A falta de critério metodológico, rigor teórico e honestidade reflete uma decadência política e teórica do MRT que a nossa corrente vem analisando em outros textos. Aqui vamos discutir as críticas que fazem à SoB através da nota Novo MAS/SoB: ruptura com a independência de classe[1] para “polemizar” com a corrente Socialismo ou Barbárie-SoB, o MRT tenta responder ao artigo “Debate no Brasil: o método de amálgama”[2]. Infelizmente essa corrente volta com as mesmas calúnias estalinistas, amálgamas, posições sectárias e autoproclamação de outrem… Mas, de qualquer forma, é válido elaborar uma resposta a título de para apresentar aos novos militantes, que fazem as suas primeiras experiências na luta de classes e têm contatos com correntes da mais variada estirpe, nossas posições sobre o complexo cenário político brasileiro, para que tirem suas próprias conclusões. Nessa nota, particularmente, vamos nos circunscrever às questões políticas brasileiras, em relação aos temas da França e Argentina indicamos o artigo El metodo stalinista de amalgama (parte II)[3].

ANTONIO SOLER

MRT redobra aposta no amálgama 

Em seu artigo, ao iniciar a “polêmica” com SoB fazem uma pífia tentativa de abordagem metodológica marxista séria, tentando desqualificar o debate afirmando que respondemos com mais adjetivos do que argumentos às críticas que fazem à  nossa política. Em nossa abordagem documentamos as denúncias que fazemos, não polemizamos de forma auto-referencial, no ar, sem procurar demonstrar o que afirmamos.

Eles praticam o método da acusação do começo ao fim do seu texto. Acusações que não se provam e não passam de calúnias, método esse característico de correntes stalinistas e/ou de filiação estalinista. Infelizmente essa corrente que se diz revolucionária tem seguido esse caminho já há algum tempo, ou seja, o método estalinista desleal de acusar sem provas e amalgamar/mesclar critérios políticos para tentar criar fatos que não correspondem à realidade.[4] O que vemos em sua resposta ao nosso artigo, Debate no Brasil: o método de amálgama, é o contrário do marxismo.

A luta por um partido independente

O MRT começa a sua polêmica em termos de “conteúdo” com nossas posições nos caluniando de perda de independência de classe que, segundo eles, se expressa em sectarismo na Argentina e oportunismo no Brasil; em um país porque não estamos na FIT e em outro porque estamos no PSOL. A perda da nossa independência de classe se daria pela adaptação à política de conciliação de classes do PSOL no Brasil, e também do NPA na França. Para isso, fazem uma defesa do PSOL como partido, por um lado reivindicando entusiasticamente o seu projeto fundacional, e por outro ressaltando que está em aberto a disputa pelos rumos que seguirá.”[5] No decorrer de toda a sua nota nos atacam sem apresentar sequer uma citação que prove as pretensas posições da SoB em relação ao PSOL. Vemos aqui na prática a destilação do stalinismo que temos que combater sistematicamente nesta e em outras correntes que derivam ao stalinismo, que incorporam este método sem hesitação, ressaltando um compromisso político  centrado única e exclusivamente no instrumentalismo, na autoproclamação, no oportunismo ou no sectarismo, a depender do caso.

Quando falamos que o método deles é o de amálgama, de prestidigitação argumentativa e de sofismo político não é por acaso e nem muito menos exagero. Em vez de polemizar sobre posições concretas, tiram posições de contextos, fragmentam discursos, amalgam para inventar o que não existe. Vejamos abaixo uma passagem lapidar de método stalino: ‘Primeiro caberia dizer que ao contrário de ‘pôr de pé uma organização socialista’ que ‘superasse a estratégia do PT’, o ‘projeto original’ do PSOL, formado por dissidentes do PT frente aos ataques dos primeiros anos do governo Lula, se sintetizou justamente na ideia de ‘retomar o PT das origens’, muito distante de um projeto socialista e revolucionário.”[6] Não pode-se  ter nada mais falsificador que isso, companheiros.

Como não podem pinçar da nossa linha política escrita ou nenhuma posição que vá no sentido da defesa da atual configuração do PSOL, do PSOL das origens e, muito menos, do PT das origens – bandeira dos setores reformistas do PSOL -, o MRT simplesmente inventa uma narrativa do SoB que obviamente não existe e nunca existiu. Com um jogo infantil de palavras tentam criar a historieta de que, para nós, com a expulsão dos “radicais do PT” (como eram chamados pela mídia os parlamentares expulsos do partido em 2003), com todos os problemas e contradições que o PSOL carrega desde a origem, sem programa socialista, direção política à altura, organização provada na luta, movimento social radicalizado, iríamos a uma organização revolucionária que superasse o PT.

