MUDANÇA CLIMÁTICA

Apesar de todas as provas em contrário, produzidas em profusão por cientistas, grupos ambientalistas e pela própria ONU, a burguesia – para não abandonar um manancial do qual ainda extrai altos lucros: a terra e seu ecossistema – apoia e se esconde atrás da representação política dos setores de classe mais reacionários e conservadores para negar os enormes prejuízos causados pela produção capitalista ao homem e seu meio.

Ultradireitistas da marca de Trump e Bolsonaro, no poder ou não, com seus discursos xenófobos e negacionistas das transformações climáticas causadas pelo capital, todo dia sacam disparates e regulamentações que colocam o gênero humano no caminho da barbárie.

Durante a semana passada foi Bolsonaro, contestando os relatórios do INPE e internacionais acerca do desmatamento da Amazônia, culminando com o cancelamento pela Alemanha de um fundo de preservação da floresta amazônica.

Ontem, foi Trump, que anunciou novas regras para elaboração da lista de animais em extinção: a partir de agora a lista de espécies será montada a partir de critérios totalmente econômicos e não mais científicos.

Com relação a esse negacionismo e seu conjunto de políticas, publicamos abaixo a tradução de valioso artigo de Claudio Testa, nosso companheiro da Corrente Internacional Socialismo ou Barbárie.

José Roberto Silva

Arde o Hemisfério Norte

Claudio Testa

Teoricamente, na cidade de Buenos Aires, desde 20 /21 de junho e agora, até hoje, estamos vivendo em pleno do inverno (segundo o calendário). No entanto, até alguns dias atrás, isso não foi totalmente notado. Houve quase um verão de primavera. Mas o outro lado da moeda dessas situações no hemisfério sul tem ocorrido no Hemisfério Norte, onde prevalece um calor infernal que, especialmente em muitas cidades, se tornou insuportável, produzindo vítimas e todo tipo de problemas.

Este quadro é tudo menos o inesperado…e nos adverte, mais uma vez, não apenas o que pode acontecer no Hemisfério Sul nos próximos meses, mas também os sérios perigos de médio prazo que estão desenhados para todo planeta. São perigos que o capitalismo mundial e seus governos estão sendo incapazes de enfrentar seriamente…e então boa parte deles prefere silenciá-los ou negá-los diretamente, como fazem Donald Trump e agora também o governo brasileiro com Bolsonaro…que por sua vez são os dois grandes amigos internacionais de Macri…que também jamais disse uma palavra sobre o tema.

O problema imediato a sublinhar é que este ano, com o que tem acontecido no hemisfério norte, foi dado mais um passo em direção ao abismo…embora aqui, no Hemisfério Sul, muitos o tenham notado sob a forma falsamente “benigna” de uma antecipação primaveral.

Graves advertências

Já no início deste ano, o “Metoffice” (“Meteorological Office” do Reino Unido) fez previsões catastróficas nada tranquilizadoras sobre as perspectivas climáticas para 2019. No mesmo sentido se pronunciou a agência correspondente das Nações Unidas e outras entidades europeias especializadas.[NT1]

Essas e outras previsões – em um artigo intitulado “O colapso da Terra está se aproximando” – foram resumidas da seguinte forma:

A Organização das Nações Unidas (ONU) deu um alerta claro e contundente: o planeta está caminhando para o colapso climático, da saúde e social. Mas também foi destacada a solução (o que ainda é possível): reduzir as emissões de gases de efeito estufa (que causam as mudanças climáticas), reduzir os níveis de consumo, proteger a água e a biodiversidade (entre outros). Estas são algumas das conclusões que publicou em seu relatório “Perspectivas do Meio Ambiente Mundial”. Em várias seções, a ONU alerta que, se não houver mudanças drásticas e urgentes, haverá consequências devastadoras

“Estamos causando a mudança climática e a perda da biodiversidade: não haverá amanhã para muitas pessoas, a menos que paremos“, disse Joyce Msuya, diretora executiva do “ONU Meio Ambiente”.

“A mudança climática é um produto do aumento da temperatura devido à ação humana e implica mudanças drásticas no ambiente (inundações, secas, derretimento glacial). A principal causa é a emissão de gases de efeito estufa, principalmente dióxido de carbono (CO2). A queima de combustíveis fósseis (gás, petróleo, carvão) está entre as principais causas. O relatório da ONU se concentra nas mudanças climáticas, mas não aponta para os responsáveis. É que as grandes potências econômicas são os principais culpados: 76% das emissões vêm dos países do G20, liderados pela China, Estados Unidos, União Europeia, Índia, Rússia, Japão e Alemanha”. (Página 12, 08/05/2019)

Hoje, essas advertências de agravamento prognosticadas há apenas alguns meses, estão se cumprindo de forma aterrorizante no Hemisfério Norte e, também, em escala mundial.

