Demissão de diretor do INPE tem motivações geopolíticas e já repercute internacionalmente

Intervenção de Bolsonaro no instituto é mais uma demonstração do caráter autoritário do governo

Por Luciano Mathias

A demissão de Ricardo Galvão, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), já repercute internacionalmente. O diretor da NASA Douglas Morton conversou com a BBC News Brasil e disse que essa atitude “reflete como o atual governo brasileiro encara a ciência”.

Ao opinar sobre o Instituto ele afirma “o Inpe sempre atuou de forma extremamente técnica e cuidadosa. A demissão de Ricardo Galvão é altamente alarmante”.

Morton ainda complementa “não acredito que o presidente Jair Bolsonaro duvide dos dados produzidos pelo Inpe, como diz. Na verdade, para ele, são inconvenientes. Os dados são inquestionáveis”, apontando as reais motivações da demissão.

A inconveniência dos dados de fato se confirma e o presidente não faz nenhum esforço em esconder isso, já declarou que os números divulgados pelo Brasil gera uma “péssima propagando pro Brasil lá fora”.

Países europeus já se mostraram preocupados com a preservação da Amazônia, ameaçando mexer em acordos que prejudicam diretamente os interesses do Brasil. Dentre eles, o acordo comercial entre o Mercosul e a União Européia, que também estabelece o respeito de todas as partes com o compromisso do Acordo de Paris.

A demissão do diretor do INPE ocorreu em torno de uma questão geopolítica, como está claro, nada a ver com o compromisso com a verdade. Considerando ainda que Bolsonaro questiona veemente os dados, mas não apresenta nenhum outro que diga o contrário.

O novo encarregado do cargo de direção do INPE segue o padrão do Bolsonaro nos perfis da composição de seu governo, sendo mais um militar, Darcton Damião, e já declarou: “aquecimento global não é minha praia”.

CASO DA DEMISSÃO

Na sexta-feira (2), tivemos mais uma vez a demonstração do caráter autoritário do governo Bolsonaro, dessa vez, direcionado ao INPE. Mais do que isso, um ataque ao meio ambiente, às riquezas naturais do país, fauna e flora, como também da autonomia de indígenas em suas terras de direito.

Após rebater afirmações absurdas e sem embasamento de Bolsonaro, Ricardo Galvão, professor titular do Instituto de Física e engenheiro, foi demitido do cargo de diretor do INPE pelo ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, mas claro sob orientação de Bolsonaro.

A polêmica começou quando o INPE divulgou dados sobre o desmatamento na Amazônia. O material divulgado mostra que houve um aumento de 88% no desmatamento da floresta em junho desse ano se comparado com junho de 2018.

O INPE coleta dados e informações através de redes de satélites que fotografam a floresta e, posteriormente, são analisados por profissionais de altíssimo nível. A metodologia do instituto tem prestígio internacional, tendo seus dados divulgados com transparência em publicações estrangeiras, como salientou o pesquisador Luiz Davidovich, Presidente da Academia Brasileira de Ciências e doutor em física pela Universidade de Rochester (Estados Unidos).

Após a divulgação de fatos concretos, Bolsonaro resolveu adicionar mais uma declaração absurda ao seu leque disparates, dessa vez acusando o Instituto de estar a serviço de ONGs, como também acusou os dados de serem mentirosos. Mais preocupante que isso foi quando Bolsonaro recorreu mais uma vez às redes sociais, após a demissão do diretor, para dizer que seu governo “incomoda traidores” e que o país está “sob nova direção”.

Bom, essas declarações são interessantes de analisar e carregam fortes elementos desse governo e suas pretensões. Antes de tudo, o problema não passa pelas ONGs que se dedicam ao tema ambiental, ver problema nisso faz parte de uma ideologia que Bolsonaro tenta impor, no seu esforço e insistência, de criminalizar qualquer tipo de movimento e órgão que se coloca a serviço da defesa por direitos, já que muitas ONGs possuem esse papel. Mesmo assim, não existe nada que associe o INPE à interesse de ONGs.

DEFESA DOS INDÍGENAS E MEIO AMBIENTE

Novos dados divulgados apontam um aumento de 278% no desmatamento da Amazônia em julho em comparação com o mês de junho, em grande parte ocorrido em áreas de preservação e por invasões de territórios indígenas.

Os sistemáticos ataques do governo aos indígenas e ao meio ambiente demonstram cada vez mais o autoritarismo de Bolsonaro, sendo que o acirramento de suas medidas colocam a necessidade de reação rápida, respondendo aos seus ataques a partir de um calendário de luta.

Já as declarações feitas nas redes sociais, como “sob nova direção”, demonstram suas pretensões bonapartistas, ou seja, da concentração do poder cada vez maior em torno de uma figura, no caso ele próprio, desconsiderando outras esferas de poder importantes no regime democrático atual, como o legislativo, por exemplo.

Todos os ataques estão concentrados na figura central de Bolsonaro, por isso a derrubada dessa extrema-direita que se revelou no Brasil nos últimos períodos passa pela tarefa fundamental de removê-lo do poder.

É de muita importância que a unidade da luta dos indígenas, dos trabalhadores, das mulheres e da juventude se faça presente na rua, para impor uma correlação de forças cada vez mais favorável à esquerda.

Para derrotar esse governo reacionário, autoritário, entreguista, inimigo do meio, com elementos de fascismo e que quer acabar com a mobilização de diversos setores da sociedade é fundamental, além de levar a diante as lutas de cada setor e as lutas gerais, gritar em todo momento nas ruas FORA BOLSONARO e ELEIÇÕES GERAIS JÁ!

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