Roberto Dias, ex-Diretor de Logística do Ministério da Saúde, é preso na sessão da CPI da Covid nesta quarta-feira (7), o que esquenta ainda mais a crise política. É preciso aproveitar o novo fato e fazer um grande dia nacional de luta e paralisação do trabalho no próximo 13 de julho, unificar as lutas em curso e construir uma greve geral para derrubar esse governo.

Renato Assad

Nesta quarta-feira, dia 7, o convocado para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a criminosa condução do governo Bolsonaro no combate a pandemia foi o ex-diretor do Ministério da Saúde, envolvido diretamente nos escândalos de corrupção na compra de vacinas que está sendo investigado, Roberto Dias.

Dias foi convocado para dar explicações sobre as acusações do pedido de propina de US$1 por unidade de vacina em negociação com a empresa Davati e a pressão feita sobre um servidor público para acelerar a compra de vacinas do laboratório que produz a Covaxin, Bharat Biotech, superfaturadas em 1000% em relação o preço de mercado.

Para quem acompanhou a longa sessão desta quarta, sem sombra de dúvidas, pode ver mais uma vez a narrativa contraditória e mentirosa do depoente, assim como foi com a do ex-Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e do ex-Secretário de Comunicação, Wajngarten. Ao final da sessão, o Presidente da Comissão, Omar Aziz, decretou então a prisão de Dias por perjúrio.

Esse é um novo fato que faz escalar a crise política, pode desestabilizar a relação de Bolsonaro com o Centrão e que coloca mais pressão sobre o Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, cúmplice deste governo genocida, que está sentado em cima de mais de 100 pedidos de impeachment.

Militares sobem o tom

Além da prisão por perjúrio de Dias, pedida pelo presidente da CPI, ontem Aziz e a CPI envolveram diretamente os militares nos esquemas de corrupção nas compras de vacinas. Fazia “muitos anos” que o Brasil não via “membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo”, disse Aziz.

Esse pronunciamento, somado ao depoimento de Dias, que incrimina diretamente o poder executivo e seus militares, particularmente o coronel Elcio Franco, ex-Secretário Executivo do Ministério da Saúde, nas acusações de corrupção irritaram governo e chefes militares.

O vexame foi respondido pelos chefes militares com a publicação ontem ao final do dia de uma nota abertamente intimidatória ao Presidente da CPI, mas que atinge o conjunto da instituição, sua independência e os direitos democráticos. Assinada por Walter Braga Netto (ministro da Defesa), almirante Almir Garnier Santos (comandante da Marinha), general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (comandante do Exército) e brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior (comandante da Força Aérea), a nota, por um lado, acusa o golpe sobre as denúncias de envolvimento dos militares nos esquemas de corrupção do governo Bolsonaro e, por outro, volta a colocar no centro do debate o papel político dos militares na atual situação de crise política e instabilidade institucional.

Enfrentam o presidente da CPI dizendo que “essa narrativa, afastada dos fatos, atinge as Forças Armadas de forma vil e leviana” e, muito pior do que isso, se arrogam o papel de instituição que tutela o regime afirmando que as forças são fator “essencial de estabilidade” institucional. Em outras palavras, em sua visão autoritária estão acima de qualquer questionamento ético e de qualquer outro poder no arranjo institucional, podendo agir sobre estes quando questionadas.

Diante desse posicionamento, é preciso que todas as organizações que defendem os direitos democráticos, os movimentos sociais e partidos políticos repudiem veementemente esse ataque à democracia e exijam um claro posicionamento dos chefes do legislativo e do judiciário diante de tal fato.

Massificar as lutas de rua e construir a greve geral para derrotar Bolsonaro

A prisão de Dias, as denuncias de corrupção do governo federal, a reação dos chefes militares e o acúmulo político das mobilizações contra Bolsonaro colocam uma equação política ainda não resolvida, pois esse governo segue perigoso e pode reverter a situação se não impusermos uma mudança definitiva na correlação de forças, colocando a classe trabalhadora e os explorados e oprimidos na ofensiva – cenário determinante para derrotar o neofascismo institucionalizado.

Como já dissemos anteriormente, a soma do dito acima materializa uma conjuntura favorável para a luta contra Bolsonaro, que vive o seu pior e talvez inimaginável momento, com o pior índice de aprovação e um isolamento parcial, mas ainda é sustentado pelo Centrão, por parte da classe dominante e das forças repressivas.

Conta muito a nosso favor o fato de que, ao contrário daquilo que previam as direções burocráticas da esquerda da ordem e de correntes frentepopulistas do PSOL, que seguem apostando tudo nas eleições de 2022 e que acabaram por ser superadas pela dinâmica da realidade, não houve até agora um refluxo dos atos de ruas. Na verdade, cresceram o número de cidades que registraram mobilizações pelo Fora Bolsonaro no último dia 3.

O que nos possibilita a tarefa histórica de, em unidade de ação, construir atos massivos, unificar os setores e categorias em luta e ir a uma Greve geral nacional para parar a produção desse país e impor ao cúmplice de Bolsonaro, Arthur Lira e sua base contra a parede, a abertura do processo de impeachment, lutar contra todos os ataques aos nossos direitos, particularmente os democráticos. 

Por isso, neste próximo dia 13 é central que seja construído pela base mais um dia de lutas nacional, com atos e manifestações, e que as frentes de luta, sindicais, centrais, movimentos sociais e partidos, convoquem a paralisação do trabalho nas estruturas de nossa classe em que dirigem. É necessário aproveitar esse empuxe das lutas nas ruas e construir uma resposta a altura que acumule politicamente para edificar uma greve geral. Nenhum passo atrás!