Publicamos abaixo uma tradução da degravação do informe dado por Roberto Sáenz ao Comitê Executivo do Nuevo Mas, partido argentino da Corrente Internacional Socialismo ou Barbárie, da qual também fazemos parte.

Redação

ROBERTO SÁENZ

“Desta vez, é realmente uma catástrofe para toda a população de Gaza – mais de dois milhões de pessoas estão sob fogo e são afetadas por essa guerra e escalada por causa do cerco total”, diz Hamdouna, prevendo um aumento crítico no deslocamento interno de pessoas [até o momento, já há 200.000 pessoas deslocadas], além da falta de refúgios seguros [bunkers antiaéreos e similares].

“Há uma preocupação real com o abastecimento de água. Tenho água para um dia, no máximo, e não sei realmente se posso conseguir mais. Também não tenho ideia das possibilidades de suprimento de alimentos. Mas há até restrições quanto à possibilidade de locomoção, para qualquer lugar aonde eu possa ir com segurança a um supermercado, e nem sei se os caminhões-tanque podem chegar à minha casa. Todos esses fatos pioram as coisas, somando-se ao intenso bombardeio que nos atinge todos os dias”, acrescenta Hamdouna.

“Acho que isso é uma punição coletiva para a população de Gaza como tal. Os civis não estão seguros, não têm acesso às suas necessidades básicas – água e comida. O setor de saúde está se deteriorando sob o impacto do número de feridos”, afirma.

“Todos os aspectos de nossas vidas foram afetados. A eletricidade é uma grande preocupação. Até agora, temos no máximo três horas por dia e a usina de eletricidade de Gaza acaba de anunciar que em alguns dias não haverá eletricidade em toda a região. Isso afetará o acesso à saúde e até mesmo a segurança alimentar, sem falar nos problemas de comunicação.”

Ele acrescenta: “Não posso nem abrir meu laptop para fazer anotações – estou tentando economizar eletricidade em minha casa para carregar meu telefone. Como trabalhador humanitário, sequer posso trabalhar em casa para responder à crise” (Ruth Michaelson, The Guardian, 10 de outubro de 2023).

Para entender o que está acontecendo na Palestina hoje, há um plano de princípio, um plano político e um plano de análise.

  1. Nosso apoio à causa palestina é incondicional

O plano de princípio é que nosso apoio à causa palestina é incondicional. Essa é a palavra-chave no terreno dos princípios: incondicional.

Quando uma direção, mesmo que não seja a nossa, representa uma reivindicação legítima, faça o que quer que ela faça, nossa defesa da causa é incondicional. A defesa é incondicional.

A palavra é defesa, não apoio. Isso está ligado à política, onde está claro que a política do Hamas não é a nossa.

Mas isso é secundário no campo dos princípios, que é de onde temos que partir. Os eventos que estão ocorrendo desde sábado, 7 de outubro, não têm nada a ver com o 11 de setembro. Nada a ver!

Porque o ataque às Torres Gêmeas, terrorista, reacionário, não representou ninguém, nenhuma reivindicação progressista. Ele fingiu representar, mas não havia nenhuma causa legítima por trás dele, mas simplesmente uma fração marginal da burguesia saudita. E as vítimas eram todos trabalhadores inocentes.

Isso não tem nada a ver com o ataque do Hamas. Foi uma explosão de raiva, fúria, desonra e sangue, de pessoas vivendo na desonra e no sangue.

É isso. Nessas condições, os palestinos são pessoas que não têm o direito de viver. O Estado de Israel proibiu-lhes o direito de existir e de forma cada vez mais bárbara.

Portanto, o resultado da desonra, só pode ser desonra, não pode ser outra coisa. Embora, obviamente, na política, claramente não estejamos com o Hamas. Além disso, nas condições de Gaza e da Cisjordânia, que não conhecemos em primeira mão e não podemos fazer elucubrações a milhares de quilômetros de distância, é certamente muito difícil fazer uma política revolucionária e socialista (embora saibamos que há várias correntes dentro do movimento palestino, mesmo que ainda algumas laicas e até de esquerda, e que, eventualmente, tenham um senso de política de massa) socialista.[2]

Os artigos de Roberto Ramirez sobre questões de princípio são muito sólidos.

