#NiñasNoMadres: Desta vez, em Tucumán

8 DE MARÇO: LENÇOS VERDES AO AR CONTRA A OPRESSÃO

Tofi Mazú, 21 de fevereiro de 2019

 

No Hospital Eva Perón, em Tucumán, uma menina de 11 anos está hospitalizada e roga por um aborto não punível. Faz um mês que detectaram a gravidez, produto de uma violação pelo parceiro da sua avó. Mas o governo de Tucumán, a Justiça e a corporação médica ignoram a menina que declarou “Eu quero que tirem o que o velho colocou dentro de mim.”

A barbárie em sua máxima expressão

A menina veio ao hospital, não para a prática do aborto que lhe corresponde por lei, mas por se ter infringido “auto-agressão” como resultado da barbárie que vive; aparentemente, ela teria tentado se matar. O estuprador e a avó da menina são os que têm a custódia dela e de suas duas irmãs, porque a justiça patriarcal havia tirado a posse da mãe das meninas … porque as duas mais velhas haviam sido abusadas pelo seu parceiro. Das garras de um estuprador, às garras de outro estuprador.

Ela expressou claramente seu desejo de interromper a gravidez, produto da violência. Mas os funcionários desse estado capitalista e patriarcal, como no caso de Jujuy, preferem transformar meninas vítimas de abuso em mães. As terríveis tentativas de doutrinar mulheres e meninas se sucedem, enquanto o movimento feminista continua se organizando para o aborto legal. Não só corresponde a uma interrupção legal de gravidez por ter sido violentada, mas no mesmo caso judicial que investiga a violação, há um relatório de um uma médica forense que declara que a gravidez é arriscada. Não uma, mas duas causas dão mérito à prática.

Mas os reacionários, protegidos pelo governo que orquestrou a derrota no Senado no 8A1, atacam com total impunidade contra os direitos das mulheres. O secretário executivo médico do SIPROSA (Sistema Provincial de Saúde), Gustavo Vigliocco, prefere dizer a bestialidade de que “ela é grande em estrutura, pesa mais de 50 kg” e que, portanto, pode dar à luz. Não se importam nem um pouco que ela tenha sido estuprada. Eles não se importam nem um pouco que ela seja uma garota. Eles não se importam nem um pouco que ela não queira continuar com a gravidez: se ela pode fisicamente, ela pode ser mãe. Mais uma vez mostram que para eles mulheres e meninas não são sujeitos, não são pessoas; que são incubadoras e receptáculos da violência.

Em novembro do ano passado, na província do reacionário Manzur, foi feita uma tentativa de aprovar um projeto que impedisse os não puníveis. Não foi adiante, porque conflitava com o código penal e, portanto, era inconstitucional. Mas, com o apoio de Macri e da Igreja, os medievais não precisam de projetos que sustentem suas políticas misóginas. Podem simplesmente ligar para a promotora Adriana Giannoni, que não tem nada a ver com a causa, para ajudá-los a intervir como um “defensor do não-nascido”. Essa estrutura misógina e de direita só pode nos levar a concluir que, com a mobilização nas ruas, devemos fazer renunciar a Manzur, Giannoni e Vigliocco.

Defender os não-puníveis lutando pelo aborto legal

Há tão somente dois dias atrás, o movimento feminista realizou um lençaço federal. A maré verde se expressou em todo o país: em Tucumán também. Casos como esse mostram a importância de não baixar os lenços, pois somente com a luta podemos mudar o destino de cada menina. Enquanto o Estado a vitimiza, o movimento a abraça. Parece absurdo que, contando com casos tão terríveis como este, a luta do Kirchnerismo dentro do movimento feminista seja para juntar os lenços verdes com os azuis2. Quantos casos como esse devem acontecer até outubro chegar?

A luta é agora, e os clérigos sabem disso. Toda vez que podem, eles atacam essas garotas, de modo a atacar todas aquelas que se rebelam. Os reacionários devolvem cada golpe com mais barbarismo, com mais miséria, com mais violência. Está naqueles que lutam incansavelmente pelos nossos direitos, e por uma sociedade completamente diferente, sair e responder com a mobilização ante cada caso. Essa garota precisa de um aborto com urgência; nós não queremos que entem novamente usar o terrível argumento de que a gravidez já está muito avançada. Temos também um 8 de março à frente para seguir construindo, onde a demanda por aborto legal encabeça a movimentação feminista.

Tradução: José Roberto

1NT.: 8 de agosto de 2018, dia da votação da lei de aborto no senado argentino, quando houve uma enorme marcha das mulheres agitando seus lenços verdes, além de marchas de apoio em vários países do mundo, inclusive no Brasil

2NT.: Lenços azuis: movimento contra a descriminalização do aborto