Trata-se de una verdadeira catástrofe: mais de 5 milhões de hectares queimados (mais do dobro da área queimada na Amazônia em agosto de 2019), 18 mortes são conhecidas no momento em que esta nota é escrita (as autoridades admitem não saber o número real), centenas de milhares de pessoas foram forçadas a deixar seus lugares, cerca de 1400 casas foram destruídas, cerca de 500 milhões de animais morreram.
Mateo Romero, 4 de janeiro de 2020
Há mais de dois meses os incêndios começaram na Austrália, antes do início do verão. Os números são alarmantes: mais de 5 milhões de hectares queimados (mais do dobro da área queimada na Amazônia em agosto de 2019), 18 mortes são conhecidas no momento em que esta nota é escrita (as autoridades admitem não saber o número real), centenas de milhares de pessoas foram forçadas a deixar seus lugares, cerca de 1400 casas foram destruídas, cerca de 500 milhões de animais morreram.
COMOVEDOR
Captam o momento em que centenas de cangurus fogem dos incêndios florestais da Austrália #AustraliaFires #AustraliaSeQuema pic.twitter.com/bLFYiZTdi9
— 𝐂𝐚𝐦𝐢𝐥𝐚 𝐀𝐥𝐭𝐚𝐦𝐢𝐫𝐚𝐧𝐨 (@CamilaPlomo) January 5, 2020
Por outro lado, secas e temperaturas recordes contribuem para a propagação de incêndios sem precedentes em escala e intensidade. Até agora, mais de 130 incêndios continuam a arder nos estados de Nova Gales do Sul (onde Sydney está localizada) e Victória. O verão começou apenas há algumas semanas e as autoridades e o povo australiano temem que o pior ainda não tenha passado.
A mídia repete imagens e testemunhos dos incêndios: chamas que atingem 150 metros de altura, resgates extremos de 4 mil refugiados na praia, nuvens permanentes de fumaça tóxica nas cidades e no campo e, acima de tudo, os reclamos ao governo .
As demandas ao governo do primeiro-ministro (PM) australiano, Scott Morrison, líder do Partido Liberal, se poderia combinar em dois eixos. Por um lado, medidas diretas para prevenir e impedir incêndios. Durante anos, o governo ignora as reivindicações de mais equipamentos para impedir a propagação de incêndios: se pedia mais orçamento, uma frota maior de aviões tanques, fundos para os bombeiros, mais recursos, etc. Alega-se que não existe uma política nacional de combate a incêndios, o PM argumentou que “o combate a incêndios é de responsabilidade de cada estado e território“, ignorando as recomendações para expandir a frota de aviões tanques. [1]
O outro eixo da denúncia refere-se à sua política global nacional e internacional de meio ambiente. É um governo que nega as mudanças climáticas com uma forte política e investimento na exploração de petróleo e carvão, com milhões de dinheiro para favorecer grandes empresas de petróleo e mineração. O estado fornece a eles somas de 12 bilhões de dólares por ano, 30 bilhões se os subsídios indiretos são levados em consideração, de acordo com a publicação da RedFlag [2].
Ao argumentar que os incêndios sempre fizeram parte da história da Austrália, desconhece os avisos de ambientalistas que, anos atrás, indicam que a intensidade dos incêndios está aumentando devido ao desmatamento e ao avanço das cidades sobre as florestas. Além disso, se sucedem secas cada vez mais prolongadas e tempestades elétricas sem chuva, que muitas vezes propagam esses incêndios. Um fenômeno que foi testemunhado no ano passado é que os incêndios da Califórnia começaram a se sobrepor aos da Austrália, hemisférios norte e hemisférios sul sofrendo incêndios simultâneos, o que causou dificuldades na movimentação de aviões tanque californianos que estavam previstos para combater incêndios em Nova Gales do Sul. Por outro lado, o nível de emissão de CO2 do país é assustadoramente alto para a população que representa: emite 1,4% do nível mundial, enquanto seus habitantes representam apenas 0,3% do total.
Herois sem capa dando de beber a Koalas na Australia. #AustraliaFires#NoMasTrump#TerceiraGuerraMundialpic.twitter.com/9zkYHxHeNM
— Maikel Lucena (@MaikelEsJPSUV) January 4, 2020
Na quarta-feira, 12 de dezembro, houve uma marcha de 40 mil pessoas em Sydney para exigir medidas dos governos. Os testemunhos de como a vida se transformou na cidade, já há um mês, são impressionantes. As autoridades pedem que as pessoas não saiam devido à fumaça tóxica e quem pode faz uso de máscaras de gás para respirar. É por isso que alguns sindicatos decidiram adotar ações colaborativas para não arriscar a saúde dos trabalhadores nessas condições, apesar da pressão dos patrões e do governo para continuem todos trabalhando.
As chamadas de emergência para problemas cardíacos ou respiratórios aumentaram em mais de 30%. “Devido à fumaça intensa, muitos estabelecimentos e empresas foram forçados a interromper suas atividades. Estima-se que a fumaça dos incêndios custe à economia da cidade (Sydney) cerca de 50 milhões de dólares australianos (mais de US $ 34 milhões) por dia, de acordo com cálculos da SGS Economics and Planning.”[3] diz o jornal El País. Também houve confrontos entre o primeiro-ministro e as pessoas deslocadas pelo incêndio e que perderam casas, que não quiseram apertar as suas mãos e exigiram medidas mais vigorosas. Morrison também foi repudiado porque saiu de férias com a família para o Havaí no meio da emergência. Os críticos o forçaram a voltar ao país. O mesmo aconteceu com uma viagem planejada à Índia e ao Japão para concretizar a venda de carvão (a principal atividade de mineração na Austrália), a qual também teve que cancelar.
#AustraliaFires #AUSTRALIANBUSHFIRES
Isso é a mudança climática. Incêndios florestais apocalípticos mataram quase meio bilhão de animais e queimaram mais de 14,5 milhões de acres, seis vezes o tamanho dos incêndios na Amazônia em 2019. Os ecologistas estimaram que animais em movimento lento estão impossibilitados de fugirem – pic.twitter.com/IxT1mNAVTk
— A. Habbal (@ahmadhabbalkon) January 4, 2020
Devido à emergência humanitária, à catástrofe natural e as medidas que foram tomadas, o que acontece hoje na Austrália, está na mira de todo o mundo. Não só apoiamos as reclamações de inaptidão do governador, mas também denunciamos que não podem continuar nesses postos políticos os negacionistas de mudanças climáticas, diante das consequências dessa política que não apontam para um futuro distante, mas que que se sentem agora mesmo em todos os cantos do globo. São as mesmas lutas ambientais que a Argentina viveu nos últimos dias, demonstrando que a única forma de os governos nos ouvirem é através de um movimento massivo e independente dos partidos burgueses, e que para combater a mudança climática há que se alterar o sistema.
O que acontece na Austrália é uma clara consequência local da mudança climática global. Hoje, o foco está em um país com um governo negacionista, mas os imensos incêndios fazem parte de uma catástrofe geral, de um desequilíbrio causado por um capitalismo voraz irreformável.
Tradução: José Roberto Silva
[1] David Crowe, Government rejected major air-tanker expansion, The Sydney Morning Herald, Ausrtalia, 2020
[2] Jerome Small, Australia’s profit-driven apocalypse, RedFlag, Australia, 2020
[3] Manu Granda, La tormenta perfecta prende en Australia, El País, España, 2019