Vídeo da reunião ministerial revela circo dos horrores

Bolsonaro e ministros na reunião de 22/04.

Esse vídeo, além de demonstrar que Bolsonaro quer controlar a Policia Federal para encobrir os crimes cometidos por familiares e aliados, revela os bastidores da conspiração palaciana para impor regressões históricas em todos os terrenos da vida nacional. Assim, nós do PSOL e da esquerda, não podemos mais ficar inertes diante do avanço das forças autoritárias e das ameaças diretas aos direitos democráticos, ou seja, é preciso passar à ação política que vá além dos protocolos formais de impeachment.

ANTONIO SOLER

Ontém (22/5) à tarde, Celso de Mello, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a esperda divulgação da gravação da reunião ministerial ocorrida no dia 22/4 para discutir o projeto de investimentos proposto pelo Gabinete Civil. 

Esse vídeo é parte do inquérito aberto por Mello a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR) para investigar as denúncias de Sérgio Moro contra Jair Bolsonaro quando anunciou a sua saída do Ministério da Justiça (24/4), quando alegou que Bolsonaro queria interferir nas investigações da Polícia Federal (PF) para proteger familiares e apoiadores.

A publicação deste vídeo era esperada desde a saída de Moro do governo, pois além de confirmar as denúncias, segundo a narrativa do ex-ministro e outras provas (mensagens que Bolsonaro pedindo para trocar a chefia da PF porque investigações estavam ameaçando aliados do PSL), a publicação da gravação poderia também trazer outros fatos relevantes para a caracterização política mais geral deste governo ultrarreacionário que ameaça o regime.

As expectativas foram comprovadas, não porque o seu conteúdo tenha revelações do projeto desse governo e do seu modus operandi, ao contrário, mas porque provas conclusivas de vários crimes cometidos pelo presidente e seu bando – como a prevaricação e outros – estão lá gravadas e confirmadas. 

Durante o vídeo Bolsonaro diz, “Já tentei trocar gente de segurança no Rio, oficialmente, e não consegui. E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda (…) porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe dele, troca o ministro. E ponto final. Não estamos para brincadeira”. 

Como vemos, é cristalina a intenção de Bolsonaro de usar o cargo para interesses pessoais (prevaricação) e para obstruir investigações policiais. Mas, além do vídeo, os fatos posteriores à saída de Moro do governo não combinam em nada com a narrativa presidencial, pois depois que Moro pede exoneração do Ministério em 24/4, o comando geral da PF e a do Rio de janeiro é trocada e nenhuma gestão foi feita em relação ao comando ou agentes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); quem de fato cuida da segurança do presidente e da sua família. 

A questão aqui a resolver é como esse e outros aspectos da investigação, a exemplo da solicitação de Mello à PGR para que investigue as mensagens dos celulares de Bolsonaro e Carlos Bolsonaro, serão tomados e resolvidos politicamente de agora em diante.

Além dessa frente de investigação em relação à interferência de Bolsonaro na PF do Rio de Janeiro, a denúncia do empresário Paulo Marinho, traz outra frente ainda mais ampla e tenebrosa.(1) Não se trata apenas da interferência de Bolsonaro nos inquéritos sigilosos da PF, mas de como parte das instituições do Estado e seus agentes, sem obviamente esquecer da classe dominante, conspiraram de várias formas para impor esse governo autoritário.

Nesse sentido, além de confirmar os crimes cometidos por Bolsonaro, o vídeo torna público os bastidores do circo dos horrores negacionista de ultradireita que representa o Bolsonarismo e seu governo. Governo que no vídeo e cotidianamente explicita o objetivo de promover uma profunda regressão, política, social, ambiental, cultural e comportamental no Brasil a partir de métodos violentos – para isso toda a política de armamento de um setor da população.

Apesar deste governo estar em crise, é extremamente perigoso e irá utilizar todos os meios para se manter no poder e impor seu negacionismo genocida em meio à pandemia, ataques aos direitos políticos, econômicos e sociais. Bolsonaro deixou transparente isso no vídeo que veio a público.

Esse projeto está sendo posto em prática e tem que ser combatido por todos que dizem defender os direitos democráticos. Por isso, apesar de importante, não basta o pedido comum de impeachment de setores de oposição que foi protocolado na quinta-feira passada. É preciso enfrentar e derrotar esse bloco de poder reacionário urgentemente com um poder material antagônico, ou seja, com a mobilização social. 

Assim, precisamos ir além dos pedidos protocolares de impeachment e das notas de repúdio. A exemplo da mobilização que os/as trabalhadores/as da saúde e as populações periféricas estão fazendo, é necessário mobilizar com segurança sanitária o maior número possível de pessoas pelo Fora Bolsonaro e por um plano de emergencial para enfrentar a pandemia.

1.Flávio Bolsonaro em dezembro de 2018 teria informado a Paulo Marinho (ex-aliado de Bolsonaro) que teve informações sigilosas de um delegado da PF do Rio de Janeiro que seriam feitas diligências na Assembleia Legislativa do Rio e que essas investigações seriam feitas apenas após o segundo turno das eleições para não atrapalhar a eleição de Bolsonaro. Veja detalhes em https://esquerdaweb.com/denuncia-de-ex-aliado-de-bolsonaro-e-peca-chave-para-impeachment/.