Publicamos a seguir a declaração do Centro de Estudos Geográficos Filipe Varea Leme – centro acadêmico de Geografia da USP – sobre a situação política na moradia estudantil da Universidade de São Paulo. A juventude Já Basta! como parte da atual gestão, junto com outras organizações e estudantes independentes, se levanta contra todo o tipo de autoritarismo da burocracia estudantil ligada ao PT e se solidariza e apoia a luta dos cruspianes que destituíram em assembleia a ultima gestão AVANTECRUSP, esta que atuava como braço político da Reitoria e da PRIP, mantendo relações espúrias de respaldo com a guarda universitária e a PM.


Pela autodeterminação contra a burocracia estudantil

No dia 08/12, es estudantes moradores do Conjunto Residencial da USP (CRUSP), em Assembleia, deliberaram a destituição da gestão AVANTECRUSP e a criação de uma comissão transitória, até que se realize novo processo eleitoral, marcado para a segunda semana de março do próximo ano – semana de retorno às aulas.

Antes de mais nada repudiamos todas as formas de violência nos espaços de discussão política do movimento estudantil e aqui entende-se como violência as agressões físicas, verbais e todos os tipos de manobras antidemocráticas e autoritárias que repelem a participação da base des estudantes de para construir a autodeterminação coletiva conforme as necessidades concretas.

A gestão AVANTECRUSP, há algum tempo, vinha acumulando uma série de contradições. Nos últimos tempos, a posição passiva, defensiva e condescendente da gestão deposta frente a graves denúncias de racismo, agressão e invasão de apartamentos, além de manifestações fascistas e racistas na moradia, apenas protegeram os agressores, os racistas e misóginos, e pouco ou nada contribuíram para nenhuma apuração dos crimes. Levaram adiante um política de aliança com a Reitoria universitária contraria às reivindicações dos estudantes.

Além disso, a AVANTECRUSP não só sabotou e tentou implodir algumas das últimas assembleias – métodos utilizados pela direita – como mostrou-se conivente com a implementação do controle reacionário de acesso aos prédios da moradia, uma postura sabidamente contrária à permanência e à livre organização des estudantes nos seus próprios espaços. Ao invés de levarem a cabo o que os estudantes debateram e escolheram, a gestão destituída uniu-se, em cúpula, com a PRIP, e serviu de cabo estudantil para amparar suas políticas reacionárias e colocar, de vez, o controle de acesso ao CRUSP.

Há uma semana ela foi deposta oficialmente em assembleia, com 58 votos favoráveis, 0 votos contrários e 3 abstenções. A  confiança política das bases des moradores se deteriorou no último período pela postura reacionária da AVANTECRUSP e, portanto, concluiu nos últimos dias que a mesma não apresentava legitimidade alguma para se manter como direção da entidade diante da postura levada adiante. A deposição foi formalizada na assembleia do dia 08/12. E, mesmo assim, a AVANTECRUSP ainda não passou à nova gestão coisas simples e fundamentais para es estudantes fazerem sua própria política: caixa de som, chave da sala da Associação, acesso à verba arrecadada, etc., com a falsa acusação deste processo se tratar de um golpe.

Em resposta a isso, es estudantes, organizades, e legitimados pelo processo político, buscaram ocupar o espaço da Associação de Moradores e garantir a troca das fechaduras durante a assembleia do dia 14/12. Entretanto, eles foram barrados e intimidados pela guarda universitária e pela PM que os impediu de levar adiante a vontade da base. No momento de escrita dessa nota, eles seguem acampados na frente do espaço, enquanto a antiga gestão fecha com a PRIP e a reitoria contra as posições estudantis.

Entendemos que a independência política e a democracia das entidades estudantis, o funcionamento pleno dos organismos de deliberação, são elementos inalienáveis e que, sem estes, o movimento estudantil não pode prosperar junto às reivindicações da base, sobretudo da juventude trabalhadora. Apenas com a democracia de base e seus organismos, sob um programa radical e independente,  é que se pode levar adiante as tarefas de maneira coletiva por uma universidade verdadeiramente pública, universal, de qualidade e democrática. É isso que garante uma política que toque a todos os estudantes e suas diferentes necessidades.

