Estudos recentes mostram que a destruição da floresta tropical avançou nos últimos 10 meses 54% a mais do que no período anterior. Os cientistas alertam que, se esse ritmo de destruição ambiental se mantiver, os efeitos no chamado “pulmão do planeta” serão irreversíveis.

Por Patricio Atkinson

O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Iamazônia) publicou recentemente um alerta para os altos níveis de desmatamento que estão sendo realizados na floresta amazônica. Nos últimos dez meses, mais de 450 mil hectares de floresta natural foram perdidos, impulsionados pela expansão da fronteira agropecuária, principalmente no Brasil.

Paradoxos do capitalismo tardio, em um momento em que a crise ecológica está no centro do cenário internacional com manifestações até dos próprios cientistas que elaboram relatórios para a ONU exigindo respostas urgentes dos governos, no Brasil de Bolsonaro o agronegócio expande suas fronteiras, colocando um dos principais reguladores climáticos do mundo em risco, apenas para embolsar alguns dólares.

A Amazônia vs. Bolsonaro

A Amazônia possui a maior floresta tropical do mundo, com aproximadamente 550 milhões de hectares que abrange uma biodiversidade imensurável, abriga mais de 3.300 territórios indígenas formalmente reconhecidos e é um dos principais reguladores climáticos da América do Sul e do mundo. É um patrimônio natural, ecológico e cultural inestimável de toda a humanidade.

No entanto ano após ano, incêndios descontrolados, ataques contra a população originária e o avanço de retroescavadeiras e tratores realizados por empresários no interior brasileiro são notícia. A pecuária, a agricultura extensiva e a extração de madeiras exóticas para exportação são os campeões do negócio na maior floresta do mundo, alimentado pela impunidade bolsonarista e pela sede de dólares.

Há também razões políticas que explicam esse novo salto no desmatamento. Por um lado, há o aumento dos preços das commodities impulsionado pela guerra na Ucrânia, que desorganiza os mercados europeus e, consequentemente, os do mundo inteiro. Mas a possibilidade de mudança de governo no Brasil também se aproxima, e os empresários querem aproveitar a impunidade de Bolsonaro até o último segundo.

Os efeitos climáticos desse avanço sustentado são sentidos em toda a região, com a seca prolongada que está sendo vivida em toda a área centro-sul da América do Sul, que por sua vez gera melhores condições para novos incêndios florestais. Na Argentina, vivenciamos isso de perto com a onda de calor do verão passado, os incêndios descontrolados no Norte da Argentina e a histórica e sustentada descida do rio Paraná.

Tem passado a boiada

Embora seja verdade que a pecuária para consumo humano seja a principal causa do desmatamento na Amazônia, faríamos bem em olhar além de nossos próprios pratos para realmente entender a raiz do problema. Ou talvez devêssemos olhar mais de perto para quem enche o prato e quem não.

Nos últimos anos, o Brasil tornou-se o campeão indiscutível das exportações de carne, quase dobrando o saldo das exportações dos Estados Unidos, mas o consumo de carne naquele país, assim como na Argentina, vem caindo há anos, principalmente devido ao empobrecimento geral de sua população.

A produção agropecuária não responde a uma maior demanda por carne da população brasileira, mas sim ao enorme negócio de produzir a preços sul-americanos para vender em dólares no mercado externo, principalmente China e Estados Unidos. É a dependência econômica que impulsiona o aprofundamento de modelos extrativistas, ultra capitalistas e completamente negligentes com o meio ambiente, a saúde e as populações.

A destruição da natureza está na raiz desse sistema capitalista, e em sua divisão imperialista do trabalho são os países dependentes que têm que pagar a conta de seus negócios. Mas na Argentina, no Brasil e em todo o mundo, a consciência de que é necessário enfrentar o capitalismo e transformar esse sistema pela raiz, temos que ficar de mãos dadas com a juventude se quisermos ter um futuro.