UNE: construir uma oposição à altura dos desafios

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rosi Santos, Juventude SoB

Entre 14 e 18 de junho ocorreu, em Belo Horizonte, o 55º Congresso da União Nacional dos Estudantes (CONUNE). Este congresso surge em uma conjuntura dificílima em nosso país, ou seja, a de um governo desmoralizado, mas ofensivo, e de uma fragmentação temerosa na esquerda combativa. Estes foram um dos principais fatores que nos levou a participar desse congresso. O Socialismo ou Barbárie e sua juventude – apesar de separar a direção da entidade da entidade em si – reconhece a importância da UNE em nível nacional no que tange a possibilidade de articulação da juventude – nunca construiu organicamente a UNE.

As razões que nos levou a ficar “fora” da entidade têm a ver com os anos em que o movimento estudantil enfrentou tremendas luas e a direção da UNE deu as costas para esse processos de luta. Este foi o primeiro congresso nacional da esquerda brasileira em meio à imensa crise econômica e política que passa o nosso país. Dado este grau de hierarquia é que fazemos este breve balanço do CONUNE. Um congresso polarizado A chamada oposição de esquerda (OE), bloco formado por setores da esquerda e de oposição ao petismo e ao PCdoB, do qual fazemos parte, marcou presença ativa. Diante disso, o desespero da UJS (juventude do PCdoB) ficou evidente quando em diversas plenárias inflamava sua base contra a OE e, em alguns casos, partiram para agressão física contra grupos que a compõem. Posição lamentável, mas é sabida a postura gangsterista desse setor. A vitória da chapa “Brasil Popular” reforça uma direção da UNE conciliatória com o petismo e com as políticas governamentais para a educação.

A UJS venceu o congresso mantendo o controle burocrático da entidade, e isso foi possível não só porque ainda possuem grandes bases sociais, principalmente no interior do Brasil, mas pelo o que chamamos de evento de dissolução do Campo Popular, dirigido pelo Levante Popular, movimento ligado ao PT, que se alinhou ainda mais com o setor da UJS. Porém, é preciso tirar conclusões importantes sobre o papel da OE na UNE, e a experiência de 2017 foi fundamental. De nossa parte, como membros do Diretório Central dos Estudantes da USP (DCE), impulsionamos com as diversas organizações que compõem a gestão uma chapa unificada para tirar delegados e levar o maior número possível de estudantes para o congresso. O que se demonstrou um tremendo acerto! Realizamos uma eleição extremamente politizada no interior da Universidade de São Paulo e fomos a chapa vencedora com o maior numero de delegados e observadores. Mas, ainda, existem muitos desafios. Acreditamos que somente um congresso construído pela base nas universidades pode mudar a correlação de forças, somente com centenas de delegados do campo da esquerda podemos tirar resoluções favoráveis para o movimento e, até mesmo, varrer a majoritária da direção da entidade.

É preciso superar o clubismo que se instala durante a realização do congresso que impossibilita um diálogo entre os diversos setores que compõem a OE, para que possamos realizar uma intervenção ainda mais unificada. A oposição de esquerda deu trabalho para a burocracia estudantil. O grande mérito da OE foi não ter deixado o congresso ser pautado centralmente pela discussão de candidaturas eleitorais, o que possibilitou debates mais políticos e não o famigerado “Lula 2018”, como queria a atual direção. Apesar das dificuldades colocadas para o nosso campo, nos próximos dois anos de gestão, no 55º congresso, conseguimos manter cadeiras da OE, o que, dentre outras coisas, indica que com mais organização e política unitária prévia e in loco, podemos obter um resultado superior ao deste ano. A UNE que temos e a UNE que queremos A UNE é a grande entidade estudantil a nível nacional, nela se agremia formalmente, e informalmente, milhares de estudantes e centenas de universidades. Resgatarmos, não somente seu caráter histórico, mas o de combatividade unitária é fundamental, por isso, atualmente toda a esquerda está dentro da UNE (com exceção do PSTU). Muitos que antes não estavam ou romperam retornaram a entidade e resolvem apostar na entidade. Vemos isso não só como positivo pelo combate a fragmentação, mas como estrategicamente mais favorável para renovar esta entidade e devolvê-la, finalmente, ao movimento estudantil.

