O bolsonarismo na figura do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, quer calar a voz de uns dos parlamentares mais combativos da atualidade para calar a esquerda e sedimentar sua sanha golpista. É preciso construir uma frente de esquerda de fato que apresente um programa que interesse a classe trabalhadora e impulsione a luta em máxima unidade nas ruas. 

SEVERINO FELIX e ANTONIO SOLER

O Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PL), durante uma sessão em que explicava a sua vontade de privatizar a Petrobrás e entregar de bandeja a estatal, foi questionado pelo deputado Glauber Braga (PSOL) se não tinha vergonha na cara de manifestar tal posição de tramitar a matéria em regime de urgência e sem mais detalhes técnicos que embasaram sua fala.

Diante do questionamento, Lira demonstrou o porquê é um fiel escudeiro de Jair Bolsonaro (PL), simplesmente cortou o som do microfone de Glauber, o ameaçou de expulsar da sessão e disse que enviaria uma representação por falta de decoro à Comissão do Conselho de Ética, a qual goza de enorme influência sobre os membros. A partir daí, Lira fez caminhar em tempo recorde o rito do processo de cassação do mandato de Glauber Braga, comparado com outros processos apresentados por deputados do campo da oposição. No caso desta representação apresentada por Arthur Lira a mesma foi apreciada e aceita em menos de 24 horas.

Esse processo de perseguição só é possível porque a correlação de forças dentro do Congresso Nacional – particularmente na Câmara dos Deputados – favorece invariavelmente a grande burguesia, o governo e os partidos reacionários, estes sustentados materialmente pelo orçamento secreto de bilhões de reais. A ofensiva de Bolsonaro e de seus adeptos no Congresso Nacional se utiliza da tática de silenciar a oposição e todos que ousam questionar as leis votadas para favorecer os exploradores e setores mais privilegiados da sociedade. Por isso, resistir é necessário e apoiar os mandatos de lutadoras e lutadores que apoiam a classe trabalhadora, como Glauber, é tão fundamental neste momento.

Perseguição a Glauber está a serviço do golpismo

Bolsonaro já vem demonstrando uma tentativa de golpe às instituições há algum tempo e de que não reconhecerá os resultados das urnas se não houver auditagem dos votos. O golpe está aí, só não vê quem não quer, ou seja, trata-se de um golpe em andamento. Os discursos misóginos, racistas, homofóbicos ecoam como música no ouvido dos seguidores de Bolsonaro e foi devido a esses discursos de ódio que o assassinato do jornalista Dom Philips e do indigenista Bruno Pereira, as chacinas cometidas pela polícia militar no estado do Rio de Janeiro e toda onda repressiva de violência ocorrem e aumentam a cada dia. 

A política antidemocrática desenvolvida por Bolsonaro e sua base está a todo vapor para ensaiar mais tentativas de invasão ao Congresso Nacional já no próximo dia 07 de setembro. Ou seja, um mês antes das eleições presidenciais, como forma de intimidar os setores da oposição e organizar sua base de apoio. Diante dessa conjuntura, o partido de Glauber (Partido Socialismo e Liberdade – PSOL) em vez de ter como centro da sua ação impulsionar a luta para derrotar Bolsonaro pelas ruas e nas urnas, entrou na chapa burguesa de conciliação de classes Lula-Alckmin com o argumento de que para derrotar o fascismo é necessário renunciar ao programa e às resoluções do último congresso nacional de 2021 que aprovou construir uma frente de esquerda. 

De forma arbitrária, a direção majoritária do partido atropelou todas as discussões com os militantes da base e impôs verticalmente o projeto de conciliação de classes do PT. E não se trata de chamar o voto crítico em Lula – o que seria admissível taticamente se fosse mantida a independência tática, programática e organizativa – mas não a de entrar em uma chapa burguesa e abrir mão das táticas de luta, do programa que atende as necessidades mais imediatas dos trabalhadores e oprimidos e da identidade do partido. Ou seja, política que vai contra o que a direção do PSOL diz querer fazer: derrubar Bolsonaro, o bolsonarismo e os ataques aos explorados  oprimidos, pois isso só é possível com mobilização. Esse giro à direita tanto do PSOL, fazendo seguidismo ao PT, demonstra a enorme debacle política dos partidos ditos de “esquerda”, mas que são na verdade defensores da ordem capitalista – a chamada esquerda da ordem. Eles não operam na lógica de como organizar a classe trabalhadora para enfrentar e derrotar o fascismo, mas sim jogam tudo na disputa institucional. 

