Federação PSOL e REDE: uma desmoralização política sem precedentes


A federação do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) com o partido Rede Sustentabilidade (REDE), aprovada na noite de segunda-feira (18), representa um aprofundamento no processo de perda de independência política do PSOL, já observada nas posições sobre as eleições de 2022, que estamos denunciando há um tempo em nosso portal de notícias, o Esquerda Web.

Por Rosi Santos

A votação e a aprovação pela federação se deram sem debate prévio e por um grupo seleto de cerca 61  pessoas, em um partido de capilaridade nacional e com mais de 200 mil filiados. Um passo substancial a traição à democracia interna do partido, à militância e aos milhares de simpatizantes que acreditaram no programa, táticas e perfil próprio de esquerda do PSOL.

A Rede de Marina Silva, financiada pelo banco Itaú, é um partido tipicamente burguês; que votou pelo golpe parlamentar contra Dilma Rousseff, que votou pela reforma da previdência e anda de mãos com lavajatismo de Sérgio Moro, e esta, inclusive, à direita do PT, o que, em si, dá um amplo debate.

 

Militantes realizam intervenção em São Paulo, contra a votação da federação em frente ao Diretório Estadual.

Mas, o ponto central aqui é como o PSOL poderia conciliar elementos tão alheios ao seu programa original. Uma vez, que a possível participação na frente ampla de Alckmin e Lula, que será decidida na Conferência Eleitoral (30/4), já carrega diversas contradições. No entanto, a federação do PSOL com a Rede representa uma escalada ainda maior nesse processo de degeneração política.

É importante dizer as coisas como são. Isto é, dizer que companheiros e organizações como MES, de Luciana Genro e Sâmia Bonfim, entusiastas da proposta e que votaram pela federação, mesmo sendo contra a frente ampla, fazem uma escolha, irresponsável, cínica e, absolutamente eleitoralista.

Chamamos a atenção para todos os responsáveis. A começar por Juliano Medeiros, presidente do partido, dirigente da Primavera Socialista, representada pelo deputado Ivan Valente, Revolução Solidária, representada por Guilherme Boulos, e particularmente ao Movimento Esquerda Socialista (MES), de Luciana Genro e Sâmia Bonfim,  Resistência (ex-PSTU), de Valério Arcary – estes últimos dois setores, que apesar das divergências, sempre consideramos aliadas em diversas ocasiões na luta nas ruas, assim como, na luta pela afirmação da identidade do PSOL – a essa tragédia política.

Exigimos, veementemente, que as correntes MES, Resistência, Insurgência, Primavera Socialista e Revolução Solidária, algumas que como nós, fundaram o partido revejam suas posições e o erro histórico que estão cometendo.

Essa capitulação política é um problema de toda esquerda combativa, pois pode significar a liquidação de uma esquerda não lulista, que vinha acumulando experiências políticas importantes em nosso país.

Por isso, não é somente lamentável, mas vergonhoso que essas organizações e figuras públicas citadas, permitam que medidas como essas – federação com REDE e ingresso na chapa Lula-Alckmin – destruam o caráter socialista do PSOL, e protagonizem esse gigantesco desacordo com milhares de militantes, filiados e simpatizantes do PSOL que podem deixar as fileiras do partido. Além do enorme dissabor, que já vem sendo expresso em redes sociais – de conhecimento público e notório, mas ignorado por esses setores.

Juliano Medeiros, que anunciou essa semana, que será candidato ao Senado ou vice de Fernando Haddad (PT). Foto: Wanezza Soares/ Carta Capital.

A corrente Socialismo ou Barbárie, seguirá na resistência oferecendo uma alternativa caso, essa enorme decepção política, se consolide e  tente imprimir uma derrota à  vanguarda lutadora, e a consciência de milhares de mulheres, diversidades, trabalhadores e jovens que  acreditaram no PSOL.

Esgotaremos todas as possibilidades para que não ocorra essa traição aos que apostaram na construção do PSOL como uma ferramenta estratégica contra a conciliação de classes petista e a direita tradicional, que oxigena-se nessas eleições.

Não estamos sozinhos nessa luta, e independente dos rumos que esses lamentáveis acontecimentos possam ter, seguiremos apostando no protagonismo dos explorados (as) e oprimidos (as) e na sua organização consciente e desde baixo.

Sustentar nesse momento, – decisivo dos rumos do país e da esquerda brasileira -, decisões cúpulistas é  duplamente antidemocrático. Principalmente quando escolhas como essas são oriundas de membros do partido em detrimento de reafirmar o mesmo, com alternativa política.

Que desconsideram o PSOL como uma força política em crescimento, competitiva e que, representou nesses anos uma variação política importante, coerente, e com lastro genuíno junto a classe trabalhadora e todos os oprimidos.

Por isso, convidamos todos e todas, que acompanham a nossa militância e as nossas propostas, para  acompanharmos nessa luta pela manutenção do PSOL de esquerda, independente e radicalmente comprometido com os interesses da classe trabalhadora e todos setores oprimidos.

Acompanhe essa campanha e discussão no site e redes sociais do @esquerdaweb e assine o manifesto em defesa do PSOL

Leia também:

PSOL em perigo

8M 2022: a luta para derrotar Bolsonaro é nas ruas