O PSOL é um partido amplo de tendências antagônicas, dirigido por correntes oportunistas que se não forem derrotadas levarão o partido à conciliação de classes – o que significará a sua liquidação como alternativa à esquerda do lulopetismo. Nossa intervenção não é passadista, disputamos duramente seus rumos, afirmamos que não se trata de um partido estratégico (poucos devem ter essa caracterização no interior do PSOL), ou seja, suficiente para a tarefa histórica da revolução e da transição ao socialismo. O SoB luta em seu interior para que o partido assuma uma orientação revolucionária com programa anticapitalista, com política independente da burocracia e da patronal, organizado democraticamente por núcleos de base e que se constitua como força real na luta direta.

O partido PSOL, tendo em conta toda a nossa real caracterização sobre o mesmo, se configura como um fenômeno progressivo e que pode se perder totalmente a depender do resultado da disputa interna no próximo período, pois está ameaçado diretamente pela política frentepopulista de sua direção majoritária que prepara o ingresso do partido na frente ampla burguesa construída por Lula e o PT. Mas este é um processo ainda aberto, cabendo a disputa interna de suas forças a partir da realidade concreta da luta de classes, o papel de decidir qual será o desfecho. Essa deveria ser a aposta do MRT se não fosse uma seita que não se dispõe a enfrentar as contradições dos processos políticos desde a realidade concreta. Ou seja, a partir de encarar as tendências e contratendências do PSOL, deveriam apostar na esquerda revolucionária do PSOL para que essa derrote a direção liquidacionista e sua linha de levar o PSOL a apoiar/entrar na aliança do PT com partidos burgueses.[7] 

O MRT afirma em um exercício de pedância sem fim que “é preciso esclarecer que é totalmente abstrata a definição de que a disputa contra os ‘perigos e pressões’ dentro do PSOL está em aberto: é preciso tratar concretamente do que está acontecendo com o PSOL hoje. O partido não só atua em um bloco parlamentar com o PT como é cada vez mais seguidista de sua política. Atravessa uma enorme crise, as figuras que o partido mais promoveu, como Freixo e Jeans Willis estão diretamente indo para o PT e partidos burgueses como o PSB.”[8] Obviamente que existe, e apontamos isso em vários momentos, uma tendência que leva o partido à política frentepopulista. Mas não somos uma seita fatalista que não intervém na realidade e em suas contradições, como se o processo de liquidação do PSOL como partido de esquerda estivesse terminado e, por isso, não caberia mais a luta no interior do partido para revertê-lo. No final das contas, considerá-lo liquidado responde a um revés político sofrido em 2016 ao não conseguirem o seu ingresso no partido, ou seja, um malabarismo retórico para anestesiar uma importante frustração política.[9]

Nós, SoB, sistematicamente apontamos e combatemos a linha frentepopulista que a direção do PSOL quer impor. Em vários momentos colocamos que, a partir da eleição de Bolsonaro em 2018, a direção majoritária do partido tem usado o espantalho do “fascismo” para justificar frentepopulista. Há perigo real de golpe de extrema direita, vários indicadores vão nessa direção, mas não é entrando em uma frente popular que iremos combater as ameaças golpistas. Ao contrário, essa linha apenas desarma a classe trabalhadora para a luta. A luta para derrotar Bolsonaro passa pela mais ampla unidade de ação, pela construção de frentes antifascistas desde a base e pela construção de uma frente de esquerda anticapitalista, política essas voltadas estrategicamente para a mobilização e organização independente das massas e para a construção de organizações políticas revolucionárias. Todas essas são táticas provadas na luta de classes como eficientes para combater o autoritarismo e que nada tem a ver com a participação em frentes populares como quer a direção majoritária do PSOL. Linha que combatemos duramente porque apenas serve para destruir o caráter independente do movimento e para liquidar a construção de organizações revolucionárias, necessidades estratégicas incontornáveis. 

