Sem as massas nas ruas não se tem garantia contra o golpismo e contra os ajustes pós eleições do próximo governo. Nesse 11A e nas demais lutas, venha com a Bancada Anticapitalista, com a Juventude Já Basta!, com as Vermelhas e com o Socialismo ou Barbárie constituir uma coluna combativa, independente e anticapitalista como parte da construção de uma frente de esquerda socialista. 

ANTONIO SOLER

A última pesquisa de intenção de voto do instituto DataFolha coloca um cenário de estabilidade na corrida presidencial com Lula (PT) à frente seguido de Bolsonaro (PL). No geral, enquanto Bolsonaro ganha pontos entre mulheres, mais pobres, nordestinos e evangélicos, Lula avança entre homens, pretos e mais ricos.

O primeiro a se destacar é que em relação à intenção de votos, Lula tem 47%, Bolsonaro 29%, Ciro (PDT) 8% e Tebet (MDB) 2%. Assim, Lula aparece com 18 pontos à frente do segundo colocado. Já em relação aos votos válidos, Lula tem 52% – tinha 53% na pesquisa anterior – Bolsonaro 32% e Ciro 9%. Segundo pesquisa do PoderData, Bolsonaro tem 50% de rejeição e Lula 37%, o candidato menos rejeitado até agora. Nesta pesquisa, Lula teve sua rejeição reduzida em 1 ponto e Bolsonaro em 2 pontos em relação à pesquisa anterior deste instituto.

De acordo com o agregado de pesquisa do Estadão, que faz uma média das pesquisas de vários institutos, de 29 a 30 de julho, Lula teve uma redução de intenção de votos pouco significativa de 46% para 45%, uma diferença de 15 para 14 pontos. Considerando também que 71% dos eleitores afirmam que estão totalmente decididos sobre em que votar, segundo o DataFolha, existe uma tendência de estabilização.

Para além dessa miríade de números, entram em cena outros fatores que precisam ser considerados para que a nossa avaliação não seja unilateral e possa estar aberta a possíveis dinâmicas da realidade. O governo vem tomando uma série de medidas de caráter institucional e não-institucional que, a depender de como forem percebidas pela população e da luta política que se fizer até as eleições, pode ter repercussão nas intenções de voto, fazendo Bolsonaro oscilar positivamente e melhorar o cenário para as suas intenções golpistas.

O grande problema em um cenário como esse é que os dirigentes do movimento de massas – Lula e sua burocracia – jogam contra a mobilização de rua para repelir o golpismo porque apostam sempre nas saídas por cima e negociadas com os patrões e seus representantes. É justamente para destravar os bloqueios para a ação do movimento de massas que têm que atuar todas as organizações socialistas independentes, principalmente após a traição do PSOL à independência de classe, à luta direta das massas e à construção de uma alternativa à esquerda do lulismo ao entrar na chapa de conciliação de classes Lula-Alckmin.

“Onda rosa” influencia o Brasil, mas não resolve tudo 

Temos uma conjuntura político-eleitoral na América Latina que depois de uma onda reacionária continental tem levado o pêndulo político mais ao centro. O exemplo mais recente é o da eleição de Gustavo Petro na Colômbia, um ex-guerrilheiro do M-19, primeiro político de esquerda a assumir o governo na história deste país.

Com a vitória de Petro já temos 12 países da América Latina em que a esquerda ganhou as eleições, se Lula ganhar em outubro passamos a 13 países de um total de 20 países da região, dentre as maiores economias, inclusive. Mas, a chamada “onda rosa”, com o pêndulo político levando a governos de formações de centro, pode encontrar em uma possível eleição de Lula o seu ápice e passar a mudar de sentido a partir do próximo ano com as eleições argentinas de 2023.

Isso pode ocorrer porque essas formações de centro esquerda, na verdade, amplas frentes políticas de conciliação de classes, obtém vitórias na América Latina com a experiência das massas com o ultraliberalismo nos anos 90, mas a crise econômica ao atingir a região a partir de 2012 faz com que essas formações percam sustentação política e sejam substituídas por formações políticas ultrarreacionárias a partir de então.