Em 1987, a situação do movimento palestino era cem mil vezes melhor do que é agora, do ponto de vista político e social (presumimos isso com base na eventualidade do avanço fenomenal de elementos de barbárie, bem como no giro à extrema direita brutal do governo de Benjamin Netanyahu). Quando da primeira Intifada, que foi de fato com pedras, foi conscientemente sem armas, se dividiram Israel e o exército que estava reprimindo o povo: abriu uma enorme crise política no Estado sionista com métodos de mobilização em massa.

Além disso, a conjuntura, ainda que fosse feia, pouco antes da queda do Muro e do início da ofensiva neoliberal, não era tão complexa internacionalmente como a que estamos vivendo agora. Mais do que uma conjuntura, é uma nova etapa que parece ter se aberto no século XXI, reabrindo a era das crises, das guerras, da barbárie e das revoluções, mas que parece estar começando com o pêndulo balançando para a direita inicialmente (lembre-se de que sempre insistimos que um pêndulo que balança muito para a direita pode ricochetear tremendamente para a esquerda).

Em Gaza, as condições de vida são as do gueto de Varsóvia. Gaza é Stalingrado. Dessas condições de vida, somente o Hamas pode emergir, colocando de forma bem exagerada, mas para que se entenda o ângulo de princípio e incondicional de nossa defesa da causa palestina.

O Hamas venceu as eleições livremente em 2006 porque defendeu a consigna, embora em um formato islâmico que não é o nosso (obviamente), de uma Palestina unificada. A OLP, por sua vez, capitulou nesse ponto ao adotar a consigna dos “dois Estados”, que estavam apenas no papel. Essa foi a capitulação histórica de Arafat nos Acordos de Oslo de 1993, que a princípio despertaram ilusões, mas que, na realidade, a Autoridade Nacional Palestina somente buscava um mini aparato próprio

Os acontecimentos não são politicamente mecânicos, mas, insisto, é muito difícil que da raiva, do sangue e da desonra não saiam raiva, sangue e desonra. É difícil que isso não resulte em um tipo de “vingança indiscriminada”[3].

É necessário levar em conta o testemunho da companheira universitária, na entrevista que reproduzimos do Mediapart no Izquierda Web, que é uma mídia que também se delimita do Hamas. Mas, ela disse: “todos nós estávamos esperando por isso”, e não faz nenhuma crítica, nenhuma crítica. Por quê? Porque essa situação de humilhação diária em Gaza e na Cisjordânia não é mais tolerada (lembre-se de que, desde que o Hamas venceu as eleições em Gaza em 2006, a política sionista tem sido de bloqueio e sufocamento. Lembre-se de que, desde essa data até o conflito atual, houve quatro guerras contra os habitantes de Gaza).

Portanto, o problema de princípio é que a defesa do povo palestino é incondicional, não importa quem esteja no comando, não importa o que eles façam. Porque a responsabilidade política pelas mortes israelenses (e, evidentemente, aquelas multiplicadas à n potência de palestinos) é de Netanyahu, do Estado israelense (e do imperialismo em geral), e de mais ninguém.

Nesse caso, o sentimento anticolonial nos países dependentes como a Argentina, tem empatia, talvez mais nos setores populares do que na classe média, onde ocorre o contrário, e forma uma opinião “anti-imperialista” ou “anticolonial” em relação aos habitantes de Gaza ou aos palestinos, ou seja, é progressista do ponto de vista dos princípios (que é o principal ponto de vista a partir do qual se deve começar a abordar o conflito em andamento).

  1. A política e os métodos do Hamas não são os nossos

Depois, tem a política. Politicamente, não estamos com o Hamas. Essa não é nossa política nem nossos métodos. Mas esse elemento agora é subsidiário. Especialmente neste exato momento em que a campanha imperialista é feroz. Se houvesse uma conjuntura internacional diferente, obviamente, a demarcação do Hamas poderia ter um peso diferente. Mas, neste exato momento, é uma questão subordinada.