Em suas teses para o 7º Congresso[10], a direção majoritária fala em unidade da “esquerda” para derrotar o bolsonarismo, mas com a resolução política da última direção nacional debaixo do braço, que aprovou definir a tática eleitoral apenas em uma conferência eleitoral em 2022, vai negociando com o lulopetismo acordos políticos para o próximo ano, não se envergonha em participar de governos com o PT e a direita, e mantém sua política de zero diferenciação, exigência e denúncia diante das traições da burocracia. Enquanto tendência, há probabilidade de que a direção imponha ao partido a participação política em uma frente popular, mas as probabilidades não são realidades prontas, são prognósticos de processos que devem servir para se armar para dar a batalha, não para cair no fatalismo de que não há mais o que disputar no interior do PSOL, como faz o MRT.

Nós, ao contrário do fatalismo, apostamos em uma dinâmica de polarização da luta de classes, de desbloqueio da ação das massas e de que a base do partido irá reagir à sua liquidação para fazer a mais dura luta batalha contra o frentepopulismo – assim como crises nas bases jovens das organizações que insistem no giro ao oportunismo. Mas a explicação para que o MRT considere que a batalha no PSOL já está perdida se calca no fato de que, como não fazem parte da disputa interna no partido pela sua política abertamente fracionalista e sectária que vetou o seu ingresso no partido, estão cada vez mais isolados do conjunto da vanguarda e presos em seu doutrinarismo de seita, se não podem fazer a batalha ninguém mais pode. 

Para compreender a relação do MRT (antiga LER-QI) com o PSOL é importante saber que em nossa fase inicial, logo após a sua fundação em 2004,  essa corrente ingressou no partido não como organização política, como uma política assumida  abertamente, mas através de um pequeno agrupamento com nome fictício para logo depois romper. Essa foi uma experiência de entrismo mal-disfarçado, uma pataquada política que não lhe permitiu realizar um balanço público concreto. Depois, mais recentemente, no ano de 2016 tentou ingressar no partido de forma aberta (tivemos, apesar do seu sectarismo atroz dessa corrente, um posicionamento favorável à entrada). Mas, um documento interno do MRT que afirmava que a tática era entrar para implodir o partido vazou revelando sua tática sectária, o que frustrou o seu ingresso no PSOL. Desde então, para justificar o seu malogro de não conseguir ingressar no partido, o MRT deixou de considerar as contradições do PSOL e que ainda se trata de um partido em disputa.

Enfim, a caracterização fechada do PSOL como partido perdido para o frentepopulismo tem como elemento de fundo a rejeição do ingresso do MRT no partido devido à sua lógica de seita, mas não é o único motivo. A combinação entre concepção sectária e veto à sua entrada no PSOL faz com que tracem uma caracterização estanque, fechada e fatalista diante da realidade ainda indefinida do PSOL, já dando como fato consumado, antes do processo final, que não há mais nenhuma disputa a fazer dentro do partido. Como são os únicos capazes de dar a batalha contra a burocracia e sua entrada no no PSOL foi vetada, a única tática admissível nesse momento é romper com o partido e seguí-los em sua rota sectária, isolacionista e de autoproclamação totalmente descolada dos destinos políticos do conjunto da classe e da sua vanguarda. Nada mais sectário.

Táticas da luta contra o frentepopulismo

Aqui vamos tratar de três temas importantes: a importância da pré-candidatura  de Glauber Braga para a luta no interior do PSOL, a tática de enfrentamento ao neofascismo diante de uma hipótese de vitória de Bolsonaro no primeiro turno e como operar com o sistema de consignas políticas na atual conjuntura. Em todos estes temas o que assistimos é o sectarismo manifesto pelo MRT em sua nota.

O centro do debate no 7º Congresso do PSOL tem sido em torno do tema da pertinência ou não de uma pré-candidatura própria do partido à presidência. Com todas as nuances possíveis, a maioria da direção diz que não é hora de definir nossa tática eleitoral, porém não se envergonha em negociar a participação do partido na aliança com o PT. Enquanto isso, setores à esquerda do partido defendem a pré-candidatura do deputado federal Glauber Braga como uma ferramenta política independente.

Como o MRT não pode polemizar diretamente de forma honesta com nossas posições, trazem para o debate uma crítica a corrente[11] como escapismo para depois  afirmar que toda defesa da pré-candidatura de Braga “é movida por interesses eleitorais e cálculos sobre a melhor maneira de eleger o número de deputados necessários para ultrapassar a cláusula de barreira”[12]. Nada mais vulgar do que essa conclusão que não considera a importância de ter política concreta para a realidade concreta. Como toda seita, essa organização se esconde atrás do propagandismo para não atuar efetivamente com políticas que respondam à realidade. Nós procuramos desenvolver o método contrário.