Júlio de 2019 está a caminho de converter-se no mês mais quente da história”

Com esse título, um artigo do jornal La Nación (18/07/2019) descreveu a crise climática que atinge o norte do globo terrestre:

Temperaturas extremas em vários lugares no norte do planeta nas últimas duas semanas poderiam fazer de julho o mês mais quente registrado na história da Terra, de acordo com cientistas especializados em mudança climática.

A última quinzena testemunhou temperaturas incomuns no Ártico canadense, secas extremas que deixaram a cidade de Chennai na Índia sem água, uma onda de calor sufocante na Europa que tem sido suficiente para fechar ao público algumas atrações ao ar livre como a Acrópole em Atenas e incêndios florestais que forçaram turistas no sul da França a deixar seus acampamentos. Até mesmo a força aérea da Indonésia teve que realizar missões de bombardeamento de nuvens na esperança de causar chuvas.

Se as tendências da primeira metade do mês continuarem, elas baterão o recorde anterior de julho de 2017 em 0,025 °C, segundo cálculos que a cientista especializada em mudança climática da Universidade de Oxford, Karen Haustein, compartilhou com o jornal The Guardian.

Também ultrapassaria o mês de junho mais quente da história, o mês passado, como confirmado pela NASA e pelo Centro de Satélites da União Europeia nesta semana. A temperatura global foi aproximadamente 0,1 ° C mais alta do que a anterior mais quente de junho, registrada em 2016.

Em resposta aos novos números, Michael Mann, diretor do Centro de Ciências do Sistema Terrestre da Universidade Estadual da Pensilvânia, twittou:” Isso é significativo. Mas fique ligado nos números de julho. Julho é geralmente o mês mais quente do ano em todo o mundo. Se este mês de julho for o mês mais quente de julho (tem uma boa chance), será o mês mais quente que já medimos na Terra »…”.

Conclusões necessárias

Esses dados irrefutáveis sobre a deterioração cada vez mais rápida das mudanças climáticas nos obrigam a tirar conclusões e, acima de tudo, agir de acordo. A humanidade está enfrentando um desafio sem precedentes no qual, em última análise, está se jogando sua sobrevivência. E a coisa obviamente vai mais rápido do que o esperado.

Em outras palavras: ou se impõe uma mudança drástica, revolucionária, nas formas e relações de produção que consigam reverter o envenenamento e destruição da natureza, ou a vida da humanidade e outras espécies na Terra estão em perigo mortal que piora e cresce sem pausa.

Na época, ante as várias conferências e pactos globais para enfrentar esse perigo, vimos denunciando que eles não iriam a fundo e fracassariam. Tendo em conta os interesses do grande capital (que, por uma questão de lucro, não se importa de envenenar o planeta), todos estavam muito aquém do necessário … O último grande exemplo foi a Conferência de Paris, em dezembro de 2015.

Menos de quatro anos após a assinatura dos acordos de Paris, o Hemisfério Norte está em uma situação de aquecimento muito mais grave do que se imagina, o polo e outras regiões inteiras do Norte derretem …enquanto as grandes cidades se tornam cada vez mais inabitáveis em dias de calor extremo.

Infelizmente, as críticas e previsões negras que fizemos na época estão se cumprindo a uma velocidade que não imaginamos.

Isso é ainda mais agravado pela gravitação de governos e setores particularmente nefastos, como Trump, Bolsonaro e Cia, que vão ao extremo de ser negadores da mudança climática, embora se desenvolva diante de nossos olhos de forma cada vez mais intensa. contundente e prejudicial.

Diante desta perigosa encruzilhada da humanidade, ratificamos mais do que nunca a necessidade de lutar e derrotar essas gangues de negadores. Mas também é necessário denunciar e confrontar políticos hipócritas que lamentam as catástrofes climáticas enquanto isso em seus distintos governos não tomam as medidas essenciais porque afetam os bolsos dos capitalistas culpados da poluição e do aquecimento global.


NT:  Veja o 5º relatório do IPCC da ONU em https://www.ipcc.ch/report/srccl/