Nos últimos anos, com o prolongamento da queda das commodities, estagflação e regressismo em todos os níveis, há um retorno do progressismo, porém esse sofre com a dificuldades estruturais da América Latina e com a estagnação pós-pandemia agravada com a guerra na Ucrânia. Obviamente que como os governos burgueses de conciliação de classes de países dependentes não tomam nenhuma medida para superar a dependência e muito menos fazem reformas de fato – econômicas ou políticas. Ao contrário, essa “onda rosa” ao preservar os interesses burgueses é ainda menos capaz de tomar medidas progressistas, tendendo assim a se conformar como governos ainda mais ao centro, mais liberais-sociais do que sociais-liberais como ocorreu na primeira onda no começo do século XXI.

A crise do neoliberalismo fez explodir ondas de indignação levando a governos burgueses progressistas. Com a crise econômica e os limites do progressismo se deu lugar a uma onda reacionária que colocou no poder governos de direita e extrema-direita no poder na América Latina. Mais recentemente, a rápida experiência com governos de direita e todo o regressismo levou a  essa nova onda rosa que pode, a partir da eleição de Lula, estar chegando ao seu fim. Daniel Boric (Chile) com 5 meses de mandato já tem taxas baixíssimas de popularidade – 35% de aprovação – e Alberto Fernández (Argentina) terá dificuldades para fazer o sucessor nas eleições do próximo ano.

Nesse cenário, em que o pêndulo político ainda está indo ao centro, mas que sofre um polarização à direita, ou seja, em que formações de direita e de extrema-direita estão sendo suplantadas por formações e governos de conciliação de classes que não resolvem os problemas vitais dos explorados e oprimidos, a luta direta das massas é imprescindível para de fato alterar a correlação de forças e superar o eterno retorno das condições estruturais de exploração e opressão.

A luta nas ruas é decisiva para uma saída independente

Em que pese essa dinâmica mundial de pêndulo político mais ao centro e o quadro geral de estagnação eleitoral verificada mais acima, Bolsonaro e o bolsonarismo têm iniciativas políticas e base social para tentar reverter o jogo – realidade que só poderemos ter mais definida nas próximas semanas. Além disso, conta com o cretinismo parlamentar do PT, do PSOL (ao entrar de malas e bagagens na chapa de conciliação de classes Lula-Alckmin deixou de ter um papel de impulsionador da luta direta) e da maioria das direções do movimento de massas, que apostam todas as fichas apenas no voto e desarmam a classe e os oprimidos para a luta.

Sem tocar em R$ 0,01 dos ricos, o governo tem no PLP 18, que limita o ICMS (imposto estadual) sobre os combustíveis, e na PEC 15, que aumenta o valor do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 até dezembro, instrumento institucional para tentar reduzir a inflação e minorar a penúria dos mais pobres para tirar a diferença de intenções de voto de Lula. Mas, o bolsonarismo também se utiliza dos métodos não-institucionais para fazer política, como é o caso da campanha internacional de mentiras sobre as urnas eletrônicas, utilizando-se da estrutura do governo e do exército, assassinato de opositores, ameaça e coerção direta de figuras da esquerda e uma série de outras ações para tentar impor o medo e a desmobilização e ser o único ator nas ruas – cenário perfeito para criar o clima golpista para não aceitar o resultado das urnas, impor outra votação…

A partir da reunião do governo com os embaixadores para atacar as urnas eletrônicas, houve uma reação ao golpismo de parte da classe dominante através da carta do Largo São Francisco e da carta da Fiesp. Bolsonaro está mais isolado no cenário internacional e não tem o apoio da maioria da burguesia hoje para uma aventura golpista no dia 2 de outubro. O problema é que não podemos segurar um processo golpista confiando na classe dominante e nas instituições do estado burguês, nunca se pode. Diante de uma agitação descontrolada nas ruas, da divisão das forças armadas, da burguesia, do Congresso, da opinião pública, leva quem tem mais peso nas ruas. Assim, para nada está determinado que não tenha capacidade de mobilização, apoio de setores da burguesia e das forças armadas para tentar alguma aventura no sentido de melar o processo eleitoral se conseguir construir até lá condições mais favoráveis.