A agora ex-gestão da AVANTECRUSP foi conscientemente incapaz de construir uma política que construtiva que disputa e respeita espaços de democracia de base; na verdade fez justamente o contrário, apresentando uma natureza de gestão condominial, administrativa e empresarial. E, quando se sentiu ameaçada, isto é, com os seus interesses burocráticos questionados, recorreu às forças repressivas da Universidade contra os seus próprios pares – um escândalo que não nos recordamos de nada semelhante no movimento estudantil.

Es estudantes de maneira alguma depuseram a antiga gestão AVANTECRUSP pela disputa administrativa do aparato, mas por entenderem que esta gestão se comportava e levava adiante uma cooperação com as políticas reacionárias que atingem a juventude cruspiana – trabalhadora. Isso ficou explícito na noite de ontem, 24, quando recorreram às forças repressivas e burocráticas da universidade, agindo abertamente contra a democracia dos espaços estudantis e trabalhando, para impedir a reestruturação das direções e das formas políticas dos moradores.

Entendemos, também, que a questão do CRUSP é uma das mais importantes da USP, e, portanto, é também uma das mais complexas. Em todos os conflitos há um sem-número de variáveis, tensões internas, e cada questão menor deve ser vista com calma e critérios. As oposições e movimentações políticas também terão problemas, contradições e particularidades que devem ser pensadas e trabalhadas. Entretanto, se não há a garantia de que os estudantes possam tocar a própria política – autodeterminarem-se – então também não há chance de apurar, com mais sensibilidade e coerência tais contradições. Se não há democracia e respeito aos processos nos espaços políticos dos estudantes trabalhadores, então sequer há espaço para o debate, para a divergência e o pleno desenvolvimento da política estudantil. Os responsáveis por esses ataques à independência dos moradores devem ser denunciados amplamente no movimento estudantil e os espaços de luta recuperados, bem como os métodos e organismos de autoatividade política.

O CEGE reconhece publicamente a legitimidade política da gestão transitória do CRUSP e dos processos eleitorais a serem realizados no próximo ano — que, nos parece, devem ser pensados o quanto antes e com a maior qualidade, abertura, transparência e ampla participação da base des cruspianes —, representando uma vontade coletiva e uma nova capacidade de auto organização e reconstrução da entidade e de suas ferramentas de luta e mobilização.

Afirmar que a deposição se trata de um golpe é rir-se de toda a história de mobilização e resistência des moradores do CRUSP – golpe é ser linha auxiliar da PRIP e da Reitoria como gestão cruspiana! Trata-se de um levante dos estudantes indignados e organizados contra uma direção antidemocrática com um programa oposto ao interesse dos residentes da moradia estudantil. Apoiamos e nos dispomos a contribuir na reconstrução da entidade, desde nosso lugar como direção de um centro acadêmico de um curso em que muitos des estudantes são também moradores. A construção de entidades fortalecidas, reconhecidas entre es estudantes e moradores é de vital importância ao avanço das nossas necessidades. Nesse sentido, convocamos todes es estudantes da geografia e demais cursos da USP para se somarem à essa luta. As ferramentas de luta des estudantes devem ser des estudantes!

O próximo ano estará certamente loteado de desafios e lutas que deveremos construir em ampla unidade na base des estudantes. Devemos estar profundamente coesos, organizados e unidos para resistir aos ataques de Tarcísio à frente do governo do Estado, da PRIP e da Reitoria. Devemos garantir nossa capacidade política de articulação e nossos espaços de auto-organização e representação. Só assim poderemos batalhar por uma universidade verdadeiramente popular: no ingresso, na permanência e em sua produção, que deve servir aos interesses da classe trabalhadora.

A luta do CRUSP indica o caminho da luta por uma universidade realmente revolucionária!

Viva a luta cruspiana!

Viva a autodeterminação estudantil!