Como dissemos anteriormente, a maioria da direção do PSOL enquanto negocia com o lulismo por cima, afirma por baixo que “não é hora de discutir tática eleitoral”. Procura confundir a base do partido amalgamando táticas políticas. Utiliza o argumento de que para derrotar Bolsonaro é necessário uma “frente de esquerda” sem distinguir frente de luta e frente eleitoral. A pré-candidatura de Braga é, nesse momento, um importante instrumento contra a linha de liquidação do PSOL como partido independente. É uma pré-candidatura que coloca a necessidade de construir uma frente de esquerda sem patrões, um programa anticapitalista e que atue para impulsionar a mobilização direta como centro da política. Neste sentido, com uma pré-candidatura própria teremos condições de convocar com mais audiência as mobilizações em unidade de ação, impulsionar frentes para lutar desde a base e organizar desde já comitês antifascistas. Por essa razão, a tática de lançar Braga como pré-candidato tem comovido a base do partido, pois se coloca como um dique de contenção ao oportunismo e à entrada do partido na frente popular burguesa de Lula e do PT.

Como parte do seu sectarismo e da cegueira correspondente em relação à dinâmica dos processos, suas contradições e tendências, o MRT ataca a pré-candidatura de Braga pela sua origem e porque, segundo eles, não apresenta um programa anticapitalista. Desconsideram em todos os aspectos que essa é uma uma ferramenta de combate interno e externo extremamente progressiva e que deve ser potencializada. Apontam a trajetória de Braga, que teve origem em um partido burguês, como “comprovação” de que não é opção independente para lutar contra o frentepopulismo no interior do PSOL. Braga não tem origem política no marxismo revolucionário e vem de um partido burguês, mas a origem política é o critério definitivo para caracterizar uma figura pública ou militante? Obviamente que não! Nos últimos anos Glauber assumiu uma rota esquerdizante com posições contra o impeachment de Dilma Rousseff, contra a Lava Jato, pela independência política na troca da Presidência da Câmara dos Deputados e, agora, colou-se à disposição de apresentar uma pré-candidatura independente do lulismo para fazer o debate tático e programático. 

No Manifesto de Apoio à sua pré-candidatura, que está sendo discutido entre os que apoiam sua pré-candidatura com vistas a apresentação de uma proposta programática mais completa, podemos verificar proposta como a do “Referendo revogatório de privatizações e as outras medidas de desmonte do Estado nas suas garantias sociais: Teto de Gastos, “reforma” trabalhista, “reforma” da previdência”; “Implementação do Imposto sobre grandes fortunas, Taxação de Lucros e Dividendos, ampliação dos Impostos sobre Heranças”; “Colocar em prática a lei do pleno emprego: o Estado como empregador de última instância: PL 5491/19. “Ampliação exponencial da tributação sobre a rede privada de saúde e educação com a reversão de todo o arrecadado para os respectivos sistemas públicos”; “Revisão da legislação responsável pela ampliação do encarceramento da juventude e da mulher negra. Aborto legal e gratuito. Ampla articulação com entidades, movimentos e coletivos, com acúmulo nas lutas, tanto para a formulação e planejamento quanto para a execução das políticas.”[13]

Certamente o Manifesto não apresenta um programa anticapitalista suficiente para a atual realidade brasileira, é preciso avançar em muitos temas, mas dizer que o “programa de sua pré-candidatura, apesar da fraseologia, nas propostas concretas se limita a um conteúdo antineoliberal, de modo nenhum “anticapitalista” como diz a SoB”, está longe da verdade. Suspender todas as contrarreformas, reestatizar empresas privatizadas, taxar o capital financeiro e as grandes fortunas, acabar com a legislação responsável pelo encarceiramento da juventude negra e garantir o aborto legal e gratuito são medidas ainda insuficentes e que precisam avançar, mas que afetam diretamente o capital e que só podem ser conquistadas com a mais ampla mobiliziação da classe trabalhadora e dos setores oprimidos da nossa sociedade. Por isso entendemos os seus limites, mas também sua importância como fenômeno progressivo que pode evoluir para a construção de posições mais radicais.