No entanto, na melhor hipótese, se Bolsonaro perder as eleições, o próximo governo – Lula-Alckmin – será um governo burguês que irá governar a serviço da burguesia, não fará  reformas de fato e terá muita pouca margem para política de compensação social com a crise prolongada que vivemos. Na verdade, será um governo que tende a preparar as condições para o retorno da direita ou do bolsonarismo ao poder, a exemplo do que foi o governo Dilma.

Certamente que Bolsonaro é uma ameaça direta aos direitos democráticos e temos como tarefa número 1 derrotá-lo nas ruas nas urnas, mas não podemos nos render ao campo burguês como fez o PSOL.

Do ponto de vista imediato, ingressar nesta chapa burguesa de conciliação de classes agora com o presidente do PSOL como candidato a vice Senador de Márcio França -, uma ruptura aberta com a independência política de classe, produz uma dissolução político-tática imediata que tem duas consequências estratégicas. O PSOL deixa de cumprir o papel de mobilizar e exigir a luta pelas ruas às direções burocráticas do movimento de massas, o que leva a desmobilização tão fundamental no atual cenário. Essa ruptura da independência de classes produz a liquidação do PSOL como alternativa histórica ao PT, uma direção para o desafio de mudar a correlação de forças e lutar pela transição ao socialismo. Ou seja, a traição à estratégia de dotar o movimento de massas de uma direção à altura dos seus desafios históricos.

É preciso levar a sério as saídas golpistas, a qual temos que derrotar como tarefa central, mas a opção do lulismo, com o apoio do PSOL, está sedimentada concertação nacional burguesa para que se possa voltar à “normalidade” perdida, algo que nada interessa à classe trabalhadora. Por essa razão, a esquerda socialista tem uma responsabilidade transcendente na atual conjuntura. Precisa desenvolver uma linha tática voltada para independência de classe, para as estratégias de mobilização autônoma dos explorados e oprimidos e para táticas de unidade de ação e de frente de esquerda para impulsionar e organizar a luta desde a base. Ou seja, toda uma linha política que o PSOL traiu ao ingressar na chapa Lula-Alckmin.

Todos os partidos e organizações da esquerda socialista devem combinar a tática eleitoral com a da luta direta, ou melhor, a tática eleitoral deve estar a serviço, em primeiro lugar, do enfrentamento ao bolsonarismo e, em segundo, de qualquer saída burguesa para a crise. Para isso, as candidaturas da esquerda socialista e suas organizações políticas têm que imediatamente construir uma frente de esquerda. Em que pese as diferenças políticas, Vera Lúcia (Polo), Sofia Manzano (PCB) e Leonardo Péricles (UP), não podem mais perder tempo e junto com as suas organizações devem imediatamente realizar um encontro para tirar um plano de lutas comum, de mobilização e de exigência – e denúncias – pela base para que Lula, PT, CUT e direções de todos os aparatos de massas encarem a necessidade de enfrentar o bolsonarismo através das ruas – único método efetivo para derrotar o golpismo e lutar por saídas operarias e dos oprimidos para a crise.

As mobilizações do dia 11 de agosto, do 7 de setembro e de todas as lutas importantes devem contar com um bloco comum da esquerda socialista para a luta unitária para derrotar o golpismo bolsonarista e por um programa anticapitalista para combater a fome, a carestia, o desemprego e a violência. Ao mesmo tempo, é preciso independência política da burguesia e da burocracia para que possamos construir uma alternativa estratégica à conciliação lulista. Nesse 11A venha com a Bancada Anticapitalista, com a Juventude Já Basta!, com as Vermelhas e com o Socialismo ou Barbárie constituir uma coluna combativa, independente e anticapitalista.