A UNE pode ser uma importante ferramenta de mobilização para uma saída política à esta crise na qual a classe dominante quer impor aos trabalhadores e a juventude o pagamento da sua conta. A UNE pode assim ser fundamental nesse combate! Porém, toda militância da direção da UNE se resume a fazer uma forte campanha nostálgica ilusória dos governos petistas. Essa manobra de consciência, combinada à sua política abertamente conciliatória e atrelada a governos, não nos serve. Durante os anos do governo do PT houve um esvaziamento brutal de política na entidade, além do avanço do carreirismo, mas precisamos urgentemente de uma UNE de luta e não um trampolim político oportunista para projetos dos que sempre governaram a serviço dos ricos e poderosos. A maior parte da direção atual esconde dos estudantes que educação sempre foi alvo dos ataques de governos – nos governos Lula e Dilma não foi diferente. A chamada expansão do ensino superior levou milhares de jovens a conquistarem o sonho do ensino superior, porém em condições que, para não dizer adversas, foram muito menos favoráveis em relação a universidades públicas já existente. Não bastando essa desigualdade notória entre as federais pré-existentes e as criadas nos governos do PT, houve um endividamento das famílias que recorreram as universidades privadas com financiamentos do governo via PROUNI. Dinheiro que levou a um enriquecimento maior dos barões do ensino privado.

Escondem, também, que o projeto de educação petista nestes moldes foi uma exigência do Banco Mundial (BM), do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Organização Mundial do Comércio (OMC), todos juntos para um mercado de serviços educacionais de capital privado e de internacionalização da educação superior, que até então o Brasil não atendia a rigor. Nos governos petistas foram calcificadas as bases de uma educação de parâmetros não mais pública integralmente (1). O que estamos dizendo é que faz muito tempo que esta direção da UNE não pauta sua política a partir da conclusão primária de que educação nunca foi prioridade para nenhum governo neste país e que é preciso lutar contra qualquer medida que precarize ainda mais o ensino. No entanto, vemos necessário fazer exigências a esta mesma direção, bem como, construir com ela uma frente de oposição contra o governo burguês do turno, ou seja, o que no momento ataca a juventude e trabalhadores. Mesmo diante do governo Temer a direção da UNE se demonstra vacilante. Para se ter uma ideia, a direção majoritária da entidade age da mesma maneira que as centrais sindicais pelegas,. No congresso chamavam o último dia 30, por exemplo, como dia de luta e não de greve geral, uma política clara de capitulação.

Porém, nós e outros setores, como o MAIS, por exemplo, fomos os primeiros a não permitir isso e a arrancar que o congresso aprovasse como greve geral o dia 30 de junho. Intervenção que se demonstrou acertada por diversas razões, a principal delas era a necessidade de voltar para as universidades com uma proposta concreta contra o governo, mas era importante também não deixar espaço algum para a direita organizada da UNE (PSDB), que tanto quer aprovar as reformas. É possível um forte movimento estudantil contra o governo federal A partir de junho de 2013 a juventude tem se demonstrado uma pedra no sapato dos governos. Os ventos de 2013 ainda se fazem presente na consciência de milhares de estudantes que se deparam com universidades em uma crise histórica. A juventude tem o direito a um futuro negado com os ataques do governo Temer e, com uma mudança de curso na UNE, podemos construir uma saída política. Em menos de um ano de governo ilegítimo de Michel Temer foram retirados diversos programas da educação, redução de mais de 7 bilhões da área e, em contrapartida, o governo perdoa dívidas bilionárias de bancos privados, como Santander e Itaú.

A saída política deve ser pensada para além das necessidades específicas dos estudantes. Ou seja, além de lutar contra as reitorias pelegas e os ataques do governo a educação, devemos fazer uma aliança estratégica com os trabalhadores contra a reforma trabalhista e da previdência que atingiram em cheio a juventude. É premente lutar Contra a Reforma da Previdência e Trabalhista, pelo Fora Temer, por Eleições Gerais Já e por uma Constituinte Livre e Soberana imposta pela base da sociedade para transformar radicalmente a estrutura de poder! Por isso, acreditamos que a UNE, apesar de toda a sua história de combatividade, precisa ser refundada na luta estudantil. Os estudantes já não querem mais ver a entidade usando o escudo de seu passado glorioso e em contrapartida conciliando com governos. 1- Uma política que bastou a primeira “crise” para o FIES ser cortado esse ano, fato que levou milhares de estudantes ao desespero mas não aos barões do ensino que acumularam milhões nos anos petistas.