Jornada histórica pelo direito ao aborto

Milhares de mulheres se mobilizaram em uma verdadeira jornada histórica pelo direito a decidir. Manuela Castañeira, dirigente de Las Rojas e do NovoMAS, advertiu: “É chave para o exercício pleno desse direito que não haja condicionamentos, por isso alertamos sobre a objeção de consciência que querem incluir nos termos da lei

Desde o início da manhã, mulheres, adolescentes e meninas começaram a chegar nas proximidades do congresso. Alguns homens também acompanharam a demanda, além dos contingentes que se mobilizam nas colunas políticas. As manifestantes acenam com lenços verdes, estão animadas e se abraçam, em uma atmosfera de enorme expectativa para a discussão que se dá entre paredes. Um direito elementar que é extremamente sentido pelo movimento de mulheres.

A sessão começou às 11 horas da manhã com uma surpresa. Os antidireitos quiseram adiar a votação para depois de 29 de dezembro, argumentando pelas festividades. A manobra não foi bem sucedida e a sessão continuou.

Do lado de fora, as colunas das diversas organizações políticas, sociais e feministas exibem suas bandeiras ao longo das ruas próximas. Acima de Callao estão as colunas das organizações peronistas, enquanto acima de Rivadavia estão as bandeiras vermelhas da esquerda, entre elas está a enorme agitação da coluna Las Rojas, que não parou de entoar um segundo slogan para o aborto legal e de rejeitar a objeção de consciência, um ponto que desencadeou controvérsia nas fileiras do feminismo.

No lado azul-celeste, a mobilização tem sido insignificante. O poder de mobilização dos antidireitos é quase nulo diante de um debate onde os pró-aborto conquistaram uma imensa maioria social em todo o país.

Manuela Castañeira, dirigente do Novo MAS e Las Rojas, está presente dentro do Congresso. Se nota que está tranquila. Ela participou de todos os dias de luta e mobilizações desde o primeiro dia. Na verdade, sua figura transcendeu o cenário da mídia em 2012, quando Las Rojas se reuniu na porta do Hospital Ramos Mejía para exigir que um aborto fosse garantido sem punição. Do movimento de mulheres, sua figura cresceu em torno do apoio a todas as lutas operárias e populares, e às campanhas eleitorais nas quais ela se apresentou como representante do NovoMAS por nada mais e nada menos que a candidatura à presidência.  

Em 2018, o debate sobre o direito ao aborto foi definitivamente instalado na agenda pública, ganhando progressivamente uma maioria social a favor. E até que se alcançou a meia sanção da mídia nos deputados do projeto apresentado pela Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto foi alcançada. Tudo isso foi o resultado da enorme mobilização do feminismo, da juventude e das trabalhadoras.

Hoje, apesar da expectativa da aprovação deste direito, ao mesmo tempo há uma negociação entre forças políticas que poderia acabar promovendo uma lei que coloca obstáculos ao exercício do direito ao aborto. É por isso que o projeto deve contemplar o aborto em qualquer caso e rejeitar a objeção de consciência, uma posição que é intransigentemente mantida por Las Rojas e outras organizações e ativistas do movimento de mulheres.