Derrotar Bolsonaro e o fascismo nas ruas está na ordem do dia. Para isso, não podemos renunciar ao princípio de independência de classe, como fez a direção do PSOL. Ao privilegiar a disputa eleitoral em detrimento da luta direta, o partido de Glauber vende a ilusão de que derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo é uma tarefa simples, basta uma vitória apenas nas urnas, mas, essa estratégia pode levar a uma derrota brutal de todos os setores de esquerda no Brasil. 

É necessário a unidade da esquerda dentro e fora do Congresso Nacional para barrar mais a tentativa de Lira e sua tropa bolsonarista de cassar o mandato de Glauber Braga, que visa atacar os trabalhadores através da manobra política de cassação do mandato de um partido da oposição. Dessa forma, a estratégia desenvolvida pela frente ampla para eleger Lula com apoio do PSOL é um enorme risco para as organizações de esquerda. 

Construir uma frente para impulsionar a luta

O deputado Glauber Braga, além de no Congresso Nacional, mais especificamente na Câmara dos Deputados, ser uma importante voz da luta contra a retirada de direitos, contra a privatização e contra a entrega do patrimônio público – dentre outras pautas -, através de sua pré-candidatura à Presidente até abril deste ano deu exemplo de independência política, defendeu a construção de uma frente de esquerda e encampou uma luta até o final contra a linha de conciliação de classes no interior do PSOL, mas foi derrotado junto com as forças revolucionárias que defendiam a política de independência de classe. 

A perseguição a Glauber está seguindo o roteiro da ofensiva bolsonarista de silenciar a voz de seus oponentes e, no limite, liquidá-los fisicamente. A defesa desse e de outros parlamentares de esquerda é central, pois se passar essa perseguição mais um degrau estará sedimentado rumo ao golpismo bolsonarista. Na verdade, todos estes elementos expostos acima reforçam a necessidade de criar uma frente de esquerda de fato, sem patrões, com candidatos e programa para enfrentar a crise do ponto de vista das necessidades dos trabalhadores e oprimidos que chame a luta nas ruas. Ou seja, para resistir não podemos ficar apenas nas palavras, é necessário organizar a classe trabalhadora, a juventude e os movimentos sociais, lotar as ruas e derrotar o fascismo.

Glauber permanece no PSOL e é candidato à reeleição por esse partido. Posição que consideramos equivocada, pois o PSOL ao entrar na chapa de conciliação Lula-Alckmin faz um desserviço para a tarefa central hoje que é derrotar Bolsonaro nas ruas e nas urnas e construir uma alternativa política independente dos patrões. Respeitamos Glauber e os demais combativos que ficaram no PSOL, porém pensamos que fizeram uma opção política equivocada e devem romper com essa situação imediatamente, não chamar o voto na chapa de conciliação de classes e apostar na construção de uma verdadeira frente de esquerda. Nós, do Socialismo ou Barbárie, junto com centenas de companheiros e companheiras rompemos com o PSOL para não fazer parte da conciliação de classes, estamos construindo o Pólo Socialista Revolucionário – vamos chamar o voto na Vera Lúcia no primeiro das eleições – e queremos construir uma corrente política nacional que não seja nem conciliatória e nem sectária

Afirmamos, também, que, essa frente de esquerda entre os setores que se mantêm independentes não pode estar condicionada com à escolha de uma candidatura única – como propõem algumas forças – , pois o centro é unir as forças da esquerda independente para enfrentar o nofascismo. Essa tarefa central e imprescindível, mesmo mantendo as três candidaturas de esquerda que temos hoje, temos que organizar todas as forças independentes – dentro e fora do PSOL – para construir uma uma frente de esquerda de combate antigolpista  que conte com programa mínimo, táticas de exigências para impulsionar a luta e derrotar Bolsonaro nas ruas e nas urnas

#GlauberFica