Ainda tentando desqualificar a pré-candidatura, afirmam que em entrevista Braga teria admitido “a possibilidade de até mesmo retirar a candidatura ainda no primeiro turno para apoiar Lula, em um cenário de polarização”[14]. Qual é o problema desta posição tática em um cenário em que Bolsonaro pudesse ganhar no primeiro turno? Contudo, o panorama eleitoral hoje indica que Lula ganharia com folga de Bolsonaro no segundo turno, mas estamos há mais de um ano das eleições de outubro de 2022 e muita água irá passar debaixo da ponte. Até lá, Bolsonaro pode sofrer um processo de impeachment, tentar uma golpe de estado, recuperar a sua popularidade ou qualquer combinação destes cenários pode ocorrer. Um quadro de indefinição, incertezas, possibilidades e perigos, mas que exige todo um esforço político para levar a cabo uma política concreta que dê conta da realidade (situação) concreta.

Somos radicalmente contrários a posição da maioria da direção do PSOL que nega a necessidade de uma pré-candidatura própria à presidência e negocia uma aliança com o PT. Essa posição tem o objetivo de preparar o ingresso em uma frente popular/governo de caráter burguês (por mais atípico que seja) com o argumento de ser é uma tática para enfrentar e derrotar o neofascismo, o que em hipótese alguma se deve fazer. Trata-se de uma quebra total com o princípio de independência de classe, de oportunismo qualificado, significa necessariamente uma traição aberta à classe trabalhadora e a liquidação do PSOL como alternativa independente ao lulismo. No entanto, em um cenário em que Bolsonaro pudesse ganhar de Lula  logo no primeiro turno no próximo ano, o que o MTR faria taticamente? Manteria a sua candidatura? Chamaria o voto nulo? Não importa o resultado das eleições, sabendo que um segundo governo do neofascista Bolsonaro seria ainda mais perigoso para os direitos democráticos dos trabalhadores?

Obviamente que em um cenário hipotético em que Bolsonaro pudesse ganhar no primeiro turno das eleições de 2022 – o qual não se coloca por agora – teríamos que chamar o voto contra Bolsonaro, um voto ultra crítico em Lula e não declarar nenhum apoio político à aliança ou depositar confiança em seu governo, se colocando como oposição de esquerda desde o início. Pelo jeito o MRT teria uma política de voto nulo ou manteria uma candidatura própria se tivesse condições de tê-la mesmo diante de uma hipótese de Bolsonaro se eleger em primeiro turno. Para nós essa tática é a síntese da lógica de seita que desconsidera totalmente os riscos históricos para os direitos dos trabalhadores e dos oprimidos que significa o fortalecimento do golpismo com uma vitória em primeiro turno, ou seja, uma linha política de um sectarismo que favorece diretamente o neofascimo.  Assim, acabam  fazendo política instrumentalista/propagandista, ou seja, voltada exclusivamente aos seus interesses e sem se preocupar com os destinos reais da luta de classes.

Essa corrente, que se considera marxista revolucionária, mas que pensa e age como estalinista, continua com o arsenal de mentiras, falsificações e amálgamas  quando afirma que a política do SoB pauta-se na defesa apenas do “impeachment”, querendo dizer que ficamos apenas no campo da atual ordem institucional e que não apresentamos nenhuma alternativa programática a ela. Segundo o MRT, para tentar se diferenciar pela esquerda do Movimento Esquerda Radical (frente de tendência à esquerda do PSOL), dizem que “nenhuma dessas alas defende uma política para derrubar Bolsonaro, Mourão e os militares de forma independente e em choque com todas as instituições do regime, que é uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana.”[15] De duas, uma. Ou querem polemizar com SoB sem ler os nossos textos ou mentem descaradamente para a sua base e para a vanguarda, quando desesperados em se autoproclamarem, afirmam que somente eles defendem como saída a assembleia constituinte. Obviamente que qualquer uma das duas alternativas é lastimável. Estamos mais inclinados a considerar a segunda hipótese.[16]

A pedanteria ao estilo seita dessa corrente é tamanha que eles se consideram os únicos no mundo que operam com o programa de transição. Sempre procuramos dar saída política para qualquer conjuntura, mas ao contrário do MRT que coloca a consigna de Assembleia Constituinte de forma abstrata e para toda e qualquer conjuntura, pensamos que deve atender à uma dinâmica em que o tema de uma saída mais política esteja posto, conectando-se com a realidade e preparando terreno para a ofensiva da classe trabalhadora e não vomitando de maneira mecânica consignas que passam ao largo das condições objetivas e subjetivas do cenário político. Em uma situação política reacionária que começa a encontrar conjunturas mais favoráveis para a luta, para o impeachment e para eleições gerais, certamente, a proposta de uma constituinte se coloca como uma importante tarefa de totalização política em uma conjuntura de maior atividade do movimento de massas.

