Redação Esquerda Web Notícias, 26/11/2019

Há exatos três anos, toda a América Latina tinha conhecimento da confirmação da morte de Fidel Castro. A notícia justificadamente triste, teve grande impacto no continente latino-americano e em todo o mundo. Isso porque desaparecia o líder incontestável de uma das revoluções mais importantes do século XX, a Revolução Cubana. A qual os alcances políticos foram muito além da ilha.

A Revolução Cubana, triunfante em 1º de janeiro de 1959, implicou, em primeiro lugar, um desafio ao todo poderoso imperialismo estadunidense. A revolução tem uma importância ainda maior, porque ocorria quando Cuba era apenas um mero país dependente de Washington.

Desde que os EUA se apoderou da ilha ao derrotar a Espanha na guerra de 1898, convertendo Cuba em um protetorado colonial, com governos títeres que garantiam uma brutal exploração dos capitais ianques na cidade e no campo. E a degradação chegou ao máximo com a ditadura do “sargento” Batista, contra a qual se lançou Fidel Castro.

Porém, ao triunfar, as consequências da Revolução Cubana foram muito além da ilha. Transcenderam a toda América Latina, e em certa medida ao mundo. Especialmente foi a base de inspiração – tanto em seus acertos quanto em seus erros – para as vanguardas de lutadores latino-americanos nos anos 1960 e 70.  É precisamente essa transcendência histórica da Revolução Cubana, a que nos obriga – como socialistas revolucionários – fazer um balanço global, um balanço marxista, não “diplomático” ou unilateral.

Isso é duplamente obrigatório na análise, porque hoje Cuba se encontra em uma difícil encruzilhada. E, possivelmente, a desaparição de Fidel Castro, é o que marca o momento de exasperação de suas contradições. A Revolução Cubana, como dizíamos, foi uma grande revolução popular contra uma ditadura militar que geria a submissão mais abjeta ao imperialismo ianque.

Porém, não foi uma revolução da classe trabalhadora cubana, que poderia instaurar um regime de democracia operária e socialista. Para entender essa diferença – de consequências sociais e políticas imensas – basta comparar a principal consigna da Revolução Cubana e a que levantou outra grande revolução da história, a Revolução de Outubro de 1917 na Rússia.

Em Outubro de 1917, a consigna de “Todo o poder aos sovietes!”, sintetizava a assunção ao poder de organismos democráticos que agrupava os representantes livremente eleitos da classe operária. E isso foi assim até que uma burocracia conseguiu liquidar seu conteúdo.

Já na Revolução Cubana, a grande consigna foi: “Comandante em chefe, ordene!”. Desde o princípio, sobre as massas populares que logicamente apoiavam o triunfo da revolução, levantou-se o poder do verticalismo e de um partido-exército, com Fidel (e logo seu irmão Raúl). Diferentemente da Revolução Russa em seus inícios, com os sovietes democráticos conduzidos por Lenin e Trotsky, em Cuba não houve a menor tentativa de desenvolver uma democracia operária e socialista.

E a posterior posição de Fidel sobre o bloco soviético, sob as pressões do imperialismo ianque, fechou todas as portas nesse sentido. Depois da queda da União Soviética, Cuba pode resistir às pressões do imperialismo ianque, no sentido de não voltar a submissão colonial anterior à Revolução de 1959. Porém, isso não significa nem de longe um curso socialista.    

A burocracia político-militar que encabeça o aparato do Estado e do partido único – o PC Cubano (PCC) – tem dado espaço ao capitalismo. Seus membros alimentam e/ou hegemonizam todo tipo de negócios lícitos ou ilícitos. O giro do ex presidente dos Estados Unidos Barack o Obama, ao restabelecer relações com Cuba (sem acabar com o bloqueio), foi tático pois quis dinamizar esse processo de restauração do capitalismo.

Isto se traduziu nos últimos anos em um crescimento das desigualdades em Cuba. E hoje guardadas as proporções, é similar com os processos da China, Vietnam e outros países supostamente “socialistas”, onde se restaurou o capitalismo, ainda que mantendo o poder das respectivas burocracias “comunistas”.

Porém, Cuba não é China ou Vietnam, nem está na Ásia, mas no Caribe. A plena restauração do capitalismo vai pressionar inevitavelmente para a perda da outra grande conquista da Revolução encabeçada por Fidel Castro: a independência nacional.

Não demorará para que o imperialismo ianque redobrar as pressões nesse sentido, disfarçadas de uma mudança para a “democracia” como tenta fazer na Venezuela ou até mesmo, no Brasil em menor grau. Para defender a independência essa imensa conquista da Revolução de 1959, assim com suas conquistas em saúde e educação, para que Cuba é imprescindível haja espaço para uma nova alternativa revolucionária.

Uma alternativa que seja independente, tanto do imperialismo ianque e seus capatazes de Miami, como da burocracia do PCC e da nova elite nativa.  Essa alternativa só pode vir a ser realidade se a classe trabalhadora de Cuba se coloque de pé, organizando-se democraticamente e levantando um programa independente e realmente socialista para o conjunto das massas populares. 

Nossas diferenças programáticas e metodológicas com o castrismo são inúmeras, no entanto, o principal dirigente da Revolução Cubana sempre leva a novas reflexões. E nesses três anos de sua morte, e de imensa eferverscência política na América Latina é preciso reconhecer que apesar de todas as diferenças, se tem uma coisa sobre a qual mantém o legado de resistência de Fidel vivo na memória da vanguarda latino americana, foi seu senso crítico e a estreita desconfiança com o neoliberalismo, em particular com o imperialismo, que hoje ronda novamente nossa região.