As últimas pesquisas de intenção de voto momentos antes das eleições registram estabilidade eleitoral com Lula à frente e com alguma possibilidade – dentro da margem de erro – de vencer a disputa em primeiro turno. Porém, esse resultado depende de fatores que ainda não podem se medir com precisão, como o percentual de abstenção, o voto envergonhado e o caráter da mobilização política que terá o bolsonarismo e o lulismo, que ao não chamar à mobilização total contra Bolsonaro amanhã pode perder a chance de vitória no primeiro turno.

ANTONIO SOLER

Para trazer os números mais gerais do instituto Datafolha publicados hoje, em termos de votos válidos (sem os votos nulos e os em branco), Lula (PT) aparece com 50% e Bolsonaro (PL) com 36%, Simone Tebet (MDB) com 6% e Ciro Gomes (PDT) com 5%. Considerando as últimas pesquisas divulgadas (Ipespe e a do MDA), o agregador de pesquisas do Estadão dá para Lula 51% das intenções de voto e 35% para Bolsonaro; o que revela até então, também, um cenário de estabilidade e de indefinição eleitoral quanto à definição da disputa no primeiro ou no segundo turno.

Voltando ao Datafolha, a rejeição de Bolsonaro é um fator importante na disputa eleitoral. Hoje por hoje, o neofascista apresenta uma rejeição de 52% enquanto a de Lula é de 40%. Esse é um índice que se for mantido, mesmo que tenha segundo turno, Bolsonaro não teria condições de vitória. Porém, sabemos que no segundo turno podemos ter uma dinâmica distinta, pois Bolsonaro mantém um sólido núcleo eleitoral, apoio de setores da classe dominante, da classe média e das forças armadas.

Para dar algum detalhamento contido na pesquisa anterior do Datafolha, nos três blocos eleitorais mais significativos – corte regional, de renda e de gênero -, Lula aparece com franca vantagem em relação ao segundo colocado. Em relação às regiões, Lula vence no Nordeste (66% a 23%) e no Sudeste (45% a 38%). Bolsonaro ganha no Sul (46% a 41%) e no Centro-Oeste (45% a 41%). Entre as mulheres, Lula vence por 50% a 29%, e entre os que ganham até 2 salários-mínimos, de 57% a 26%.

Essa surra eleitoral que leva Bolsonaro nesses setores, mesmo com os projetos eleitoreiros, como o ampliou o Auxílio Brasil de R$400 para R$600 até dezembro, por exemplo, tem a ver com uma elevação política, ainda que limitada, de uma fatia importante do eleitorado. Essa fatia nega a política genocida deste governo diante da pandemia, a sua necropolítica levada nas periferias das grandes cidades e o seu sistemático golpismo antioperário que ataca constantemente os direitos econômicos, sociais e políticos das massas trabalhadoras – que durante o governo Bolsonaro mergulharam ainda mais na pobreza e na precarização.

O voto útil/envergonhado ainda está por se provar

Para responder à questão de se teremos segundo turno para as eleições presidenciais, estamos em uma situação muito indefinida. Para que Lula ganhe no 1º turno será necessário que tenhamos uma combinação muito favorável para o petista entre voto útil, voto envergonhado (quando devido à pressão social o eleitor não assume publicamente sua intenção de voto), abstenção e mobilização política no dia da eleição.

Especialistas afirmam que podemos ter uma dinâmica combinada de voto útil e voto envergonhado que, hipoteticamente, favorecem Lula amanhã nas urnas. Por outro lado, em pesquisa anterior, 3% admitem abstenção nas eleições, porém os números históricos de abstenção giram em torno de 20%, como ocorreu na eleição de 2018. Fator esse – abstenção – que abertamente tira voto do petista, pois a população de menor renda é a que menos condições de deslocamento tem para se deslocar até os Colégios Eleitorais. Outro fator crítico é a consolidação dos votos. Considerando que apenas 15% afirmam que podem mudar o voto, temos uma estreita margem de transferência para Lula.

Esse conjunto de dados demonstram que há consolidação, por um lado, e imprevisibilidade, por outro; assim, a depender da dinâmica política amanhã, a eleição será decidida em primeiro ou segundo turno.

Essas possíveis oscilações eleitorais – voto útil ou voto envergonhado – para que Lula ganhe no primeiro turno serão mediados pela mobilização político-eleitoral que ocorrerá amanhã. Nesse sentido, a postura política das campanhas que estão à frente na corrida eleitoral presidencial pode ser decisiva. Bolsonaro já chamou a mobilização da sua turba protofascista para sair de verde e amarelo nas ruas amanhã, enquanto isso, não vemos organizada pela campanha lulista a linha de mobilizar durante o processo eleitoral.

Romper com o passivismo é decisivo

Como dito em nossa declaração eleitoral, não depositamos a menor expectativa em um possível governo Lula, pois montou, novamente, uma chapa eleitoral com a burguesia e irá governar para administrar o capitalismo, ou seja, para dar continuidade à exploração e à opressão. Como fez em seu primeiro mandato, irá, novamente, fazer reformas neoliberais combinadas com políticas de compensação social. Estamos em um cenário muito menos favorável, por isso, como não vai enfrentar os interesses da classe dominante, irá fazer um governo mais liberal social do que social-liberal.

Porém, Bolsonaro é sério perigo para os direitos democráticos dos trabalhadores e dos oprimidos, é um neofascista que se for reeleito – da mesma forma que ocorre em todos os países em que autocratas se reelegeram – terá ainda mais força para continuar fechando o regime e atacando nossos direitos, não apenas econômicos, mas também os direitos democráticos fundamentais dentro desse regime de democracia dos ricos, ou seja, os direitos de luta e organização.

Além disso, Bolsonaro continua com a sua campanha pela não confiabilidade das urnas eletrônicas. Ou seja, irá questionar os resultados independentemente de qual for o resultado das urnas. Parece improvável que, devido a posição do imperialismo, da maior parte da classe dominante, dos comandantes militares e da população, uma tentativa de não reconhecimento eleitoral seja exitosa. No entanto, Bolsonaro em um segundo turno pode ganhar mais densidade eleitoral, mobilizar de forma ainda mais violenta a sua base social, impor o medo e influenciar de forma decisiva as eleições no segundo turno.

A Bancada Anticapitalista – número 1611 – e a militância da corrente Socialismo ou Barbárie – SoB, pela importância tática de derrotar o neofascismo já no primeiro turno, chamam o voto para derrotar Bolsonaro votando em Vera Lúcia ou ultra criticamente em Lula no primeiro turno. Mas não basta chamar o voto, fazer micaretas eleitorais, esperar passivamente o resultado das eleições em casa e se mobilizar apenas depois da proclamação do resultado pelo TSE, como estão fazendo PT, PSOL e o conjunto da esquerda lulista. Para garantir a vitória no primeiro turno, é necessário romper com o quietismo político e, além de votar para derrotar Bolsonaro, mobilizar todas as forças e garantir a presença nas ruas em uma grande vigília antigolpista com concentração nas principais capitais e cidades desde as primeiras horas do dia até a proclamação do resultado.