Incêndio, desabamento e morte no Largo Paissandu

A responsabilidade é de Temer, Alckmin e Dória

LUBA MATIAS

Na madrugada da última terça-feira, dia primeiro de maio, coincidentemente no Dia Internacional do Trabalhador, tivemos a tragédia do incêndio e desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, um prédio de 24 andares que se situava no Largo Paissandu (Centro de São Paulo).

O prédio que pertencia ao governo federal e foi abandonado há 17 anos pelo poder público era local de ocupação de trabalhadores sem-teto onde se contabilizava 372 moradores. Bombeiros estimam quatro pessoas desaparecidas até agora, mas esse número pode aumentar.

Em uma entrevista feita pelo jornal El País recentemente, Edivânia da Silveira Vieira relata que “Minha vida foi abaixo. Eu vi a minha mãe ali dentro, eu sei que ela estava ali”, referindo-se a mulher de 42 anos, trabalhadora da área de limpeza da Porto Seguro, que vivia com seu companheiro e duas filhas no local. Esse é só um dos relatos surpreendentes.

A suspeita é que o incêndio foi causado por um curto-circuito, demonstrando a condição precária em que esses moradores estavam sujeitos e representando a realidade de milhares que vivem nessa situação de risco, mas não se descarta que o incêndio tenha sido criminosamente provocado.

O ex-prefeito de São Paulo e pré-candidato ao governo do estado, João Doria, ao se pronunciar sobre o ocorrido, culpabilizou as vítimas: “a solução é evitar as invasões, o prédio foi invadido, e parte dela por uma facção criminosa”, afirmou Doria.

Fala absurdamente cínica que representa a visão política que tem a classe dominante e os seus representantes – em todos os âmbitos da administração pública – em relação à população marginalizada. Ou seja, tanto a burguesia quanto os seus governos querem se eximir da responsabilidade pela condição de abandono de milhares de pessoas no centro da cidade de São Paulo ou de qualquer outra grande cidade.

Além dele, outras figuras (que nem merecem ser citadas) da classe dominante também aproveitaram do fato para tentar desmoralizar movimentos sérios de moradia, como o MTST por exemplo, que nem faziam parte dessa ocupação, com o objetivo de deslocar o centro da gravidade do real problema da falta de moradia: concentração da propriedade urbana, altas taxas de desemprego, especulação imobiliária e falta de políticas urbanas e de moradia para atender a população de baixa renda. Ou seja, todos motivos relacionados a um sistema que funciona para garantir cada vez mais a acumulação de riqueza na mão de poucos. É abominável que tenhamos governantes defendendo a barbárie abertamente.

Por isso defendemos o imediato abrigo dos moradores afetados, a implementação de programas de moradia que alcancem todos os sem-teto da cidade a partir da desapropriação de casas e apartamentos vazios e que só servem à especulação imobiliária, a recuperação de prédios públicos para fins de moradia e o financiamento da construção de novas moradias no centro da cidade voltadas para a população de baixa-renda.

Políticas essas que para serem conquistadas é necessário que desenvolvamos um movimento mais amplo, radicalizado e articulado de luta por moradia e outros direitos. O que apenas enfatiza o papel fundamental que o MTST – sob a liderança de Guilherme Boulos – tem tido na realidade nacional nos últimos anos.

O MTST e a Frente Povo Sem Medo têm se demonstrado a principal organização da luta por moradia e de outras demandas populares. Uma frente que atua em nível nacional e se faz presente em vários estados, cidades e bairros a partir da luta unificada, radicalizada e independente da classe dominante e dos governos para lutar em defesa da moradia, do emprego, do salário e dos direitos democráticos.

Por isso, nós do Socialismo ou Barbárie, estamos contribuindo com a construção desse movimento em todas as frente em que atuamos, pois sua expansão e fortalecimento é fundamental para avançarmos em outras conquistas.