Outra coisa é o que o Hamas faz na Palestina, sua política islâmica, reacionária, homofóbica e machista. Eles são islâmicos e refletem a falência do nacionalismo burguês. Em resumo, eles são inimigos da esquerda. Como Khomeini no Irã, com a revolução iraniana, que massacrou 5.000 militantes de esquerda, esmagou os famosos conselhos de trabalhadores que foram criados durante o levante revolucionário de 1979 que derrubou o Xá do Irã.

Resumindo: nossa política, de qualquer forma, é a da primeira Intifada, das massas, com métodos de luta de massa, mas isso não é mais relevante agora, diante da feroz campanha antipalestina e islamofobia em favor do Estado de Israel, que é um Estado de opressores (voltaremos a esse assunto).

A Faixa de Gaza é o “gueto de Varsóvia” dos palestinos. Seus habitantes “são animais”, disse o ministro da defesa de Netanyahu. Estamos no século 21 e os animais são tratados melhor do que as pessoas – os humanos – de Gaza (é claro que é correto lutar pelo tratamento humanitário dos animais).

Temos, também, fechadas as saídas pelo Egito, 2 milhões de pessoas encurraladas e uma ordem de evacuação da FDI (Forças de Defesa de Israel) de um milhão de pessoas para o sul da faixa, algo impossível de ser realizado (embora o deslocamento de centenas de milhares em condições inimaginavelmente bárbaras já tenha começado).[5] Enquanto isso, a mídia imperialista internacional classifica o Hamas como uma “organização terrorista”.

E, entretanto, a mídia imperialista internacional está descrevendo o Hamas como uma “organização terrorista”. Somos contra essa caracterização porque eles foram eleitos: eles são o governo legítimo da Faixa de Gaza (mesmo que seus métodos e políticas não sejam os nossos, repetimos). Dizer que eles são “terroristas” é rotular todo o povo palestino como terrorista para deslegitimar a justiça de sua causa como povo oprimido.

Por outro lado, a sociedade israelense estava muito dividida. A sociedade israelense é a opressora, mas isso não significa que entre os opressores não possa haver divisões progressivas. O velho slogan de Marx “um povo que oprime outro povo não pode ser livre” se aplica aqui. Isso não significa que em Israel, entre os cidadãos israelenses, não apenas os árabes israelenses, mas também os judeus israelenses, não existam aqueles que se posicionam à esquerda, contra seu caráter opressor.  Seria bom que isso ocorra, e uma política socialista revolucionária deveria aspirar a isso como uma das formas de deter o genocídio em Gaza e de lutar por uma Palestina secular, livre e socialista.

De qualquer forma, não se pode descartar a possibilidade de que, em Israel (como já está acontecendo no resto do mundo), a população comece a se dividir à medida que as FDI entrarem efetivamente em Gaza e aprofundarem o massacre que já estão realizando. Seria progressivo que a população israelense se dividisse.

Em um prazo imediato, a conjuntura internacional é reacionária. Isso é um fato e é um fato que a maioria da população do Ocidente, no momento – mas talvez apenas no momento – está comprando o discurso sionista e imperialista.

Mas as coisas podem virar de cabeça para baixo e, além disso, o conflito aberto do Estado sionista contra Gaza parece ser mais explosivo do que a guerra na Ucrânia. É seguro dizer que uma crise política e uma polarização internacional começaram, e teremos que ver como ela evolui dia após dia.

As coisas – a situação internacional – podem se inverter em resposta ao massacre. O Catar acaba de ameaçar suspender o fornecimento de gás para o mundo, a menos que as conexões de eletricidade e água para Gaza sejam ativadas. Mobilizações em massa pró-Palestina também começaram no mundo árabe, assim como grandes mobilizações (agora proibidas) em Londres, em várias partes dos Estados Unidos, mobilizações reprimidas, mas insistentes, em Paris etc.

