ANTONIO SOLER

No mesmo dia em que o número de mortos pelo novo coronavírus ultrapassava 11600, comprovando que o Brasil é o atual epicentro da Covid-19 no mundo, Bolsonaro anunciava que publicaria no Diário Oficial da União um Decreto em qual inseriria academias de ginástica, salões de beleza e barbearias na lista de serviços essenciais.

Mais uma vez, Bolsonaro age em total descompasso com os demais entes federados (Estados e Municípios) nesse tema. O que fez com que, diante desse anúncio, a chiadeira fosse generalizada. Governadores e prefeitos reagiram dizendo que seguiriam apenas as orientações de profissionais da saúde, ou seja, ignorar o Decreto Presidencial.

O Decreto, além de ter sido regido pela lógica do negacionismo e da ruptura com o pacto federativo, pegou de “surpresa” seu próprio Ministro da Saúde, Nelson Teich. O atual Ministro da Saúde, se assim podemos chamá-lo, soube por intermédio dos repórteres durante uma entrevista coletiva do anúncio de Bolsonaro, que o fazia praticamente no mesmo momento da entrevista.

Aparentemente estupefato, declarou que “isso aí é uma decisão do presidente”. No entanto, a surpresa do ministro não significou exatamente uma surpresa para o público. A exoneração do ex-ministro Henrique Mandetta, que apesar de não ser exatamente um militante da saúde (longe disso) polarizava publicamente com o negacionismo de Bolsonaro, deu lugar à nomeação de um sujeito que é um preposto no Ministério da Saúde.

Teich não fala contra o isolamento social e não reproduzir o negacionismo de Bolsonaro, mas atua sob tutela da Secretaria de Comunicação (que compõe o núcleo duro do bolsonarismo), pelo Secretário Execuatvio e outros militares que povoam a pasta e, agora, parece passar por um processo de fritura. Isso mesmo, em meio a maior crise sanitária do Brasil e do mundo, podemos ter novamente a troca do titular do Ministério da Saúde.

Apesar de não ser exatamente um negacionista, depois de quase um mês de nomeação, em meio à iminente catástrofe sanitária nacional, Teich ainda não disse ao que veio. Ou melhor, foi colocado à frente do Ministério da Saúde como um tampão para não atrapalhar o discurso negacionista e genocida deste governo.

Diante dessa catástrofe sanitária nacional, não há posicionamento de Teich, e muito menos de Bolsonaro quanto à necessidade de disponibilizar imediatamente os leitos dos hospitais privados para todas as vítimas da Covid-19 – em todas as capitais os leitos públicos disponíveis já estão se esgotando –, de realizar investimentos maciços para a compra e produção nacional de equipamentos e insumos e de alocar pessoal para combater a pandemia. Ou seja, um conjunto de fatores que está colapsando o sistema nacional de saúde.

Esse decreto de ampliação das “atividades essenciais” tem por objetivo gerar um número muito maior de contágios e mortes pelo novo coronavírus. Essa medida visa fazer política para uma parte importante da sua base de apoio (micro e pequenos comerciantes) que está desesperada com a queda da sua renda devido ao fechamento do comércio e a ausência de apoio financeiro efetivo por parte do governo federal.

Às custas do adoecimento e da morte de milhares de pessoas a mais, Bolsonaro quer manter e mobilizar a sua base social para evitar o processo de impeachment, em um primeiro momento. E, de quebra, em um segundo, apostar em um cataclismo sanitário objetivando criar as condições sócio políticas que julga necessárias para avançar em seu projeto autoritário de poder.

Porém, o processo de desgaste desse governo genocida cresce, as denúncias que quer controlar a PF para evitar investigações sobre o envolvimento de seus filhos com as milícias do Rio de Janeiro, corrupção, assassinatos e fake News têm ganhado força e podem criar a tempestade perfeita necessária para um processo de impeachment.

Mas, para que a conjuntura política se converta a nosso favor, a esquerda, com o nosso partido (PSOL) à frente, precisa romper imediatamente com essa mórbida passividade diante dos fatos. É necessário entrar em cena para mobilizar setores amplo – atos preservando o distanciamento social, colagem de faixas, carros de som, panelaços, apitaços e etc. – para que a saída dessa crise, que pode não tardar, seja-nos favorável. Disso depende a evolução da conjuntura e o nosso destino.