Além de auto denúncia de pedofilia, o presidente neofascista negligencia suposta situação de exploração sexual de menores

Deborah Lorenzo 

Em entrevista a um podcast na última sexta-feira (14), Bolsonaro relatou uma ocasião na qual visitava a  comunidade Morro da Cruz, São Sebastião (DF), em abril de 2021. Na época, a visita foi transmitida ao vivo em redes sociais. Segue a transcrição de um trecho de sua fala ao podcast.

“Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas; de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei, ‘posso entrar na tua casa?’ Entrei […] Tinha umas 15, 20 meninas, [num] sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Você quer isso para a tua filha, que está nos ouvindo aqui agora. E como chegou neste ponto? Escolhas erradas”.

Após a repercussão nas redes, uma das mulheres venezuelanas presentes na data se manifestou explicando que, na verdade, a casa sediava uma ação social cuja finalidade era fornecer capacitação profissional àquelas jovens. Ainda em virtude da repercussão negativa, Bolsonaro abriu uma live em meio à madrugada deste domingo (16) na tentativa de se defender de acusações e ressaltar sua indignação frente à situação, insinuando novamente que houve suspeita de sua parte de que as menores estivessem sofrendo exploração sexual. Não esboçou, contudo, qualquer preocupação com as possíveis vítimas, senão com sua própria imagem.

O fato é que independente da acusação ter ou não se confirmado, Bolsonaro deixou escapar o conteúdo misógino e machista típico de seu repertório, além de elementos gravíssimos de negligência aos direitos da criança e do adolescente. Ao declarar que “pintou um clima” entre ele e adolescentes de 14-15 anos, admitiu conceber a possibilidade de que um homem adulto tenha interesse ou qualquer interação sexual com menores, ou seja, uma fala com nítidos elementos de pedofilia. 

Como se isso não fosse suficientemente grave, não encontrou problema algum em ignorar uma suspeita de abuso e exploração sexual de menores – ainda que tenha declarado abertamente sua suspeita em duas ocasiões diferentes, a entrevista e a live. Optou por negligenciar completamente a necessidade de denúncia e investigação, naturalizando a situação como uma forma de “ganhar a vida”. 

Crianças não ganham a vida com prostituição, Bolsonaro. Elas são vítimas de exploração sexual e têm suas vidas destroçadas, não raramente perdidas, em virtude destes crimes. Essas crianças necessitam de acolhimento, terapia, cuidados em saúde e toda a proteção legal que o estado e a sociedade possam colocar à disposição. Seu bem estar é nossa responsabilidade e denunciar situações suspeitas é uma obrigação, sobretudo se considerar a figura de um chefe de estado.

Vale aqui enfatizar o nome correto para esse tipo de fato: CRIME de exploração sexual de menores. O senhor não o nomeia desta forma, pois assim não o concebe. Viu mulheres em corpos de crianças e, portanto, corpos femininos a dispor da exploração sexual, uma forma de “ganhar a vida”. Logo, como tudo isso é perfeitamente aceitável, natural, coisas da vida, não há necessidade alguma de se alarmar. Aliás, em nenhum momento houve qualquer demonstração de desconforto, constrangimento. Nada. Nenhum afeto. Não é capaz de se afetar porque não se importa, porque despreza o valor destas vidas.

Essa é a mais abjeta naturalização da exploração e servidão sexual em que as mulheres são submetidas historicamente. Bolsonaro é um neofascista, que odeia as mulheres, LGBTQIA+, negros, pobres e qualquer parcela da sociedade que faça resistência a seus ideais, projetos e ações regressivos. Ele é um representante da burguesia e, particularmente, das frações mais reacionárias que governa o tempo todo para aprofundar a exploração e a opressão para que estes setores tenham mais privilégios, poder e dinheiro. A base ideológica e social que o sustenta está entremeada em diversos setores da sociedade (religioso, militar, agronegócio, milícias) e nas instâncias governamentais também. 

Por essa e por tantas outras demonstrações de ódio que este neofascista protagonizou durante seu governo é que nós, Socialismo ou Barbárie e Vermelhas, convocamos a juventude, as mulheres, os negros e a classe trabalhadora – os setores mais progressistas e radicais da sociedade, os mais perseguidos historicamente e por este governo – para que tomem as ruas neste próximo 18/10, na Av Paulista. 

É urgente criar uma força potente nas ruas, um verdadeiro tsunami que expresse a revolta e a asfixia dos setores mais explorados e oprimidos da sociedade para expulsar Bolsonaro do poder no dia 30 de outubro e para impor, na sequência, através da luta e da autoorganização a derrota do neofascismo e todo seu regressismo disseminado na sociedade brasileira. Bolsonaro é inimigo das mulheres e das crianças! Vamos juntes, nas ruas, para proteger nossas crianças, para que nossas meninas e meninos possam crescer em uma sociedade segura, justa, livre e sem exploração e opressão de nenhum tipo.