O cerco e o ataque a Gaza é um evento extremamente dramático e, de certa forma, pode fazer explodir a conjuntura internacional com consequências ainda imprevisíveis (até o momento, pelo que sei, a China não disse essa questão é minha). Trata-se de um genocídio em curso. Porque a punição é coletiva, e isso é genocídio. O governo de Netanyahu está responsabilizando toda a população de Gaza pela ação do Hamas. Isso é punição coletiva. E punição coletiva, repito, é a definição exata de genocídio (mesmo com todas as suas contradições de agência imperialista tradicional – e não tradicional -, a ONU está assumindo a responsabilidade de dar o alarme sobre a questão, assim como outras organizações humanitárias).

Por outro lado, também deve ser observado que esse não é um problema “religioso” (ou uma “guerra de religiões”). Trata-se de um problema nacional: a ocupação de um povo oprimido por um opressor. Essa é a origem do problema e, em sua origem, a circunstância era “laica”, por assim dizer. A origem do problema foi a criação do Estado de Israel em 1948 e a guerra declarada pelo sionismo para deslocar um milhão de palestinos, os habitantes nativos dessas terras, de suas casas, vilas e cidades.

A questão religiosa será, de qualquer forma, um componente da questão nacional, assim como o idioma, certas tradições, certa ocupação de território, o que quer que seja. Mas a questão é nacional e não religiosa. Que as pessoas tenham a religião que quiserem ou se são ateias, isso é secundário neste nível do problema. Portanto, a única solução básica possível é acabar com o Estado opressor e seguir a consigna, o programa tradicional da causa palestina: um Estado livre, comum, não racista, laico e socialista onde todas as pessoas vivam juntas, independentemente de sua religião e origem nacional.

  1. Abriu-se uma crise política internacional

A situação é dramática, mas pode ser revertida. Ela pode ser revertida porque efetivamente começou um genocídio. Os nazistas tornaram os judeus coletivamente responsáveis pelos problemas da Alemanha. A punição coletiva foi de 6 milhões de pessoas assassinadas nos campos de extermínio (além dos 50 milhões mortos na guerra imperialista, as mortes da antiga URSS – cuja guerra antinazista foi uma ação popular contra a barbárie – etc.).

O sionismo, embora pareça paradoxal e, sem dúvida, trágico ao mesmo tempo, é nazista por causa disso,[6] porque usa métodos de punição coletiva. Eles estão punindo o povo, todo o povo de Gaza e da Cisjordânia (nos últimos dias, na Cisjordânia, houve um aumento nos confrontos entre palestinos e a FDI). Isso pode gerar uma resposta, uma onda democrática internacional em favor do povo palestino.

O número de mortos no lado de Gaza irá crescer, crescer e crescer. E a sensibilidade vai aumentar. E isso será uma oportunidade política para uma marcha mundial, uma marcha contra a guerra, como em 2003 contra a invasão do Iraque, que foi uma marcha histórica.

Oxalá houvesse uma jornada mundial. Aqui, na Argentina, é difícil porque coincide com uma situação muito adversa. Mas se houver uma jornada mundial, ela poderá ter um impacto aqui. Mas temos de ser claros: se houver um dia mundial em resposta, é porque há um genocídio, um dia mundial que terá de romper a proibição reacionária de marchas imposta por governos como o de Macron na França.[7]

Por outro lado, é ainda muito cedo para dizer se a ação do Hamas foi eficaz ou não. Para mim, neste momento, é um erro chegar a essa conclusão. Não sabemos.

