momento todo o ativismo ambiental, ONGs, ambientalistas, carreiras ligados à áreas ambientais, geógrafos, cientistas e, principalmente, toda a esquerda se unifiquem e tomem as ruas para derrotar todo o projeto político nefasto desse governo.
Em defesa da Amazônia e dos biomas ameaçados!
Investigações independentes das causas do desastre!
Bolsonaro é responsável pelo desastre ambiental!
Fora Bolsonaro!
Eleições Gerais já!
Lista dos estados, cidades do Brasil e países que já anunciaram manifestações:
Brasília, DF – 23.08 / 17hrs
Rio de Janeiro, RJ – 23.08 / 17h / Cinelândia
São Paulo, SP – 23.08 / 18hrs / MASP
Salvador, BA – 23.08 / 14h / Pelourinho
Curitiba, PR – 23.08 / 17:30h / Praça da Mulher Nua
Londrina, PR – 23.08 / 15h / Calçadão de Londrina
Atalanta, SC – 23.08 / 9h / Colégio Dr. Frederico Rolla
Juazeiro do Norte, CE – 23.08 / 17h / Praça do Giradouro
Manaus, AM – 24.08 / 10h / Praça do Congresso
Belém, PA – 24.08 / 8h / Praça da República
Recife, PE – 24.08 / 14h / Rua da Aurora
Fortaleza, CE – 24.08 / 14h / Gentilândia
Porto Alegre, RS – 24.08 / 15h / Parque Farroupilha
Goiânia – 24.08 / 14 hrs / Vaca Brava
São Luis, MA – 24.08 / 15 hrs / Praça Deodoro
Vitória, ES – 24.08 / 15h / Pç do Papa
Campo Grande, MS – 24.08 / 13 hrs / Av. Afonso Pena
Cuiabá, MT – 24.08 / 16 hrs / Praça Alencastro
Palmas, TO – 24.08 / Praça Girassóis
Aracaju, SE – 24.08 / 15h / Pç General Valadão
Maceió, AL – 24.08 / 14h / Orla
Foz do Iguaçu, PR – 24.08 / 15h / Av Araucária
Campinas, SP – 24.08 / 16hrs / Av. Francisco Glicério
Juiz de Fora, MG – 24.08 / 16h / Pq Halfeld
Ribeirão Preto, SP – 24.08 / 14 hrs / Av. Francisco Junqueira
São Carlos, SP – 24.08 / 15h / Praça São Benedito
Sorocaba, SP – 24.08 / 15h / Pç Coronel F Prestes
Natal, RN – 24.08 / 15hrs / Midway
Chapecó, SC – 24.08 / 15h / Pç Coronel Bertaso
Montes Claros, MG – 24.08 / 13h / Parque Dr Carlos Versiani
Joinville, SC – 24.08 / 15h / Praça da Bandeira
Mossoró, RN – 24.08 / 16h / Memorial da Resistência
Belo Horizonte, MG – 25.08 / 10h / Praça do Papa
Rio de Janeiro, RJ – 25.08 / 14h / Praia de Ipanema
Florianópolis, SC – 26.08 / 12h / Largo da Catedral
Santo André, SP – 31.08 / 12 hrs / Prefeitura
Paises:
Madrid, Espanha – 23.08 / 12h / Embaixada do Brasil
Quito, Equador – 23.08 / 14h / Embaixada do Brasil
Lima, Peru – 23.08 / 14h30 / Consulado do Brasil
Kempten, Alemanha – 23.08 / 13h / St. George´s Hall
Salamanca, Espanha – 23.08 / 19h / Plaza Mayor
Pamplona, Espanha – 23.08 / 17h30 / Plaza del Castillo
Turim, Itália – 23.08 / 17h / Piazza Castello
Montevideo, Uruguay – 23.08 / 17h / Embaixada do Brasil
Guate, Guatemala – 23.08 / 12h30 / Embaixada do Brasil