USP: a luta impõe cotas

 
POR MARTIN CAMACHO, 07/07/2016
 
No dia 4 de julho, o Conselho Universitário da Universidade de São Paulo, que tinha sido adiado, terminou aprovando a inclusão de cotas étnico-raciais para negros e indígenas, reivindicação do movimento negro e indígena há muito tempo.
A USP se negava em abrir espaço não apenas para as cotas raciais, mas também para os estudantes das escolas públicas. A elitização dessa universidade era universal (sic) e excluía do se processo de ingresso jovens de origem operária, negros e indígenas.
A burocracia vinha fazendo mil manobras para não incluir cotas e manter o status de universidade para os brancos e de classe média alta, herança dos seus fundadores legados quando criaram a universidade de São Paulo em 1934.
Com a pressão dos professores, estudantes e trabalhadores, reivindicando que a USP se adeque às políticas de inclusão já praticadas em todas as universidades do país, a carcomida aristocracia que dirige a universidade teve que ceder a proposta de cota racial. Assim, além dos 50% dos estudantes egressos da escola pública, também teve que dar uma parcela das vagas para pretos e indígenas.
A democratização do ingresso na USP não foi uma graça dada de forma pacífica. Pelo contrário, foi uma conquista, em primeiro lugar, dos estudantes negros da universidade que levantaram a voz contra essa absurda condição de exclusão, movimento esse apoiado pelo movimento estudantil como um todo, pelos trabalhadores e professores da universidade.
Essa luta, feita pelo movimento negro em primeiro lugar e, depois, pelo movimento indígena, vinha crescendo após a obtenção, a partir de 2012, das cotas nas Universidades Federais. O movimento negro na USP começa a levantar-se a partir de 2014, ocupando salas de aula, onde não eram aceitos nas que os professores falavam como se estivéssemos dois séculos atrás.
Esse movimento conseguiu trazer a discussão em todos os âmbitos da universidade e a maré foi percorrendo os espaços deliberativos que, apesar de antidemocráticos, com muita luta a pauta foi avançando até o ponto em que teve que ser aprovada a contragosto do que as elites pretendiam.
A “justificativa” racista de parte da aristocracia universitária era de as cotas poderiam baixar o nível de ensino; tudo isso faz lembrar situações de apartheid, na qual os negros são maioria entre os trabalhadores e uma minoria ínfima professores, intelectuais, médicos, engenheiros…Esta é a desigualdade racial que sempre foi defendida no interior da reitoria e da burocracia universitária.
A vitoriosa votação das cotas no Conselho Universitário foi uma dura conquista, mas no final acabamos aprovando a promessa de que: até 2021 a USP terá que ter entre os ingressantes 50% de egressos das escolas públicas e, entre esses, 37% pretos, pardos e indígenas (PPI).
Essa mudança de ingresso traz consigo a luta pela ampliação das cotas – de forma que chegue a 80% para escolas públicas – e o fim do vestibular, mas também mais verbas para permanência estudantil, temas estes que devem ser colocados desde já.