Gilbert Achcar argumenta o contrário: que é “porcaria”, que foi “uma ação desesperada“. Isso me parece um exagero. Não parece ter sido uma ação desesperada (pelo menos não militarmente), porque foi uma ação bem planejada. Uma ação convencional e básica, de guerra de guerrilha contra um exército cibernético (talvez algo entre uma ação “terrorista”, no sentido de uma ação minoritária de um grupo minoritário, e uma guerrilha representativa de um coletivo maior, não podemos dizer com certeza ainda).[8]

As consequências ainda estão para ser vistas. Por exemplo, por enquanto eles conseguiram um governo de unidade nacional em Israel, embora o país esteja muito dividido em relação a esse personagem de Netanyahu (um verdadeiro provocador profissional). Além disso, abriu-se uma crise política internacional e um cenário de polarização global explosiva, portanto, teremos de observar os acontecimentos para tirar conclusões mais claras sobre os eventos desencadeados no sábado, 7 de outubro.

Temos que ter cuidado, pois os métodos utilizados não são os nossos métodos. E talvez, no momento, não haja espaço para nenhum outro método. Mas eles ainda não são nossos métodos. E, no entanto, eles expuseram uma enorme falha de segurança no Estado de Israel e, sem dúvida, abriram uma enorme crise política (pensar que estamos falando da crise mais grave desde a guerra do Ion Kippur em 1973).[9]

Mas para que o povo opressor se dívida, é preciso haver outra política. A conjuntura é difícil, embora aspiremos e apostemos que ela será revertida. Mas tempos de crise, guerras e revoluções também podem começar com momentos reacionários e derramamento de sangue (de fato, essa parece ser a norma histórica).[10] Essa é a abordagem de “Socialismo ou Barbárie” de Rosa Luxemburgo em seu panfleto Junius, escrito na prisão no início da Primeira Guerra Mundial.

  1. Um povo que oprime outro povo não pode ser livre.

Um povo opressor não pode ser realmente livre. Foi assim com a classe operária inglesa em relação à Irlanda. Foi assim com o apoio ao Sul escravagista na Guerra Civil Americana. Um povo opressor é opressor como tal, assim como os ingleses foram opressores da Irlanda. Na Palestina, isso é ainda pior porque é um povo de colonizadores, todos eles, até mesmo as pessoas boas e gentis. Infelizmente, um cidadão de Israel é um opressor (cidadão não árabe). Mesmo que ele seja a pessoa mais bondosa do mundo. Agora, se essa pessoa começar a se mobilizar sob a bandeira da rejeição do genocídio e, eventualmente, sob a bandeira de um Estado palestino ou até mesmo de um Estado binacional [11], então ela não será mais um opressor. Ela precisa lutar pelo povo oprimido para deixar de ser um opressor.

A colonização da Palestina é uma colonização no estilo antigo; não é uma colonização clássica do século XX (pelo menos a da segunda metade, que foi, na verdade, um processo de descolonização até certo ponto limitado).[12] A nova colonização no estilo do “século XX” é semicolonial (ou país dependente), como o imperialismo dos EUA, que controla sua economia, mesmo que você tenha “soberania política” (escopos e limites disso em cada caso). O caráter colonial e semicolonial e, menos ainda, dependente, não são a mesma coisa.[13] A colônia em si, como, por exemplo, os britânicos na Índia no século XIX, são alguns colonos que controlam todos os “indígenas” (nativos). Mas eles também podem ser muitos colonos porque os nativos são uma população (bastante) desenvolvida.

E como a Palestina era uma população bastante desenvolvida, então há muitos colonos que controlam muitos colonizados, a mais colonizados (a população árabe-israelense, que está crescendo, se enquadraria nessa categoria de cidadãos de segunda classe no Estado de Israel).

Agora, entre os opressores há pessoas boas, pessoas progressistas etc.; seria um erro pensar que todos os israelenses são “maus”. Eles não são. Ou que todo o Israel está colonizado. Também não é assim. Há também vida política e democrática. Se não fosse assim, não teria havido marchas contra Netanyahu em torno da questão do judiciário e do regime político (dos opressores).

Portanto, sim, é um povo opressor. É por isso que a saída não é o Estado de Israel, nem a solução de dois estados, porque um deles é um bantustão (guetos isolados como a Cisjordânia ou faixas superlotadas como Gaza). A saída é uma Palestina única, onde todas as origens e religiões coexistam pacificamente, embora não seja um problema religioso, repito, é um problema nacional. E socialista, porque sem uma revolução socialista, mesmo na região que una os povos, isso não é possível.