O Movimento Esquerda Radical é pelo Fora Bolsonaro e Mourão, linha que não para no impeachment e nos diferencia de boa parte da esquerda fora e dentro do PSOL. Nós, do SoB, pensamos que temos que ir além, exigir eleições gerais e uma assembleia constituinte democrática e soberana imposta pela mobilização desde baixo quando for aberta uma conjuntura de maior mobilização e participação política da classe e dos oprimidos. Essa é uma linha política que está registrada em diversas notas, por isso dizer que somos a favor do “impeachment” sem apresentar sistema de consignas que aponte para superação da atual situação através da estratégia de mobilizar de forma autônoma o movimento de massas e apostando em uma ofensiva dos trabalhadores como forma de edificar uma saída política à atual situação, é de uma tremenda falta de honestidade do MRT. Esse é o velho método da autoproclamação sectária que não serve para fazer avançar a elaboração política através do debate honesto entre correntes políticas revolucionárias. 

O sectarismo que serve ao oportunismo

O MRT parte de uma tática sectária que acaba servindo ao oportunismo como  quando nas eleições de 2020 em Santo André abandonou sua candidatura à vereadora e nos atacou por manter nossa candidatura no município.

Para justificar sua posição, que acabou ajudando o oportunismo, ao se retirar do campo de batalha com sua candidatura, essa organização, que teve táticas similares às nossas em um momento diferente em outro país e nas mesmas eleições em outras cidades, mente descaradamente ao dizer que compomos chapa majoritária com a Rede e de que não demos a batalha política contra a aliança aprovada em Santo André. Mais uma vez o método do amálgama, da distorção, da prestidigitação e, agora, do duplo princípio.

Fizemos uma campanha aberta contra qualquer forma de aliança com a Rede. Em todo processo de discussão nos posicionamos contra tal linha, como muito bem sabe o MRT. Lutamos interna e publicamente durante todos os momentos – antes e depois da decisão votada pela base do partido – contra a proposta de acordo com a Rede. Desde o início do debate consideramos esse acordo que apesar de não afetar diretamente a campanha, seu programa e sua direção, era um indicador político totalmente equivocado para a militância do partido e para a vanguarda de que se o PSOL fosse eleito poderia compor um governo com esse partido.[17] 

Não se tratava de um acordo em que a Rede iria participar diretamente da chapa[18], como afirma mentirosamente o MRT, não teve presença efetiva na chapa majoritária e nem na proporcional. Assim, ao contrário do que fez o MRT que acabou ajudando a linha oportunista da dieção marjoritária, foi taticamente correto garantirmos um perfil combativo, socialista e feminista para a campanha do PSOL em Santo André e no no interior dela dar o combate contra as tendências oportunistas do partido, contra a ideia de governos de frente popular em qualquer instância e grau. Linha que através de uma exemplar campanha da nossa candidata a vice-prefeita se realizou plenamente, impactando toda a vanguarda da região e a base do partido.

O MRT manteve suas candidaturas através da legenda democrática concedida pelo PSOL em outras cidades, como em São Paulo. Mas, as suas candidaturas pelo PSOL não tiveram problema de princípio porque segundo eles “de nossa parte, consideramos que nossa política de filiação democrática é principista justamente na medida em que não deixamos de fazer nenhuma crítica”.[19] Esse argumento de duplo princípio, de casuísmo (o que mais me convém a depender das circunstâncias e interesses) não aparece apenas no Brasil. Mas ficando no caso brasileiro, quando compõem a chapa com Guilherme Boulos e Luiza Erundina (que já foi ministra de Itamar Franco e do PSB) não há problema de princípio algum, mas enquanto isso, os demais não podem ter política idêntica porque apenas eles, por alguma razão mágica sabem, combatem a conciliação de classes. Devem ser os únicos revolucionários do mundo que foram ungidos por alguma divindade.

