Na Argentina: “Macri chau!”

Imensa marcha em defesa da educação na Argentina

FEDERICO DERTAUBE

A chuva aumenta, mas nada parece incomodá-la. Uma verdadeira multidão conformou uma mobilização de centenas de milhares contra o ajuste à educação.

Horas antes da convocatória já se podia prever o que estava por vir. Os trens se aproximarvam do Conurbano em direção ao centro da cidade de Buenos Aires com os vagões cheios de manifestantes. E mesmo que eles não se conhecessem, como acontece nessas circunstâncias, quem vai lutar se reconhece. Mas isso não acontece em qualquer marcha. Vê-se em cada espaço que existem pessoas e grupos com bandeiras, lenços, alguma percussão. A do lenço está a um metro de alguém com uma bandeira, a dois metros de quem carrega o bumbo e seu grupo. Assim, começa prematuramente a mobilização. Mais a frente há mais lenços, mais bandeiras, mais percussão. Enquanto ainda estão se aproximando do ponto de encontro, começam a cantar.

Eu não tenho contas no Panamá, sou estudante e exijo orçamento” é o que mais soa nas colunas que vêm do norte, sul e oeste.

Os grandes protagonistas são os estudantes que vêm de tomar suas faculdades. Algumas nunca tinham sido tomadas, outras nunca haviam tido uma assembléia de base digna de tal nome. A UNQUI, a UNLa, a UNSAM são algumas delas. Também faculdades da UBA como a FADU. Junto a eles, marcham também centros de estudo com longos anos de tradição de luta, tais como Filo e Sociales. Há também professores, colunas de professorado e alunos do ensino médio.

Milhares e milhares de estudantes chegaram ao Plaza Congreso mal tendo dormido, mas com um claro protagonismo neste dia. Vêm de tomar suas faculdades e passar a noite acordados em assembléias, vigílias, debates. Junto aos docentes em greve, conformam também colunas que parecem intermináveis. A convocatória se replica em todas as partes do país.

A multidão se desloca do Congresso para a Plaza de Mayo e a passagem das pessoas parece nunca acabar.

Com corrida cambiária, com desvalorização … mas também com luta. Pode estar se abrindo uma verdadeira crise política que tem como protagonistas os de baixo, enfrentando cara va cara o governo e seu plano de ajuste em todas as frentes: Universidades, escolas, órgãos estatais, hospitais, mas também lugares de trabalho.

Na grande coluna da corrente universitária Ya Basta! e do Nuevo MAS se ouve a consigna “Macri chau!”, uma perspectiva que parece estar na boca de cada vez mais e mais pessoas.

Enormes perspectivas de luta se abrem. A CGT está claramente por trás dos eventos que chamaram uma greve convenientemente para dentro de um mês, dando as costas para as lutas reais tais e como estão ocorrendo no momento. O movimento dos trabalhadores dá indicações claras de querer entrar na luta, mas tem a louça burocrática sobre a sua cabeça. Se o movimento operário e a juventude estudantil e o movimento de mulheres se unem na mesma luta, se abrem condições certas para derrubar o ajuste e a política reacionária de um governo em crise. É necessário continuar com as tomadas, com mobilizações como esta e convergir com os trabalhadores e as mulheres: é possível derrotar o macrismo.