O que temos hoje é um estado de guerra permanente, porque a lógica da colonização é a expansão permanente.

Tudo isso tem a ver com uma situação que começa pela direita, mas pode se voltar para a esquerda. Nesse “primeiro ato” do drama, todos estão cerrando fileiras com o povo palestino.

Há que começar explicando por que a defesa incondicional da causa palestina é uma questão de princípio. E precisamos medir o terreno: polegada a polegada. E onde houver uma polegada a favor, aproveitá-la e outra polegada a favor, aproveitá-la, mais uma polegada a favor, aproveitá-la…

As coisas vão mudar, as mobilizações em prol da Palestina vão crescer, e temos de lutar por isso.

NOTAS

[1] Este pequeno texto é uma degravação corrigida do autor de um informe apresentado ao Comitê Executivo do Nuevo MAS na sexta-feira, 13 de outubro.

[2] Afirmamos esta última como uma hipótese de trabalho a ser verificada em análises posteriores e mais detalhadas.

[3] De qualquer forma, todos os fatos precisam ser verificados. O mundo atual das redes sociais e das guerras e contra-guerras de imagens e informações, especialmente quando não se está no local, obriga-nos a ser muito cautelosos em todas as afirmações.

[4] Roberto Ramirez, em suas anotações, lembrou-nos de que o Estado de Israel funciona como o 51º Estado dos Estados Unidos.

[5] Parece que a Faixa de Gaza é uma das regiões mais densamente povoadas do mundo.

[6] Enzo Traverso trata do fim do progressismo judaico e da retumbante mudança para a direita da comunidade judaica internacional nas últimas décadas com considerável profundidade e equilíbrio em seus trabalhos (o que não significa que não existam setores progressistas e de esquerda no judaísmo internacional e no próprio Israel, evidentemente – o diário israelense Haarez seria parte desse último segmento, mas não pudemos verificá-lo para este pequeno texto).

[7] Com a desculpa de um ataque a um professor no norte da França, um ataque que obviamente repudiamos, Macron colocou toda a França em uma espécie de “estado de emergência”, criando um clima reacionário no país.

[8] As guerrilhas tradicionais da década de 1970 ou até mais atrás no tempo tinham mais representatividade social do que grupos terroristas como os islâmicos, embora também tenha havido terrorismo populista na Rússia no final do século XIX, com o que, pela esquerda, (embora nem o terrorismo nem a guerrilha sejam nossos métodos, que são de ação de massa), não os desqualificamos per si. Depende do contexto, embora nunca seja nosso método, que é a ação de massa (a guerra de guerrilha poderia ser um fator auxiliar de uma política socialista de massa, mas essa é uma questão que não podemos abordar aqui).

[9] Naquela época, o Egito e a Síria entraram em uma guerra convencional com Israel para recuperar os territórios perdidos na “Guerra dos Seis Dias” (1967). No final, Israel cedeu ao Egito o deserto do Sinai (uma faixa de terra aparentemente sem grande importância estratégica) e, recordemos, não muito mais (Jerusalém permaneceu inteiramente nas mãos dos sionistas etc.).

[10] De certa forma, os acontecimentos atuais parecem um “retorno” a certas condições da primeira metade do século XX (retorno entre aspas porque todos os acontecimentos em andamento neste século XXI são originais deste novo século).

[11] Uma discussão programática que não vamos desenvolver aqui, nem estudamos suficientemente suas possíveis derivações.

[12] Tampouco temos espaço para desenvolver essa questão aqui. Nós a levantamos apenas para fins ilustrativos e estamos cientes de que ela requer um estudo mais aprofundado, especialmente de nossa parte com relação ao mundo árabe.

[13] Marcelo Yunes tem um estudo sobre esse assunto, especialmente sobre a América Latina.

Original em https://izquierdaweb.cr/internacional/la-tarea-del-momento-es-frenar-el-genocidio-sionista-en-gaza/

Tradução: José Roberto Silva