No dia 10 de agosto, durante o Ato de Encerramento da Campanha Eleitoral do Nuevo Mas, Roberto Sáenz, dirigente do partido e da Corrente Internacional Socialismo ou Barbárie, dirige-se à militância para levantar importantes referenciais de princípios, estratégias e táticas necessárias para se construir organizações revolucionárias que não sucumbam ao eleitoralismo que acometeu setores da esquerda na Argentina, como a FITU. Sua fala traz parâmetros políticos revolucionários universais que cabem perfeitamente na realidade brasileira e servem como bússola para superar a falência de parte significativa da esquerda brasileira que apoia/integra organicamente o governo burguês de conciliação de classes de Lula. Parâmetros esses fundamentais para reconstruir o marxismo revolucionário em nosso país. 

 

“A todas as companheiras e companheiros:

Vou falar em nome da direção do Nuevo MAS, em nome de todos as nossas belas e belos candidatos desta campanha, e de Manuela Castañeira, para quem peço aplausos por sua coragem durante toda a campanha, pela clareza com que apresentou muitas ideias e uma perspectiva diante da crise da sociedade capitalista e suas terríveis consequências.

Vamos terminar este ato de encerramento em homenagem a um companheiro que, aparentemente, acaba de morrer no Obelisco, lutando pelo povo de Jujuy.

Somos solidários à família Morena, cujo assassinato foi um ato de barbárie social e condenamos seus autores e também o sistema que gera a seus autores. Mas não queríamos deixar de fazer um fechamento militante com esse belo partido que deu tudo de si nessa campanha eleitoral, para a qual também peço uma salva de palmas!

Neste momento, há repressão no obelisco contra um setor minoritário, mas real, do povo de Jujuy, e há também um bloqueio dos trabalhadores da MCM em Constitución, onde também há repressão. Repudiamos a repressão, companheiros, e defendemos incondicionalmente o direito de protestar!

Não vamos fazer uma passeata ou um clássico fechamento eleitoral, porque isso não dá. É que está havendo uma tentativa de criar um clima de direita antes de domingo, e nós repudiamos isso! Queremos uma saída de esquerda e revolucionária! Mas as eleições não são a saída, precisamos do movimento de massas organizado e nas ruas! E para isso precisamos nos preparar. As condições são as que são.

E apesar dessa tentativa de impor um clima direitista e repressivo, no domingo temos que fiscalizar para cuidar de cada voto, porque eles valem ouro. Cada voto em Manuela Castañeira e em todos os candidatos desse coletivo socialista, revolucionário, vermelho, tem que ser cuidado!  Portanto, não vamos fazer um ato de encerramento clássico, vamos fazer um ato anticlássico, mas, as vezes, para educar o partido, é preciso fazer coisas anticlássicas, coisas que vão na direção oposta à pressão “natural” do momento. Nesse caso, um evento anti-eleitoral para encerrar uma bela campanha eleitoral.

Mas não quero ser aplaudido, está claro? Quero que todos vocês aplaudam a si mesmos, essa linda juventude partidária.

Toda a direção, cada militante, trabalhou honestamente para chegar até aqui. Portanto, além de Manu, que demonstrou uma coragem impressionante durante toda a campanha, devemos aplaudir todos os candidatos, porque essa coragem não é apenas de caráter, é de convicções socialistas profundas.

Classista, porque nossa campanha foi a única claramente classista. E a encabeçou, do ponto de vista da atividade, a companheira Manuela, em meio a uma situação que está se intensificando para a direita e com uma crise dramática da FITU, que é a crise do eleitoralismo e do populismo, uma crise de adaptação aos movimentos e à pressão eleitoral, por isso eles não podiam se dar ao luxo de estar nas ruas hoje, para não “ficar mal”. E nós sim nos bancamos e estamos fazendo um ato anti-eleitoral.

Outra pressão sobre a FITU também é para se adaptar a um movimento social, que defendemos incondicionalmente, mas que não é o núcleo da classe operária. E sem o núcleo da classe operária, sem que os assalariados saiam para lutar, não há transformação social na Argentina, camaradas. Este partido não se adapta. É um partido de jovens, mas também não é uma “Juvenília”.

Este é um partido operário, por seu programa, suas concepções, suas perspectivas. E é um partido pequeno, portanto, no domingo é muito provável, quase certo, que não ultrapassaremos as Primárias; mas temos de ser mil vezes mais cuidadosos se passarmos.  O central é construir o partido, não é pagar publicitários, não é gastar dinheiro em propaganda ou cartazes: o central é cada equipe de base desse partido se estabelecer em cada lugar onde podemos construí-lo. O central é construir raízes.

Nós ainda somos uma organização pequena e imatura, com uma candidatura enorme, com uma aparição enorme da Manuela: isso traz mais responsabilidade para todos de construir o partido a partir de baixo, para construir contrapesos a partir da base, para não seguir o caminho da FITU.

Somos um partido que não é sectário em relação às eleições e lutamos contra o sectarismo; mas não somos um partido puramente eleitoral, somos essencialmente um partido legal e um partido ilegal. Eu posso dizer isso porque ninguém me conhece, Manu não pode dizer isso, embora ela fale muito melhor do que eu, porque ela é uma figura pública. E isso é ótimo, porque parte da falência das outras correntes é que as figuras públicas são os dirigentes do partido, e isso coloca leis externas no partido que não são as leis do partido. Nós sempre nos recusamos coletivamente nessa direção a fazer isso, porque as leis do partido são uma, e as regras para figuras públicas são outras.

Mas construímos figuras públicas extraordinárias como Manuela Castañeira, que é uma das melhores porta-vozes das ideias da esquerda revolucionária na Argentina hoje, aos 38 anos de idade; e logicamente precisamos de mais porta-vozes.

Por favor, interpretem minhas palavras em uma chave revolucionária, que não é sectária nem oportunista: a revolução é uma diagonal que se traça com toda a direção e militância deste belo partido, cada um com suas próprias características, cada um com suas próprias nuances, cada um com suas próprias opiniões.

Eu amo muito todos vocês. Obrigado, companheiros.”

Tradução José Roberto Silva