Por uma frente única anti-neofascista que exija, mobilize e vote ultra criticamente em Lula no segundo turno.

Socialismo ou Barbárie

Neste domingo (2) aconteceram as eleições brasileiras, sem dúvida as mais polarizadas e importantes desde a “redemocratização” da década de 80. Embora as últimas pesquisas davam Lula como ganhador em primeiro turno, por uma ampla vantagem, os resultados finais surpreenderam pela estreita margem de diferença para com Bolsonaro: o petista obteve o primeiro lugar com 48,42% dos votos válidos, seguido por Bolsonaro com 43, 21% – uma diferença de pouco mais de 6 milhões de votos. 

O inesperado e amargo resultado encaminhou a definição da corrida presidencial para um segundo turno – uma nova e perigosa eleição. Se acrescenta para as próximas semanas os perigos diante dos avanços dos neofascistas, seja pela escalada da violência política, ameaças autoritárias e golpistas ou até mesmo por uma vitória eleitoral de Bolsonaro. Diante disto algumas movimentações começam a surgir por parte de Lula que quer aprofundar sua frente ampla com setores da burguesia, garantindo a passividade do movimento de massas, uma estratégia traidora que facilita o caminho para o bolsonarismo. Já se discute nos bastidores da campanha do petista maior protagonismo de Geraldo Alckmin e uma “carta aos brasileiros” focalizada aos setores conservadores da sociedade. 

Uma vitória tática de Bolsonaro

No que pese que Bolsonaro tenha ficado em segundo lugar neste primeiro turno, todos os analistas coincidem em que o resultado é uma vitória política para o mesmo, pois logrou um segundo turno e ficou à ofensiva nesta etapa crucial. O neofascita conseguiu reduzir a diferença com Lula ficando atrás em 5,21% dos votos válidos, uma distância muito favorável com relação aos índices prévios e que revive as possibilidades para que o atual presidente possa ganhar no segundo turno. Além disso, o bolsonarismo obteve vitórias significativas nas votações estaduais e parlamentares: elegeu doze governadores no primeiro turno -incluindo o Rio de Janeiro- e sua bancada no congresso será a maior com 99 deputados (somou 23 novas cadeiras) contra 79 do PT e sua federação. Já para o Senado, que contou com uma renovação de mais de 80%, o bolsonarismo teve uma vitória substancial com 20 das 27 cadeiras em disputa -uma composição que se Bolsonaro for reeleito lhe dará condições para aprovar o impeachment de ministros do STF e fechar ainda mais o regime. 

Esses dados deixam claro que as votações expressaram um giro à direita e, embora Lula ganhe no segundo turno, seu futuro governo estará submetido ao cerco constante do bolsonarismo com  importantes posições dentro do aparelho estatal, bloqueando qualquer tentativa de reverter as contrarreformas impostas nos últimos anos por Bolsonaro (e também durante o mandato de Temer). 

O giro à direita é produto da ofensiva sistemática de Bolsonaro desde que assumiu a presidência em 2019, a qual misturou medidas parlamentares e extraparlamentares que ajudaram a virar parcialmente o jogo. Por exemplo, a intervenção nos preços dos combustíveis teve relevância na economia nacional e importante impacto eleitoral; ainda que seja uma medida populista, garantiu uma queda nos preços dos alimentos e uma recuperação na criação de empregos. Mais perigoso ainda, as bases neofascistas de Bolsonaro não recuaram das ruas durante a campanha eleitoral (diferente da esquerda da ordem que se limitou a micaretas eleitorais!), as quais reivindicam como um espaço central na luta por suas pautas reacionárias -os atos massivos do 7 de setembro foram importante demonstração de força golpista. 

A passividade traidora de Lula e da esquerda da ordem

Depois de se deparar com os resultados, Lula declarou que o segundo turno é “apenas uma prorrogação” da vitória e que será uma boa oportunidade para “amadurecer” as propostas programáticas. Além disso, sublinhou que as duas vezes em que foi eleito presidente houve segundo turno; uma mensagem de “calma” ótima para tempos normais, mas incoerente no meio de uma situação de caráter excepcional devido ao fornecimento da ultradireita bolsonarista e os perigos que ameaçam  as liberdades democráticas elementares (incluído os direitos de livre organização para o movimento operário para a esquerda em geral). 

Ainda pior, parece que Lula e o comando de sua campanha não compreendem os limites da estratégia frenteamplista, cujo eixo é fechar acordos com setores burgueses e moderar ao extremo seu programa de governo, além de manter o movimento de massas na passividade total e fora das ruas. Porém, os resultados do primeiro turno demonstraram que Lula não será reeleito falando só de “amor” e lembrando um passado abstrato, uma postura conservadora que não apaixona aos setores explorados e oprimidos, os quais precisam de respostas e mudanças radicais diante da miséria e da precarização das condições de vida no Brasil.  

O dia de ontem colocou a campanha do PT numa situação defensiva e sua frente ampla burguesa necessitará muito mais que o voto útil para derrotar Bolsonaro no segundo turno. A necessidade daquilo que vínhamos afirmando de maneira sistemática -da vitalidade da mobilização das massas para derrotar categoricamente o bolsonarismo- impera hoje, um dia após uma vitória com gosto de derrota, mais do que nunca. Colocar os trabalhadores e trabalhadoras à ofensiva pelas ruas contra o bolsonarismo, suas ameaças e seus ataques será fator decisivo para o segundo turno, contudo,  pelo caráter burguês do PT -acrescentado pelas recentes alianças- é praticamente impossível que Lula avance nessa direção. 

Contra o golpismo nas ruas e nas urnas!

Diante os perigos que representa uma possível vitória de Bolsonaro no segundo turno, nós da corrente Socialismo ou Barbárie (SoB), da juventude Já Basta! e da Bancada Anticapitalista, chamamos um voto contra o neofascismo e as ameaças golpistas, é dizer, um voto ultra crítico em Lula para este segundo turno. 

Não temos nenhuma confiança no PT e nos partidos que compõem a frente ampla burguesa, os quais majoritariamente são inimigos de nossa classe e dos setores explorados e oprimidos da sociedade. Um futuro governo Lula-Alckmin certamente levará adiante os ataques contra nossas condições de vida, trabalho e estudo por uma dose moderada do veneno capitalista. Entretanto, não podemos assumir uma posição passiva diante dos perigos que representa Bolsonaro e sua sanha pelo fechamento do regime -se reeleito terá melhores condições para a agenda autoritária  com a maioria no parlamento-, uma situação extremamente perigosa e grave que ameaça os direitos democráticos elementares e a capacidade de organização e luta do movimento de massas. 

Entendemos a urgência e importância de uma reunião emergencial das direções das organizações da esquerda independente para construirmos uma frente única anti-neofascista, exigir que Lula, as centrais sindicais, UNE e a esquerda da ordem chamem às ruas, impulsionar uma campanha pelo voto ultra crítico no petista e convocar a necessidade das ruas nos setores e locais onde temos intervenção política. É necessária uma inflexão imediata, caso contrário as possibilidades de uma derrota histórica poderão passar das especulações ao terreno concreto da política.