Balanço do 30J

SÓ A LUTA DE MASSAS PODE VIRAR DEFINITIVAMENTE O JOGO

POR ANTONIO SOLER

Um balanço do dia 30 de junho, que estava previsto inicialmente como dia de Greve Geral, é fundamental que se faça da forma mais concreta possível para que identifiquemos em qual correlação de forças nos encontramos e quais passos são necessários dar para que possamos superar os enormes desafios políticos que estão diante dos trabalhadores hoje. Apesar da importante paralisação de categorias nacionais (servidores federais, petroleiros, correios e outros), estivadores, rodoviários, fábricas importantes e metroviários em algumas capitais, o 30J não chegou a se constituir como Greve Geral, obviamente não teve o peso político correspondente a um fenômeno dessa magnitude. Assim, as principais capitais do país não amanheceram paralisadas, rodovias importantes não foram interditadas por força da classe trabalhadora, atos multitudinários não tomaram conta das capitais, piquetes e greves não ocorreram nos principais cordões industriais, como ABC, por exemplo. Mas, isso não ocorreu pela falta de disposição de luta dos trabalhadores e da juventude, pois a depender desse fator, o 30J poderia ter sido igual ou maior que a Greve Geral de 28 de Abril – isso não fosse as manobras de alguns setores da burocracia e a traição de outros.

BUROCRACIA TRAI ABERTAMENTE A CONSTRUÇÃO DA GREVE GERAL

A burocracia após a Greve Gral de 28A tirou o pé do acelerador e pisou no freio. Ao invés de organizar imediatamente a próxima Greve Geral, desenvolve uma política de organizar atos por “Diretas Já” desvinculados da luta pelo “fora, Temer” e contra as suas “Reformas”. Depois disso, a Marcha à Brasília, no dia 24 de Maio, que demonstrou grande espirito de combatividade, acabou ficando sem conexão com um plano coerente de continuidade da mobilização. Só após esse lapso de tempo é que o dia 30 de Junho foi estabelecido como próximo dia de Greve Geral. E, mesmo assim, com uma série de manobras. Em primeiro lugar, no sentido de transformar essa data em parte de uma “jornada de lutas”. Depois disso, tendo que mantê-la por pressão da base e das organizações combativas, a burocracia sindical não jogou peso no sentido convocá-la e organizá-la de fato. Exemplo disso foi a desmarcação, em última hora, da participação na greve de categorias fundamentais, como a dos rodoviários e dos metalúrgicos do ABC Paulista. As manobras e as traições da burocracia sindical e política (não podemos deixar de ver o papel que o PT e o PCdoB têm nesse processo) tem razões diferentes, mas que se combinaram na hora de desmobilizar os trabalhadores. De um lado a Força Sindical (FS) e a UGT – burocracias diretamente ligadas aos partidos burgueses tradicionais – puxaram abertamente o freio da convocação da greve, pois negociam abertamente com Temer a permanência do imposto sindical no interior da “reforma trabalhista”. De outro lado, a CUT (dirigida pelo PT) e CTB (dirigida pelo PC do B) também cumpriram um papel nefasto, pois manobraram as datas, não denunciaram o papel da FS e UGT, não jogaram peso na convocação e não organizaram de fato a Greve Geral.

O PT também teve um papel nefasto nesse percurso. Pois, a sua campanha por “eleição direta” para presidente não passa de uma cortina de fumaça. Com as suas principais lideranças atua para construir um grande acordo nacional com Temer e sua base de sustentação no sentido de “amenizar” as contrarreformas, conter o avanço da Operação Lava Jato, de forma que não atinja Lula, e, simultaneamente, crie as condições de sua elegibilidade para 2018. Não é por acaso que mesmo diante de tantas provas de envolvimento de Temer nos esquemas de corrupção em troca de favorecimento da JBS (e outras que no momento não estão em evidência) e da possibilidade de derrubar Temer e suas contrarreformas, Lula tenha declarado que a Procuradoria Geral da República (PGR) tem que “provar” as denúncias contra Temer…

MESMO MORIBUNDO, GOVERNO CONTINUA A ATACAR

A ausência de um poderoso movimento de massas dos trabalhadores é o fator que permite que o reacionário governo Temer, apesar enfrentar um nível histórico de reprovação popular, denúncias de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha e uma recessão crônica, que só agora começa a dar pequenos sinais de melhora, ainda não tenha caído. Depois da divulgação da conversa do dono da JBS, Joesley Batista, com Temer, abriu-se uma crise que parecia levar o governo as lonas. Mas, a classe dominante e a oligarquia política se dividiram em torno de manutenção de Temer no poder. A burguesia teme que outro governo, mesmo que eleito de forma indireta, seja mais instável que o atual, não possa dar continuidade às contrarreformas e, assim, retrocessos nos ataques já realizados contra a classe trabalhadora possam até ocorrer. Já a oligarquia política – da qual o PT faz parte na sua composição e no modus operandi – sabe que com o afastamento de Temer por corrupção pode ser aberto um processo de investigação que a atinja em seu conjunto, por isso muitos parlamentares não têm disposição de desgastar seu capital político na defesa desse governo.

