Nessa semana houve mais tensionamento no interior da nova escalada de crise entre os poderes da república, particularmente entre a presidência e o judiciário. Mas, a polarização política trouxe um novo elemento. Ao contrário do que ocorria até aqui, em que as ruas estavam totalmente dominadas quase que diariamente pelo bolsonarismo desde o início da pandemia, hoje as ruas voltaram a ser polarizadas pela esquerda e por aqueles que defendem os direitos democráticos.

ANTONIO SOLER

A situação política tem como pano de fundo a orientação bonapartista (autoritária) desse governo. E o autoritarismo de Bolsonaro vai para além da retórica e já se concretizou em uma série de medidas, tais como: as políticas de armamento da sua base social, a tutela do seu governo por generais da ativa das forças armadas, o controle direto sobre o comando da PF e outras perigosas medidas.

A recente escalada de polarização começou com os inquéritos sobre duas denúncias. A denúncia de Sergio Moro de que Bolsonaro quer controlar a PF para obstruir a justiça e a proteger familiares e aliados e, também, a investigação anterior sobre o esquema de Fake News e propaganda golpista promovidos pelo governo.

Soma-se a estas denúncias o depoimento de Paulo Marinho, empresário e ex-aliado de Bolsonaro, afirmando que Flavio Bolsonaro, quando ainda era Deputado Estadual, disse-lhe que a PF do Rio de Janeiro adiou uma operação na Assembleia Legislativa do Rio que ocorreria em outubro de 2018 para não prejudicar a campanha de Bolsonaro. Além disso, a PF teria dito também a Flavio que seria investigado pelo esquema de “rachadinhas” em seu gabinete na Assembleia Legislativa.

Esse complexo cerco investigativo coloca em questão a legalidade da eleição de 2018 e traz à tona os crimes cometidos pelos filhos de Bolsonaro, pelos aliados políticos e por ele próprio. Quadro esse que explica o desespero do governo por controlar a Direção-geral da PF e o conjunto de ameaças que tem feito à institucionalidade da democracia burguesa.

Por isso, nesta quinta-feira (28), o presidente neofascista diante do Palácio da Alvorada fez mais uma ameaça explícita de ruptura institucional (golpe). “Não teremos outro dia como ontem, chega”, pois “querem tirar a mídia que eu tenho a meu favor sob o argumento mentiroso de fake news” e que comanda as “armas da democracia” e, finalmente, as “ordens absurdas não se cumprem” e que “temos que botar limites”.

A fala de Bolsonaro é autoexplicativa. Essa é uma retórica abertamente rupturista diante das investigações comandadas pelo STF que o cerca e ao bloco ultrarreacionário no poder. Por essa razão, significa uma ameaça que deve ser levada a sério pela classe trabalhadora, por sua vanguarda mais organizada, pelos movimentos sociais e pela esquerda como um todo.

Por mais que não esteja em curso um golpe de cunho fascista/bonapartista clássico com tanques nas ruas e fechamento do Congresso e da Corte Suprema, novas formas de golpismo estão sendo colocados em curso em todo o mundo. Um fechamento do regime pode ocorrer através do controle das agências policiais, da submissão do legislativo/judiciário ou, como ocorreu mais recentemente, pela agitação neofascista que leve à renúncia do presidente (Bolívia) ou à centralização do poder presidencial (Hungria).

Quer dizer, os direitos democráticos, principalmente os de organização e luta das massas exploradas e oprimidas, estão sendo abertamente ameaçados. Assim, diante da queda da popularidade de Bolsonaro, da divisão da classe dominante e da resistência a esse governo, que agora cresce nas ruas, é necessário resistir com tudo em defesa dos direitos democráticos, pelo Fora Bolsonaro e Mourão e por Eleições Gerais para que o povo decida.

Sigamos o exemplo das torcidas antifascistas

Hoje, como toda a semana, houve atos em Brasília e outras capitais em defesa do governo e pelo fechamento do regime. Em Brasília Bolsonaro passeou de helicóptero e desfilou à cavalo na frente de apoiadores para reafirmar a imagem de Bonaparte reacionário, mas os atos bolsonaristas refletem a sua popularidade, são pequenos e devem ser abafados.

Nesse sentido, o Ato Somos Democracia, realizado na Avenida Paulista e em outras cidades em defesa dos direitos democráticos sob inspiração da histórica rebelião popular negra dos Estados Unidos, foi fundamental. Essa manifestação, organizada por torcidas de futebol antifascistas e por organizações da esquerda, deu duas lições muito importantes para a atual conjuntura: só se podemos combater o fascismo nas ruas e só podemos confiar em nossas próprias forças.

A primeira lição foi reafirmada pela tradição combativa das torcidas organizadas, como a dos Gaviões da Fiel, e de outras organizações e movimentos de esquerda. Estes, ao levar a polarização para as ruas nesse momento de crise política, queda da popularidade, isolamento do governo e tensões crescentes, criaram um contraponto político prático às ameaças golpistas que abriu outra conjuntura política.

A segunda lição manifesta-se no fato de que não podemos contar com nenhuma das instituições desse regime: STF, Congresso, governos estaduais burgueses ou qualquer outra. Diante da reação dos manifestantes a uma provocação neofascista vinda do lado bolsonarista, a PM passou a reprimir violentamente com bombas de gás lacrimogêneo, cassetetes e prisões dos manifestantes que ali estavam em defesa dos direitos democráticos. Mas, muitos deles bravamente resistiram por horas na Paulista antes da dispersão total.

Nada diferente esperamos da polícia de João Dória (PSDB). A questão aqui é que para deter o avanço do reacionarismo precisamos na próxima semana em todo o país redobrar os Atos em defesa dos direitos democráticos a partir da mobilização de todos que dizem defendê-los, como o nosso partido, PSOL, o PT, a CUT e a UNE.

A queda da popularidade de Bolsonaro precisa se expressar nas ruas, para isso é preciso a total unidade nesse momento. Por isso, as organizações políticas, sociais e sindicais que estiveram ausentes neste domingo precisam convocar e sair todas às ruas para um grande ato domingo que vem.

Assim, parafraseando as manifestações estudantis em defesa do passe-livre em 2013: Semana que vem vai ser maior!

Em defesa dos direitos democráticos!

Em defesa do direito de organização e luta!

Repudiamos à violência policial de Dória!

Ocupemos as ruas de todo o país no próximo domingo!

Fora Bolsonaro e Mourão!

Eleições Gerais para que o povo decida!