Oliviana La Desa e Deborah Lorenzo

Bolsonaro mais uma vez, de maneira criminosa, disseminou informações falsas sobre os imunizantes contra a Covid-19, em uma live transmitida no dia 21/10 em suas redes sociais. Esta é apenas mais uma dentre as centenas de mentiras veiculadas por ele desde o início da pandemia. Da “gripezinha” ao kit Covid, Bolsonaro segue desferindo uma série de ataques ao sistema único de saúde, empregando todas as energias em um processo de desmonte, sucateamento e transição do patrimônio público para a iniciativa privada por meio de contratos e acordos superfaturados.

Em sua live, Bolsonaro afirmou – sem citar fontes – que relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que os totalmente vacinados estão desenvolvendo síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) muito mais rápido do que o previsto. O Departamento de Saúde e Assistência Social do Reino Unido desmentiu a existência de tais “relatórios oficiais” – sabemos que as informações falsas, quando disparadas, circulam em proporções muito maiores do que as informações para desmenti-las; consequentemente, os danos muitas vezes são irreversíveis.

Uma série de entidades médicas, como a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a Associação Médica Brasileira (AMB) e a UNAIDS, além de cientistas microbiologistas, infectologistas e epidemiologistas vieram a público desmentir tal afirmação esdrúxula e sem qualquer referencial teórico-científico fidedigno. O próprio Conselho Federal de Medicina (CFM) não conseguiu se furtar de esclarecer a inveracidade da informação, ainda que o tenha feito sem mencionar o nome do presidente ou correlacioná-lo ao fato.

Em nota, a AMB declara: “Já são, no mínimo, centenas as inverdades sobre o SARS-CoV-2 alardeadas no Brasil por autoridades cujo papel deveria ser resguardar e não expor a população a riscos. Entre essa fake news, versões de que seria somente uma gripezinha e a defesa da eficácia do kit Covid, só destacando algumas que milhares de vidas ceifaram de nosso convívio.”

A perda de incontáveis (de centenas de milhares de) vidas foi promovida pela política negacionista, mentirosa e reacionária, que acabou por desmontar as bases de nossa sociedade, nos colocando em uma crise sócio-sanitária sem precedentes em nossa história. A postura do governo Bolsonaro durante a pandemia de coronavírus é digna de ser avaliada e julgada; suscitar tal cenário de crises sociais, sucatear universidades públicas, retirar o incentivo à pesquisa, omitir e inventar dados são apenas alguns crimes cometidos pelo presidente – para além das constantes ameaças aos direitos democráticos.

A desinformação como arma bolsonarista

No atual cenário de disseminação em massa de notícias falsas e conteúdos sem qualquer embasamento científico ou teórico, há um rebaixamento do nível de competência do pensamento político – e consequentemente ideológico – , que acaba por refletir negativamente sobre a interpretação da realidade. Dado este descaso (consciente) com a ciência e a medicina, esta “realidade paralela” reacionária e negacionista dá vida a verdades e certezas que em grande parte se distanciam dos conhecimentos já adquiridos e das lutas já conquistadas, enfraquecendo a classe trabalhadora.

Entre afirmações mentirosas e incertas, a desinformação serve como manobra para promover o distanciamento entre a população e realidade factual, construindo narrativas e defesas políticas há tempos superadas, e que justificariam então, por um lado, uma agenda ultra capitalista e, por outro, intenções autoritárias para um eventual fechamento de regime. Vale lembrar, inclusive, que foi através desta mesma política de desinformação que Bolsonaro se elegeu – e que mantém uma base social perigosa e fiel entregue à sua narrativa. O desmonte de diversos setores públicos se dá como pano de fundo desta grande peça de teatro. Educação, saúde, segurança, condições básicas de vida e trabalho – e entre outros recursos – um a um, como um dominó em fileira, são sucateados e derrubados, por mais que não haja uma derrota histórica à nossa classe.

O negacionismo e o discurso de ódio nessas situações se mostram na forma com que a verdade (ou melhor, a mentira) é criada, a quem ela se direciona e o seu objetivo. Neste caso, relacionando a vacina do coronavírus ao desenvolvimento da AIDS, o presidente deixa de lado anos de estudos sobre vacinas, ignora fatos e dados vindos da medicina e ainda cria narrativas; afetando, enfim, pessoas com a síndrome da imunodeficiência adquirida, que ainda hoje sofrem de preconceitos e estigmas sociais, relacionados tanto à deficiência quanto à sexualidade: uma combinação perversa entre a disseminação do preconceito e da manutenção da marginalização da sociedade soropositiva com um negacionismo criminoso.

As representações e informações falsas utilizadas pelo bolsonarismo como ferramenta política, para além de tipificarem crimes, evidenciam o profundo impacto social que cristalizam e a necessidade em caráter de urgência em serem combatidas. A nível internacional, estes espaços virtuais – sem qualquer regulamentação – são ocupados por ideias e propagandas neofascistas, refletindo uma preocupante característica deste período. A luta contra as descontextualizações (tendenciosas, generalistas) e a defesa da democracia são pautas importantíssimas a serem levantadas e sustentadas por todas as parcelas da sociedade.

Crime e impunidade

A bancada do PSOL na câmara dos deputados protocolou no dia 25/10 uma notícia-crime no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o presidente Jair Bolsonaro pela disseminação de informação falsa associando a vacina contra a covid-19 com o desenvolvimento de AIDS.

As acusações centrais da denúncia são violações ao Código Penal, infração de medida sanitária preventiva e perigo para a vida ou saúde de outrem, à Constituição Federal, princípio da moralidade, à Lei de Improbidade Administrativa e crime de responsabilidade.

