ESTADOS UNIDOS

Novos ataques direitistas de Donald Trump contra os povos do Terceiro Mundo, os imigrantes e a oposição

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu o mundo novamente com seus comentários no Twitter. Desta vez, foi um ataque profundamente racista, xenófobo e imperialista contra quatro deputados do bloco do Partido Democrata: Alexandria Ocasio-Cortez, RashidaTlaib, Ilhan Omar e AyannaPressley. São quatro mulheres que se opõem às suas políticas, que também vêm de vários setores oprimidos: uma descendente de porto-riquenhos, outra de palestinos, outra somali e outra afro-americana. Elas foram eleitas com base em campanhas políticas de conteúdo progressista e, em alguns casos, inclusive, reivindicando o “socialismo democrático”.

Ale Kur, 22 julio, 2019

Para entender a seriedade dos ataques de Trump, copiamos diretamente a tradução de suas palavras, publicadas em 14 de julho:

É muito interessante ver os congressistas democratas “progressistas”, que vieram originalmente de países cujos governos são uma catástrofe completa e total, os piores, mais corruptos e ineptos de qualquer parte do mundo (se eles têm um governo em funcionamento), dizendo agora, cruelmente, ao povo dos Estados Unidos, a maior e mais poderosa nação da Terra, como nosso governo deveria funcionar. Por que elas não voltam e ajudam a consertar lugares totalmente destruídos, infestados pelo crime daqueles que vieram? Aí então voltem e nos mostram como é feito (…)”[1]

Não é necessário ser um especialista em comunicação política para entender que é uma provocação repugnante. Em poucas linhas, ele despreza regiões inteiras do mundo, afirma a supremacia imperialista dos Estados Unidos e nega seu caráter de cidadãs a quatro deputadas da oposição (e as convida a deixar o país).

A razão desse ataque reacionário é que essas quatro deputadas progressistas têm repudiado publicamente a política de imigração de Donald Trump, no contexto de um crescente questionamento popular. Esta discussão tem estado no centro da cena americana há várias semanas, aumentando sua presença nos meios de comunicação.

Desde o início de 2019, os órgãos de repressão responsáveis pelo controle de fronteiras (ICE) colocaram cerca de 600.000 imigrantes sob custódia.[2] Os detidos estão presos em “centros de detenção” que nada mais são do que gaiolas, em condições desumanas de superlotação e insalubridade, sem qualquer tipo de higiene. Para agravar essa situação, centenas de crianças são separadas de seus pais [3] (que são diretamente deportadas), um grave abuso dos direitos humanos que vem causando um forte escândalo internacional. Sete crianças morreram nessa situação desde o ano passado.

A situação é permanentemente agravada na medida em que a forte deterioração socioeconômica na América Central, México e em toda a América Latina resulta na expulsão em massa de pessoas que não encontram oportunidades em seus países de origem. O capitalismo não dá qualquer tipo de perspectiva a esses países que, por outro lado, foram saqueados por mais de um século por empresas americanas. Enquanto isso, a esses migrantes latino-americanos os Estados Undosa lhes fecha fronteiras, os persegue, prende e deporta. Em muitos casos, eles nem chegam vivos: há cerca de um mês viralizou a imagem de uma criança e seu pai salvadorenho que morreu afogado enquanto tentava atravessar o Rio Grande, causando uma forte comoção global.[4]

Neste contexto, há alguns dias grandes manifestações se realizaram nos Estados Unidos rejeitando a intenção de Trump de deportar 2.000 imigrantes, e mais de conjunto, denunciando a política desumana de dois “centros de detenção”.[5] Além disso, a questão da imigração não é apenas sobre um problema dos EUA: nesta semana, há também notícias os protestos dos chamados “Coletes Negros” na França, imigrantes sem documentos (em sua maioria africanos) que exigem direitos de cidadania plena. Esse mesmo caso foi também um dos principais eixos de conflito na União Europeia nos últimos anos, especialmente a partir de migrações maciças do Oriente Médio como resultado de guerras na Síria, Líbia, Iraque, Afeganistão, etc. Tragicamente, o Mar Mediterrâneo é um cemitério para centenas de imigrantes que tentam penetrar na fortaleza europeia em busca de um futuro.

A questão da migração é, portanto, um dos principais problemas do mundo de hoje. É necessário derrotar as forças reacionárias em todo o mundo, como Trump, Marine Le Pen, os Salvini e os Bolsonaro, que destilam ódio contra os povos oprimidos, contra os povos de cor, contra os povos do Terceiro Mundo. Mas também é necessário derrotar as forças “de centro” e até “progressistas”, que apoiam as mesmas políticas de exclusão dos migrantes, como aconteceu durante a administração de Obama nos Estados Unidos, ou como atualmente a maioria dos países da União Europeia

Em todo o planeta, é necessária uma saída socialista, que abra as fronteiras e que, acima de tudo, ofereça um futuro aos bilhões de pessoas que vivem em países subdesenvolvidos e cronicamente estagnados. Um futuro que não seja a deportação, a morte e os campos de concentração que lhes oferece hoje o capitalismo imperialista.

NOTAS


[1] @realDonaldTrump, 14/7/19. Em: https://twitter.com/realDonaldTrump/status/1150381394234941448

[2]  “Chilling first-hand reports of migrant detention centers highlight smell of ‘urine, feces,’ overcrowded conditions” USA Today, 17/7/19. En: https://www.usatoday.com/in-depth/news/politics/elections/2019/07/16/migrant-detention-centers-described-2019-us-government-accounts/1694638001/

[3]  “A crise humanitária nos centros de detenção de imigrantes de Trump”, IzquierdaWeb, 27/6/19. En: http://izquierdaweb.com/la-crisis-humanitaria-en-los-centros-de-detencion-de-inmigrantes-de-trump/

[4]  “Foto de um crimen imperialista”. IzquierdaWeb, 27/6/19. Em http://izquierdaweb.com/la-foto-de-un-crimen-imperialista/

[5]  “Masivas protestas contra la cacería de inmigrantes y los campos de detención de Trump”. Por Luz Licht, IzquierdaWeb, 16/7/19, en: http://izquierdaweb.com/masivas-protestas-contra-la-caceria-de-inmigrantes-y-los-campos-de-detencion-de-trump/.