À frente,VAMOS!

À FRENTE,VAMOS!

POR CARLOS VERA

Se o Partido Comunista não buscasse as formas de organização que possibilitem a cada momento determinado as ações comuns acordadas entre as massas operárias comunistas e não comunistas (socialdemocratas inclusive) estaria provando, por sí mesma, sua incapacidade de conquistar a maioria da classe operária por meio de ações de massas. Degeneraria em uma sociedade de propaganda comunista e nunca se desenvolveria como partido para a conquista do poder”. (Trotsky – Sobre a frente ùnica – 1922)

Momento reacionário e resistência

O atual momento mundial é o de acirrados ataques da burguesia sobre os direitos mais elementares dos trabalhadores. A crise que se aprofunda pela continuidade das políticas que a gerou, tem levado a maiores apertos do laço no pescoço da classe. Ainda assim, movimentos de resistência importantes, ainda que pontuais,  tem se levantado ao redor do planeta.

Em nosso território, apesar do avanço de alguns projetos que unificam a burguesia, incluída a manobra reacionária de derrubada de Dilma, a sua consecução não é algo fácil.

A exigência dos setores que tradicionalmente, desde 1988 principalmente, vendem a alma para sustentação do governo de plantão, qualquer que seja sua cor, buscando garantias políticas e financeiras de sua sobrevivência, são parte importante nisso, hoje. Mas, o peso maior nos cuidados com que o governo busca estabelecer em lei o que determina a voz do dono está em que, o conjunto de explorados e oprimidos, desde o ano passado, deu mostras de sua capacidade de mobilização e disposição de resistência.

É verdade que a burocracia sindical vem funcionando como freio de um volumoso movimento de massas capaz de confrontar o ataque burguês generalizado a todo tipo de direito e da possibilidade de um amplo debate na formulação de um programa político de independência de classe, ainda que mínimo.

Nesse aspecto, o petismo que congregou uma geração de trabalhadores na luta sindical e política, serviu também para deseducar a classe e matar a consciência de classe para sí, arrastando-os para a conciliação mais degenerada, continuando a exercer certo fascínio.

A CUT e o setor que hoje conforma a CTB se prestaram a isso desmobilizando a maioria da classe nesse período e hoje, lamentavelmente, servem de anteparo às movimentações de massa (como o fizeram em 30/06), para negociar com o governo e junto ao restante da burocracia as garantias de sobrevivência como central e indiretamente pelas garantias eleitorais de Lula.

Lamentamos também que a esquerda revolucionária ainda não foi capaz de se conformar para a luta de maneira unitária: o objetivismo, o oportunismo, enfim, o sectarismo, apoiado em alguns casos numa visão eleitoralista, tem se mostrado importante barreira para isso.

Exemplos maiores são, por um lado, o principismo sectário e auto-proclamatório do PSTU, que se abstém de dialogar e educar as massas para o acirramento da luta de classes e se encastela em posições nada marxistas de que toda frente é reacionária e somente um programa que “faça” a revolução é possível ( http://www.pstu.org.br/polemica-nao-vamos-para-o-mesmo-lado ).

De outro lado, temos o comportamento de seita do MRT, este tão obtuso, que é desde a muito incapaz de dialogar, enquanto vanguarda, com os agrupamentos do próprio socialismo revolucionário, como o fez, por exemplo, atacando (sem qualquer base e mentindo) o apoio do MAIS às candidaturas de Isquierda al Frente pelo Socialismo na Argentina (ver http://socialismooubarbarie.org/post/ridiculo-ataque-do-mrt-pts-contra-esquerda-em-frente-ao-socialismo-ifs-e-ao-mais). É a ponta de lança dos ataques à unidade dos trabalhadores e suas organizações.

É preciso repisar que não somos a vanguarda da classe, mas uma parte dela, e nesse momento diminuta, ainda mais pelo isolamento de cada setor. Por conta disso, desde a tempos temos dado uma batalha pela unidade dos setores mais avançados, dentro do PSOL e fora dele, para que assumamos a responsabilidade de construção de um programa político capaz de afrontar o petismo internamente à classe e à burguesia como um todo, num projeto de frente de esquerda socialista que dialogue com o conjunto de explorados e oprimidos, ocupando o vazio de referência que as jornadas de junho 2013 escancaram.

O segundo semestre de 2017, recém iniciado, pelo conjunto de lutas sindicais (datas base de várias categorias importantes) e principalmente pelos embates necessários a se fazer contra o projeto de reforma de previdência, acabam por determinar a abertura de um campo sólido para a tentativa de protagonismo das massas nas ruas e da construção de uma unidade de luta e política, capaz de se conformar num novo instrumento de orientação com independência de classe para a juventude, trabalhadores e para os diversos movimentos sociais.

Pelas enormes possibilidades de ação: VAMOS!

Relembrando trecho de recente artigo nosso, que sintetiza a política necessária para um avanço na organização do socialismo revolucionário, o momento é de “exigir de maneira enfática e sistemática que os aparatos convoquem a resistência contra Temer e suas políticas reacionárias, e quando não o fizerem, é necessária a denúncia não menos contumaz. Mas, para que nossa tática de exigências e denúncias seja efetiva e possamos através delas disputar a hegemonia do movimento de massas, é necessário que as organizações sindicais, populares e partidárias independentes construam fóruns que combatam a dispersão em que se encontra a esquerda socialista.”1

Apesar do quadro fragmentado, o semestre passado apontou a disposição de luta dos jovens e trabalhadores marcada pela maior greve desde 1996, que levou preocupações à burguesia e demonstrou internacionalmente o falastrianismo de um governo ilegítimo e metido até a medula em corrupção.

Ao lado disso, no campo dos movimentos sociais, vimos acender o protagonismo do MTST na  condução e participação política dos diversos embates e debates em que a esquerda esteve envolvida, buscando conformar uma frente política (e nisso avança muito mais que o MST) independente e crítica de aspectos importantes do lulismo.

No campo do marxismo revolucionário, as movimentações, artigos e propostas amplas de debate promovidos pelo recém-formado MAIS, fugiu ao debate viciado anterior propondo sua ampliação com os olhos voltados para a construção de um instrumento político dos trabalhadores que vença o sectarismo e esquerdismos vigentes, demonstrado no encaminhamento de seu I Congresso, não deixando de lado a visão internacionalista que deveria tomar o evento. Apostamos nesse processo e as medidas de fusão com o NOS e de entrada no PSOL, parecem não tirar nossas razões de acompanhá-los.

Nesse sentido, a proposta do MTST, através da Frente Povo sem Medo, de montagem de uma plataforma política, denominada VAMOS, com um caráter de independência e de busca do protagonismo classista nas ruas, com um programa capaz de afrontar o reacionarismo, conjuntamente com as lutas sindicais que já começam a espolcar, trazem um momento novo onde a esquerda socialista revolucionária não pode se ausentar.

Temos que disputar o programa e as massas em uma ação unitária que vença o papel de ala esquerda do movimento e se torne o protagonista e condutor político de um novo e rejuvenescido movimento operário e social, desgarrado do lulismo e com independência de classe.

Vamos, por uma Frente de Esquerda Socialista no Brasil!

 

 

     Antonio Soler, “Retomar a luta nas ruas, contra Temer e suas contrarrformas”, 13/08/2017, www.socialismooubarbarie.org