Para terminar, esse exercício de responder novamente ao sectarismo, autoproclamação  e método de amálgama do MRT, tem o objetivo em primeiro lugar de contribuir com o debate sobre temas políticos centrais presentes na complexa conjuntura brasileira, tais como: a necessária e aberta batalha contra o frentepopulismo no interior do PSOL para que se construa como alternativa independente ao lulismo; a formulação de táticas corretas de unidade de ação, frente para lutar e frente de esquerda de modo a apostar na mobilização independente das massas em uma situação marcada por ameaças golpistas; a construção de um sistema de consignas que não seja abstrato e nem economicista mas que dê conta da dinâmica real da luta de classes; a intervenção de forma revolucionária, nem sectária e nem oportunista nos processos eleitorais para que contribua com as tarefas estratégicas que temos pela frente.

Além disso, também queremos contribuir com a compreensão metodológica de que o debate entre correntes revolucionárias não podem ser feitos de maneira produtiva se não partirem de análises honestas das posições das correntes com as quais queremos polemizar. Porém, infelizmente, mais uma vez está demonstrado que o espírito de seita, faz com que essa corrente, diante do crescimento de organizações que começam a fazer frente às suas posições na esquerda em várias partes do mundo e, com isso, em uma defesa desesperada de um lugar que está sendo perdido, vai assumindo concepção, método e prática stalinista.[20] A stalinização dessa corrente, que temos analisado em vários outros artigos, faz com que quanto mais posições sectário/oportunistas assumam, mais tentam mascará-las com autoproclamação, amálgama, distorção e falsificação da posição das demais correntes para tentar compensar a incapacidade de desenvolver posições revolucionárias de fato. Que esta nota sirva para contribuir minimamente para construirmos uma rota política  oposta à essa.


[1] Veja em Novo MAS/SoB: ruptura com a independência de classe (esquerdadiario.com.br)

[2] Em https://esquerdaweb.com/debate-no-brasil-o-metodo-de-amalgama/

[3] Em http://izquierdaweb.com/el-metodo-estalinista-de-la-amalgama-version-2-0/

[4] Veja os problemas de método em nossa nota Debate no Brasil: o método de amálgama – Esquerda Web Notícias.

[5] Em Novo MAS/SoB: ruptura com a independência de classe (esquerdadiario.com.br)

[6] Em http://www.esquerdadiario.com.br/Novo-MAS-SoB-ruptura-com-a-independencia-de-classe

[7] Sobre nossas posições sobre o PSOL veja algumas das notas: O PSOL precisa de uma tática eleitoral independente do lulismo – Esquerda Web Notícias, Independência de classe em jogo no PSOL – Esquerda Web Notícias,Oportunismo pode destruir o PSOL   – Esquerda Web Notícias e Oportunismo pode destruir o PSOL   – Esquerda Web Notícias.

[8] Veja em http://www.esquerdadiario.com.br/Novo-MAS-SoB-ruptura-com-a-independencia-de-classe

[9] Já apontamos o motivo nos anteriores artigos que elaboramos sobre este tema e abordaremos outra vez a seguir.

[10] Veja as teses em Teses e contribuições Nacionais – 7º Congresso Nacional do PSOL (psol50.com.br).

[11] Todos sabem das nossas diferenças com o MES, com seus zigzags políticos, com o taticismo que perde de vista princípios e estratégias, que não vamos nos deter aqui.

[12] Novo MAS/SoB: ruptura com a independência de classe (esquerdadiario.com.br)

[13] Leia o Manifesto em https://manifestoglauber.com.br/ 

[14] Em Novo MAS/SoB: ruptura com a independência de classe (esquerdadiario.com.br)

[15] Idem.

[16] Veja nossa posição sobre este tema, dentre outras notas, em Assembleia Constituinte imposta pela luta – Esquerda Web Notícias.

[17] Veja nota sobre o tema em PSOL de Santo André referenda chapa Bruno Daniel e Rosi Santos e chapa de vereadores/as – Esquerda Web Notícias.

[18] Atualmente não existe chapa para cargos proporcionais, no caso chapa de vereadores. Somente é permitido constituir chapas (alianças) para cargos majoritários, prefeitos e vice, governador e vice, presidente e vice. Assim, compusemos a chapa majoritária com a candidatura de vice-prefeita e com um candidato a vereador, ou seja, a Rede não estava diretamente em nenhuma das duas chapas.

[19] Em Novo MAS/SoB: ruptura com a independência de classe (esquerdadiario.com.br)

[20] Dentre os vários artigos escritos pela nossa corrente sobre a deriva estalinista do MT/PTS se pode ler Um relato apologético do estalinismo – Esquerda Web Notícias.