A violência do patriarcado, da misoginia, do sexismo e da opressão de gênero materializados pelo técnico Rafael Soriano.

Deborah Lorenzo

Neste domingo (10/4) o ex-técnico da Desportiva Ferroviária, Rafael Soriano, protagonizou um repugnante ato de violência física contra a bandeirinha Marcielly Netto. A agressão ocorreu após discordar da arbitragem em um jogo que disputava a final do campeonato capixaba.

O Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol do Espírito Santo (TJD-ES), suspendeu o técnico de forma preventiva, nesta segunda-feira (11/4). Ele também foi exonerado do clube ao qual representava.

Mesmo diante dos registros da transmissão da partida – nas imagens é possível ver com clareza o momento da cabeçada – o ex técnico negou as acusações de agressão e fez declarações misóginas e machistas a respeito de Macielly. Ele declarou em entrevista à TV Cultuta: “Ela foi empurrar os jogadores e agora quer dizer que foi agredida. Ela tá querendo se aproveitar de uma situação porque é mulher. Não encostei nela, se encostei, ela vai provar na delegacia”.

Há múltiplos elementos sociais estruturais entranhados neste episódio. Por exemplo, os pressupostos da superioridade e da virilidade masculina, que em uma dinâmica social machista jamais devem ser afrontados por uma mulher. O machismo reproduz uma estrutura social que pressupõe autoridade do homem sobre a mulher, status de poder superior e, portanto, afirma que a mulher é menos capaz, menos habilidosa, mais fraca – o próprio patriarcado.

Ao serem desafiadas, estas pressuposições, os mecanismos mais frequentemente utilizados como estratégia defensiva são a repressão, coerção – verbal, física ou psicológica. Aqui temos um segundo elemento, “se você não se comportar como deve então terei que lembrar quem manda”. A cabeçada, para além de uma violência física direta, é carregada de simbologia misógina. É uma espécie de desafio, uma competição por quem tem a maior força, uma ameaça.

Um terceiro elemento correlaciona-se com a educação sexista, na qual mulher e homem assumem papéis e funções pré estabelecidos na sociedade. Nesta perspectiva, uma mulher não deve ocupar um cargo, frequentar locais ou participar de atividades que não lhe sejam pertinentes. No futebol, ainda que haja avanços no sentido de combater a cultura sexista, não é infrequente que as mulheres sofram constantes ataques de não pertencimento e deslegitimação.

Todo este conjunto de elementos psicodinâmicos e sociais compõem uma trama complexa que desencadeia uma realidade áspera. Centenas de milhares, senão milhões de mulheres e LGBTQIA+ sofrem os efeitos diretos destes mecanismos da subjetividade coletiva em forma de violência doméstica, chantagens, subornos, tortura psicológica, desvalidação, abuso, feminicídio, assassinatos de pessoas LGBTQIA+ e tantas outras formas de violência. A fragilidade do homem mata.

Nos solidarizamos com Macielly e com todas as pessoas que já sofreram qualquer forma de opressão de gênero. Que as devidas medidas legais sejam adotadas para proteger qualquer recorrência de episódios como este e que Rafael Soriano jamais retorne ao futebol, tendo em vista sua notável incompetência.

Reforçamos que apenas a luta contra o sistema que gera todas as opressões – o capitalismo – é que nos libertará da violência em suas mais diversas formas. E será por nossas mãos – mulheres, LGBTQIA+, negros e jovens -, pelas mãos dos mais “fracos”.

 

 

1 COMENTÁRIO

  1. Interpretação forçada. A violência sempre foi presente no futebol masculino e também no feminino (há muitos vídeos na net das mina tretando em futebol) Isso é culpa do patriarcado opressor também? Não há qualquer garantia, no seu texto, de que o técnico não tomaria a mesma vil atitude, ou até mesmo uma atitude mais violenta, diante de um homem.