Os passos seguintes, no entanto, obedecem à lógica da democracia burguesa – que tem toda a sua rigidez pautada nos interesses da classe dominante, sem qualquer compromisso com a justiça social – necessitando de inúmeras etapas de aprovação que vão do relator, Luís Roberto Barroso, à Procuradoria-Geral da República (PGR) na figura de Augusto Aras (alinhado ao Governo Federal), retornando ao STF para, enfim, passar pela autorização de, no mínimo, dois terços da Câmara dos Deputados para o prosseguimento da ação. Apenas ao final de toda esta cadeia política o Supremo passaria a analisar juridicamente a acusação.

Já a cúpula da CPI da Covid encaminhará ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito das fake news no STF, pedido de medidas legais contra o presidente, incluindo bloqueio de suas contas nas redes sociais.

O Facebook e o Instagram removeram o vídeo de suas respectivas plataformas. Já o Twitter apenas sinalizou que o post violava as regras da rede sobre “publicação de informações enganosas e potencialmente prejudiciais relacionadas à COVID-19”. Determinaram, contudo, que era de interesse público que o vídeo permanecesse disponível.

O YouTube, por sua vez, removeu o vídeo da Live de sua página e aplicou medida punitiva de suspensão temporária (uma semana) da conta do presidente. Segundo a plataforma, a medida visa zelar pelas diretrizes da empresa e aponta que o conteúdo do vídeo possui “desinformação médica sobre a COVID-19 ao alegar que as vacinas não reduzem o risco de contrair a doença e que causam outras doenças infecciosas”.

Mobilizações sociais

O quadro político da atual conjuntura segue sustentado a partir de um persistente equilíbrio instável, com riscos e possibilidades. Contudo, nas últimas semanas o que se pode perceber é que há uma tentativa de realinhamento político de Bolsonaro – que recua em suas ameaças golpistas após o ensaio do 7 de Setembro e avança taticamente com medidas populistas para tentar se recuperar para o próximo ano eleitoral.

Somado a isso, a pressão institucional, com a CPI da Covid e os mais de cem pedidos de impeachment se esfriam junto com o refluxo das mobilizações de rua pelo Fora Bolsonaro. Ou seja, por ora não vamos nem ao impeachment e nem ao golpe, um cenário que nada garante que Bolsonaro, se recuperado, não possa fechar o regime ano que vem.

Diante de mais de 600 mil mortes por Covid, da escalada da fome e da miséria, do desemprego estrutural e das ameaças às liberdades democráticas, não se pode permitir que haja espaço para Bolsonaro e sua política criminosa, é preciso responsabilizá-lo pelos seus crimes e assim derrotá-lo categoricamente. Hoje o grande desafio é colocar uma mudança substancial na correlação de forças do governo com importantes contingentes das massas trabalhadoras nas ruas.

Assim, é preciso combinar as exigências nas instituições políticas com a luta na rua pela responsabilização legal dos crimes cometidos por este neofascista que ocupa a cadeira de presidente! Responsabilização legal esta que já deveria ter sido feita! Diante de tais fake news, exigimos também a exclusão permanente do perfil de Bolsonaro em todas as redes sociais, não nos contentando como a esquerda da ordem com a suspensão temporária dos perfis do neofascista. É preciso varrer Bolsonaro do meio físico e virtual.

Sob este equilíbrio instável, pesemos a balança para o lado dos explorados e oprimidos, superando de uma vez por todas a política de sangrar Bolsonaro até 2022. Assim, devemos nos apoiar nas contradições colocadas na realidade com o retrocesso histórico na condição de vida dos explorados e oprimidos e intervir politicamente junto aos setores de nossa classe que protagonizam importantes processos de luta. A presença da juventude nos espaços de discussão política nas universidades e a serviço da luta também será fundamental e decisivo. Para ações concretas, o povo nas ruas e a pressão popular são a solução! É somente através de manifestações em massa que poderemos mobilizar forças para lutar contra este fenômeno negacionista e reacionário de Bolsonaro e seus apoiadores!

Fora Bolsonaro e Mourão!

Exclusão imediata dos perfis de Bolsonaro em todas as redes sociais!

Referências

https://g1.globo.com/google/amp/tecnologia/noticia/2021/10/25/twitter-post-bolsonaro-vacina-covid-aids.ghtml

https://www.google.com.br/amp/s/www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/10/amp/4958007-youtube-retira-do-ar-video-de-bolsonaro-com-fake-news-sobre-vacina-e-aids.html

https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2021-10/facebook-remove-live-em-que-presidente-associa-vacina-de-covid-aids?amp

https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/10/4957932-deputados-protocolam-noticia-crime-contra-bolsonaro-por-associar-vacina-e-aids.html

https://www.google.com.br/amp/s/g1.globo.com/google/amp/saude/noticia/2021/10/25/inaceitavel-diz-associacao-medica-sobre-fake-news-de-bolsonaro-sobre-vacinas-e-hiv.ghtml

https://g1.globo.com/google/amp/politica/blog/valdo-cruz/post/2021/10/25/bolsonaro-da-municao-a-oposicao-ao-espalhar-fake-news-e-associar-vacina-e-aids-dizem-aliados.ghtml

Vacinação contra Covid-19 provoca vírus da AIDS? Bolsonaro reproduz notícia falsa

https://www.jota.info/stf/do-supremo/barroso-e-relator-de-noticia-crime-contra-bolsonaro-sobre-vacinacao-e-aids-25102021 https://youtu.be/NKvgMlBaKl0