As eleições presidenciais na Colômbia produziram o resultado esperado, uma vitória retumbante para o candidato Gustavo Petro. Contudo, a vitória do candidato de centro-esquerda foi mediada pelo surpreendente aparecimento do candidato de extrema-direita Rodolfo Hernández, que conseguiu chegar à segunda volta.

Petro, duas vezes prefeito de Bogotá, ganhou 40 por cento dos votos nacionais. Mas essa percentagem não foi suficiente para impedir que a disputa fosse levada para o segundo turno. Ali, a 19 de Junho, terá de enfrentar Hernández, um homem de negócios que fez campanha com um perfil antipolítica, e que se declara simpatizante de Trump e Bolsonaro. Hernández não terá uma tarefa fácil, pois está mais de 12 pontos atrás de Petro.

Por seu lado, o candidato do uribismo Federico Gutiérrez foi surpreendentemente deixado de fora do segundo turno, com 24% dos votos, quatro pontos a menos do que Hernández. Esta é a consolidação do desastre eleitoral do uribismo, que em tempos tinha sido a corrente hegemónica no país e hoje apenas mantém o seu “núcleo duro” mais forte.

A vitória de Petro foi contundente nos grandes centros urbanos do país, especialmente nas cidades que foram o epicentro dos protestos do ano passado e da Greve Nacional. No distrito da capital, o candidato do Pacto Histórico obteve 47% dos votos, enquanto que em Valle de Cauca (onde a rebelião popular que punha em cheque o governo de Iván Duque foi mais radicalmente expressa), triunfou com 70%.

Apesar da confortável vitória de Petro, a chegada surpresa de um outsider como Hernández no segundo turno foi um choque político para o país. Possuidor de uma fortuna de mais de 100 milhões de dólares, Hernández baseou a sua campanha em falar contra “os políticos”, e de centralmente contra a corrupção. Tendo-se uma vez declarado admirador de Hitler, o que o obrigou a pedir desculpa, mais recentemente Hernández mostrou as suas simpatias por Donald Trump e Jair Bolsonaro. Com um discurso antipolítica, conseguiu ganhar um grande número de votos do eleitorado de direita desapontado com o uribismo desgastado e os partidos tradicionais.

Isto não impediu que a outra grande surpresa das eleições fosse o apoio imediato de Federico Gutiérrez a Hernández para a segunda volta. No preciso momento em que o candidato do Equipo por Colombia reconhecia a derrota, declarou o seu apoio ao direitista Hernández para o segundo turno.

Isto pode tornar-se um verdadeiro problema para Petro, se Hernández conseguir reunir um número significativo de votos da base eleitoral uribista que votou em Gutiérrez, a vitória de Petro poderia ser ameaçada. A mensagem de Gutierrez aos seus eleitores foi no sentido de “tudo menos Petro” ou chamando a votar contra o “comunismo”. Alguns analistas acreditam que um eleitor de Gutierrez tem muito mais probabilidades de votar em Hernandez de direita do que em Petro de centro-esquerda.

Outras análises indicam que a campanha de Hernández tem sido, até agora, demasiado estreita para conquistar qualquer parte maior do eleitorado. Os seus slogans têm-se limitado quase exclusivamente a falar “contra a corrupção dos políticos” sem muito mais conteúdo do que isso.

A segunda volta das eleições terá lugar no dia 19 de Junho. Num país historicamente dominado por partidos tradicionais de direita, a Colômbia vê-se agora confrontada com a necessidade de decidir entre as variantes colocadas pela polarização política global do século XXI.