Para fortalecer a greve é preciso reconstruir a Oposição de Esquerda na USP!

Juventude Já Basta!

Uma greve que pode ser histórica

No dia 18 de setembro explodiu a greve estudantil na USP pela contratação imediata de professores e soluções diante dos graves problemas de permanência. O movimento teve seu foco inicial na FFLCH, mas rapidamente se espalhou pela universidade (Butantã, EACH, São Francisco e outros campi), demonstrando a profundidade do sucateamento da educação na maior universidade da América Latina. Hoje há 30 cursos em greve, incluindo alguns como a Poli e a FEA que não entravam em greve há mais de 20 anos.

Nesse sentido, trata-se de uma greve estudantil forte que apresenta reivindicações muito profundas que questionam o projeto ultraliberal da burguesia para a educação pública. Ainda mais importante: num sentido estratégico, representa um recomeço na experiência de luta para as novas gerações da USP e retoma os métodos históricos do movimento estudantil, como os piquetes e a unidade operário-estudantil. Por isso, é fundamental colaborarmos para garantir a sua vitória, para assim romper com o ciclo de derrotas parciais que aconteceram nos últimos anos e, também, para reverter o enfraquecimento do movimento estudantil produzido pela pandemia. 

Mas também é importante acrescentar um fato que transcende o plano universitário: a greve da USP é simultânea a uma nova onda de lutas operárias e trabalhistas no estado de São Paulo contra os ataques impulsionados pelo governador de extrema direita Tarcísio de Freitas. Amanhã, dia três de outubro, por exemplo, vai acontecer a greve dos trabalhadores e trabalhadoras do metrô, da CPTM e Sabesp contra a privatização dessas empresas, o que possibilita a construção de uma jornada de luta estadual unificada entre os sindicatos e o movimento estudantil. 

Assim, a greve da USP pode ser histórica, mas para isso é preciso que seja ainda mais massiva, que a unidade operário-estudantil se concretize e, muito importante, que saia vitoriosa dessa batalha contra a reitoria e as autoridades universitárias. 

Uma batalha dura…

Como apontamos previamente, nossa greve expõe as dramáticas condições de ensino e permanência na USP, além de escancarar a precarização do trabalho dos funcionários da universidade que, entre outras práticas exploradoras, são obrigados a repor horas “não cumpridas” nas emendas de feriados (o dito “banco de horas”). Isso demonstra o caráter de classe da direção da FFLCH e das outras faculdades, assim como da reitoria. No percurso da greve, ficou evidente que há uma cumplicidade entre Paulo Martins (filiado ao PT) e demais diretores de outras unidades, Carlotti, Tarcísio (quem escolherá o próximo reitor) e Lula/Alckmin, que dão as mãos pela precarização da educação pública em todas as instâncias.

Por causa disso, até agora as autoridades universitárias se mostram desafiantes diante da greve que aponta diretamente contra o centro de sua política de precarização e sucateamento da universidade pública. A volta do gatilho automático, a contratação imediata de professores para os cursos que não interessam ao grande capital financeiro, assim como a reversão das práticas de precarização do trabalho, quebra os mecanismos para implementar o ajuste e a reforma curricular ultraliberal na USP. 

Por conseguinte, repetimos, a greve enfrenta uma resistência dura da reitoria e demais autoridades universitárias, que apostam em derrotar o movimento pelo cansaço e enfraquecimento com o passar das semanas. As provocações de Paulo Martins contra o movimento na grande mídia, assim como a ausência do reitor e da vice-reitora durante a segunda reunião de negociação (o primeiro estava em viagem pela Alemanha e a segunda só ficou quinze minutos na sala e depois foi embora sem nenhuma justificativa), são exemplos do que apontamos. 

Do mesmo modo, começam pressões de professores e chefias para furar a greve, seja com ameaças de aplicar provas ou de impor represálias contra os estudantes e funcionários que apoiam a luta. 

O DCE não tem política para ganhar a greve

Por outro lado, nossa greve apresenta uma grande contradição: acontece e se fortalece apesar do DCE não centralizar política e organizativamente a luta. Isso não deve gerar surpresa, pois a gestão “É Tudo Pra Ontem” (MES/Juntos, UP/Correnteza, e PCB-RR/UJC) demonstrou durante todo esse ano que não tem plano algum para construir a mobilização estudantil e, pelo mesmo motivo, se recusou a chamar uma assembleia geral no primeiro semestre. Foi necessário que explodissem as lutas na EACH e, recentemente, na ECA e na Letras, para que o DCE decidisse chamar a assembleia devido à pressão que surgiu a partir das bases dos cursos.  