Evidentemente que todos esses elementos que permitem a precária permanência de Temer à frente do governo podem perder o seu equilíbrio a partir de novas revelações ou de um poderoso movimento dos trabalhadores que faça a situação explodir de vez. Mas, enquanto isso, nesse cenário repleto de divisões, jogos de interesse e contenção da luta dos trabalhadores e da juventude, mesmo esse moribundo governo pode fazer avançar a “reforma trabalhista” no Senado – inclusive em regime de urgência e com data prevista para votação em para o dia 11 de julho – e até criar condições para que a “reforma da previdência”, que até então estava congelada, possa voltar a tramitar no Congresso.

UNIDADE DA ESQUERDA NÃO PODE MAIS SER ADIADA 

Nesse cenário de ataque direto aos trabalhadores, o primeiro passo é, evidentemente, lutar contra o avanço da “reforma trabalhista” que, como todos sabem, se aprovada significará retrocessos históricos contra direitos adquiridos pela classe trabalhadora. Para isso, é necessário organizar caravanas à Brasília e manifestações em todas as principais cidades do país. De outra forma, é fundamental que combinemos a denúncia com a exigência às grandes centrais para que tirem imediatamente uma nova data para realizarmos de fato uma Greve Geral. Parece ser de comum acordo no interior da esquerda socialista que não se pode fazer uma Greve Geral de fato no Brasil sem que passe pela convocação das grandes centrais sindicais.

O ponto de desacordo surge em relação a como organizar nossas forças para garantir que nossas exigências à burocracia sejam mais efetivas e para que possamos construir uma alternativa radicalmente oposta ao lulismo em meio à essa profunda crise política que essa corrente passa. Nesse sentido, pensamos necessário romper imediatamente com uma polarização política que muitas vezes vai do sectarismo ao oportunismo extremados. Para que nossa luta – e suas várias táticas – contra a burocracia possa se realizar precisamos dar passos firmes no sentido de unificarmos nossas forças contra a burocracia. Como nenhum setor da esquerda tem condições isoladamente de fazer uma oposição efetiva a burocracia – condição tão óbvia para a luta de classes no Brasil, mas que muitos setores ultrasectários, notadamente o PSTU, se recusam terminantemente a encarar -, faz-se mais do que urgente um processo de unificação das frentes sindicais dirigidas pela esquerda socialista. O que a nosso ver significa dar uma política concreta e imediata para a coordenação de forças como MTST, Conlutas e Intersindical.

Para nós essa é a linha de corte que temos que trabalhar insistentemente… E isso tem que ser feito através de um fórum que permita uma aproximação imediata, uma “Coordenação de Lutas”, ou algo pelo estilo, que dê condições para que esses setores façam as exigências – e denúncias – de mobilização à burocracia, tão necessárias nesse momento, em condições mais favoráveis e que tenha algum peso real. A primeira, evidentemente, é que se tire uma nova data de Greve Geral para derrotar Temer e suas contrarreformas em curso! Outro aspecto que queremos dar destaque é em relação às alternativas políticas.

Não podemos, diante de uma crise global como a que vivemos, não apresentar para a vanguarda e para o conjunto dos trabalhadores uma saída política que não seja também global, de outra forma não conseguimos fugir do jogo dos interesses políticos da burguesia. Mas, também, não podemos desconsiderar que para colocarmos em questão os interesses políticos mais gerais da burguesia precisamos romper com os chamados “cercos táticos”. Ou seja, nesse momento em que vivemos, efetivar o Fora Temer, impor Eleições Diretas para Presidente e para o Congresso colocariam em questão temporariamente as contrarreformas. Evidentemente que seriam uma vitória para o nosso campo, apenas uma lógica sectária/ultimatista – muitas vezes vistas nas formulações e críticas que MRT e congêneres fazem às correntes que defendem “Eleições Gerais” – não pode compreender isso, ou seja, que uma vitória política imediata não garante as mais mediatas, mas que essas dependem dialeticamente das primeiras. Por outro lado, não podemos desconsiderar que lutar por “Eleições Gerais” apenas não é suficiente no momento de crise orgânica em que vivemos.

O avançar da luta pode, na conjuntura em que estamos, colocar imediatamente uma situação que exija uma saída mais global, que nos permita além de barrar as contrarreformas em curso, fazer retroagir as que já foram aprovadas e colocar em debate a necessidade das verdadeiras reformas que precisa a classe trabalhadora em nosso país. Por isso, e para finalizar, temos que incorporar em nosso sistema de palavras de ordem uma que dê um caráter mais transicional à política. Nessa conjuntura em que vivemos – longe de uma situação revolucionária – não podemos defender uma saída soviética, pois não temos correlação de forças, organizações e nível de politização para isso. Por isso, pensamos que é necessário discutir com os trabalhadores que a luta por Eleições Gerais seja articulada com a luta desde baixo pela eleição de uma Assembleia Constituinte Democrática e Soberana para que seja feita uma profunda restruturação da sociedade brasileira a serviço da maioria. restruturação da sociedade brasileira a serviço da maioria.