Com mobilização, avança-se na pauta feminista em várias partes do mundo

Nesta terça-feira (08), ocorrerá mais um tão esperado Dia Internacional da Mulher. Violência, desemprego, fome, trabalho precarizado, teletrabalho, carga mental, prestação de cuidados não remunerada, homotransfobia, violência institucional e aumento da exploração sexual como trabalho das mulheres e diversidades, continuam sendo as principais pautas no Brasil de Bolsonaro.

Por Rosi Santos, Vermelhass e Socialismo ou Barbárie

Em meio a um governo ultrareacionário e misógino as pautas defensivas tendem a ser mais expressivas nas ruas.

Este será um 8 de março importante pois inaugura o calendário de lutas de 2022, ocorrendo em um momento de acirramento político e muita polarização pela base com a proximidade da eleição presidencial, prevista para outubro deste ano. Isso tem feito com que tanto setores da burguesia, do reformismo e de aliança entre os dois, disputem a adesão das mulheres trabalhadoras e diversidades oprimidas a seus programas.

Isso somado a acontecimentos políticos importantes em outras partes do mundo, como a conquista da despenalização do aborto na Colômbia, lançam o desafio da luta pela independência de classe e política do movimento feminista. Com o avanço da pauta das mulheres – mais presente nas lutas feministas em países da nossa região – é compreensível e desejável que, em um governo ultra misógino, violento e extremamente irresponsável com os interesses do país, como o de Jair Bolsonaro, as oprimidas façam balanços políticos do retrocesso em suas vidas nos últimos anos, principalmente no que pese a violência incessante aos nossos corpos, condições de vida e subjetividades.

No entanto, esse balanço deve vir acompanhado de uma profunda reflexão sobre as experiências políticas já feitas, e da necessidade de romper com as ilusões – a maioria delas criadas pelas direções dos movimentos – de que se pode através do parlamento burguês, das eleições combater as mazelas do patriarcado e  do capitalismo.

Só podemos avançar com auto-organização e independência política

As mulheres e LGBTQIA+ podem e devem muito mais do que apenas esperar as eleições de outubro ou revitalizar a esperança em um projeto – governos de conciliação do PT – que já demonstraram-se totalmente insuficientes para garantirem os interesses primordiais de nossa classe. Fazemos essa análise não somente porque se trata do PT, mas porque esse partido é o principal agente da crença desmobilizadora de que algum projeto político do establishment, sem uma ruptura do ponto de vista da nossa classe com esse sistema e regime político, irá resolver nossos problemas. Obliteram intencionalmente o fato de que são as nossas forças, organizadas, as únicas que podem disputar politicamente a sociedade para impor nossa agenda.

Ao desmobilizar a luta de todos explorados e oprimidos para derrotar esse governo nas ruas, Bolsonaro se manteve no poder. Poucas reflexões políticas da  criação de um programa que seja consequente, que passe necessariamente pelo poder de decisão, protagonismo e ativismo das massas nas ruas. Sem isso, não conseguiremos dar passos em direção às nossas reivindicações mais estruturais da classe trabalhadora e das mulheres.  A maioria dos programas e estratégias políticas hoje em curso em nosso país, salvo algumas iniciativas minoritárias, não tratam de varrer o Bolsonarismo para onde nunca deveria ter saído. Isto faz com que o tema da luta contra a exploração e opressão sobre as mulheres e pela sua emancipação seja, em diferentes níveis, secundarizado.

A luta nas ruas foi historicamente, e continua sendo, um excelente antídoto contra o burocratismo, os personalismos e as traições. A melhor ferramenta política para todos os oprimidos e explorados que resistem. Nesse sentido, fazemos um debate duro com a direção de mulheres do movimento feminista nacional, sendo em sua maioria integrantes do PT, PCdoB e PSOL, pois levam para o interior do debate feminista brasileiro, e ao próprio movimento, argumentos objetivando a desmobilização, impondo a lógica mecanicista, do sindicalismo e do economicismo mais acomodado que se tem notícia. Companheiras que são amenas e que infelizmente não compreendem a urgência de combater as nossas opressões que só serão superadas com o movimento organizado em um constante diálogo com o resto da sociedade.

Também gostaríamos de compartilhar a reflexão com todas as companheiras de que nesse ano eleitoral não podemos depositar um grama de ilusão de que nossos problemas resolvem apoiando uma chapa/governo de conciliação de classes. Somente a independência política do movimento, somado ao comprometimento real das necessidades das mulheres e LGBTQIA+,  é que permitirão a massificação da luta para derrotar politicamente Bolsonaro e a misoginia contida nos bolsonarismos espalhados pelo Brasil.

Certamente a principal tarefa de todo o movimento é derrotar Bolsonaro, este é o inimigo número 1 das mulheres e dos trabalhadores. Contudo, a crença de que podemos derrotar Bolsonaro eleitoralmente sem derrotá-lo nas ruas está levando a um extremamente perigo. Por outro lado, derrotar eleitoralmente esse governo elegendo outro, burguês, de conciliação de classes – Lula/Alckmin -, ainda mais ajoelhado para os patrões do que os anteriores, não vai sanar nossos problemas. Sem um forte movimento independente desde as ruas, meninas serão obrigadas a parir, a vida de transexuais serão tratadas com menor importância, mulheres serão obrigadas à tripla jornada de trabalho.

Não restam dúvidas, por todas as razões, de que estamos exaustas de denunciar, que precisamos derrotar Bolsonaro, mas só vamos derrotá-lo com um programa de luta anticapitalista, classista e que, fundamentalmente, incorpore os interesses de todos os oprimidos, que tenha como objetivo principal varrer, sem concessões, nossos inimigos de classes, sua misoginia e herança escravagista.

É fundamental o fortalecimento do 8 de março compreendendo que a dinâmica, a estratégia e a pauta da luta devem ser disputadas para superar a linha da conciliação de classes que a domina e a engessa.

O progresso do movimento de mulheres, no sentido de sua radicalidade, é de responsabilidade de todos que dizem ser críticos do atual cenário do movimento, que acreditam em uma sociedade plena e justa para nós e para as futuras gerações. Por isso, ainda que em um ano pandêmico, respeitando todas as normas sanitárias é fundamental ocupar as ruas massivamente, pois são as mulheres as mais desrespeitadas em seus direitos trabalhistas e vêm sendo violentadas e mortas pelo machismo estrutural, mesmo nesse momento de grave vulnerabilidade.  E isso se faz com luta! Nesse sentido, nós das Vermelhas e da corrente internacional Socialismo ou Barbárie, fazemos um fervoroso chamado ao 8 de março.

Todes ao #8MForaBolsonaro

Viva a luta das mulheres trabalhadoras de todo o mundo!

Fora tropas da OTAN e cessar fogo imediato dos ataques russos na Ucrânia!

Fora Bolsonaro!

#8M2022

Manifestação em São Paulo:

Terça- feira 08.02 na Avenida Paulista, altura do Vão livre do Masp às 16h