Até agora o DCE tratou de ocultar a sua insuficiência política com um discurso “triunfalista”, isto é, apresentando como uma vitória cada reunião com o reitor e falando que a greve já é histórica; um discurso autocomplacente que não explica às bases dos cursos os desafios colocados nesta luta para que seja realmente vitoriosa. Em outras palavras: o triunfalismo do DCE é a máscara usada para esconder sua falta de política. Além disso, não tem orientação alguma para construir a unidade operário-estudantil, como ficou evidente pela ausência da entidade e das correntes que a dirigem nas duas assembleias dos funcionários convocadas pelo Sintusp para debater a greve e pela falta de disposição para abrir um diálogo entre as categorias e discutir as demandas dos funcionários nos espaços do movimento estudantil

Pela reconstrução da Oposição de Esquerda para fortalecer a greve

No último CONUNE, diversas correntes colocaram como tarefa a reconstrução da Oposição de Esquerda devido à sua dissolução pela capitulação das organizações, que atualmente compõem o PSOL e o governo de frente ampla e liberal-social de Lula-Alckmin. Durante o congresso, chamamos as organizações da esquerda independente para “(re)construir a oposição de esquerda na UNE e lutar de maneira unificada por uma entidade independente deste governo, dos patrões e da burocracia que tem servido ao longo do tempo como força contentora da mobilização da juventude e das massas trabalhadoras”.

Achamos que essa tarefa é ainda mais importante no meio da greve. É urgente lutar contra as limitações políticas e os desvios burocráticos do DCE, pois representam um risco para o desenvolvimento vitorioso da luta. Por exemplo, no informe ao finalizar a segunda reunião de negociação, uma representante do DCE falou que, na próxima assembleia geral, era preciso aprovar um plano de luta… No décimo dia de greve o DCE aceitou publicamente que não tem ideia alguma do que fazer para dirigir vitoriosamente nossa luta! 

Ainda mais: na última reunião do Comando de Greve Geral, o DCE manobrou para garantir que a equipe negociadora pelos estudantes fosse composta majoritariamente pelas correntes que o compõem (UP/Correnteza; PCB-RR/UJC e MES/Juntos) e, sem fundamento algum, deixou de fora a representação da Geografía que, junto à Letras, foi um dos primeiros cursos da universidade a aprovar e entrar em greve e tem uma sólida pauta de reivindicações construída ao longo do ano com estudantes, professores e funcionários do curso

Para nós, do Já Basta!, a greve está num momento complexo, pois ao mesmo tempo que tem força nas bases dos cursos, carece por completo de uma direção coerente e realmente lutadora (repetimos, o DCE não construiu a greve) e tem inimigos poderosos que já demonstram apostar em derrotar a luta pelo cansaço. 

Abriu-se uma disputa pela direção da luta e, diante disso, achamos ser fundamental que se conforme uma alternativa política capaz de superar as lacunas e os vícios burocráticos da atual gestão do DCE, contribuir para a vitória dos estudantes e batalhar por um movimento estudantil independente dos governos que levante as bandeiras fundamentais da classe trabalhadora hoje, como a luta contra a privatização da Sabesp, da CPTM e do Metrô. 

Por isso chamamos os companheiros do Rebeldia, da Faísca e ativistas independentes que concordam com a necessidade dessa alternativa para um primeiro encontro rumo à reconstrução da Oposição de Esquerda na USP, um espaço onde possamos encontrar um programa comum para vencer essa greve, intervir de forma unificada nos espaços e fortalecer a aliança entre estudantes e trabalhadores na universidade e fora dela.

Nós acreditamos que as reivindicações para vencer essa greve passam por cinco eixos:

  1. Contratação de professores por regime de dedicação exclusiva (RDIDP) por concurso público;
  2. Volta do Gatilho Automático de contratação de docentes;
  3. Permanência estudantil para toda a demanda e auxílio permanência no valor de um salário mínimo;
  4. Fim do banco de horas para funcionários;
  5. Nenhuma represália judicial, administrativa ou acadêmica contra os estudantes, trabalhadores e docentes que se somam à greve.

Apresentamos esses eixos como uma proposta de reivindicações comum para nossa luta, pontos centrais que acreditamos que o movimento pode arrancar da reitoria com a forte mobilização que temos visto em dezenas de cursos. Queremos debatê-los e avançar na construção desses eixos em unidade com a esquerda independente.

Nossa greve tem muita força e pode se consolidar em uma luta histórica. Transformar essa potencialidade numa realidade é o desafio colocado para o movimento estudantil da USP, no qual as correntes da esquerda revolucionária e os ativistas independentes podem desempenhar um papel importante. É momento para superarmos o sectarismo e avançarmos na unidade de ação entre as correntes da esquerda independente, rumo à vitória da greve na USP e à retomada de uma forte aliança operário-estudantil.