A semana passada foi turbulenta, os fatos contidos nela ampliaram o desgaste de Jair Bolsonaro. No entanto, ao contrário do que poderia ser se estivesse em curso um processo de mobilização unificado contra o governo, por enquanto as denúncias e investigações ainda não significaram um salto na luta pelo Fora, Bolsonaro e Mourão.
ANTONIO SOLER
Tivemos no decorrer da semana passada os depoimentos sobre a fala de Bolsonaro reunião ministerial (22/4). Nesse evento, o presidente neofascista disse que queria ter o controle pessoal da Polícia Federal (PF), particularmente a do Rio de Janeiro, para evitar que os seus filhos e apoiadores fossem investigados.
Os três ministros (todos militares) em seus depoimentos deram versões mentirosas de que na reunião ministerial Bolsonaro se referia à segurança pessoal dele e da sua família, não de controlar a PF para evitar o andamento das investigações sobre corrupção contra seus seus filhos. O que não explicam é porque, se a preocupação era realmente a segurança da sua família, em vez de trocar o Ministro da Justiça e Segurança e o diretor-geral da PF, Bolsonaro não exonerou o Ministro do Gabinete de Segurança Institucional, esse sim responsável pela segurança do presidente e de sua família.
Como parte do mesmo processo investigativo, a possibilidade de Celso de Mello (STF) autorizar a publicação do vídeo desta reunião pode ter um efeito explosivo na opinião pública, uma erosão ainda maior da base de sustentação de Bolsonaro e um importante impacto na conjuntura, mas isso ainda não aconteceu. No entanto, os trechos que foram publicados até agora da fala de Bolsonaro na reunião ministerial já dizem o suficiente. “Pô, eu tenho a PF que não me dá informações (…) A gente não pode viver sem informação” e “vou interferir. Ponto final”.
Essa fala e outras circunstâncias, como as trocas de mensagens entre ele e Moro em que Bolsonaro diz que a investigações de aliados do PSL é mais um motivo para mudar o comando da PF, não deixam sombras de dúvida de que a sua obsessão, que acabou sendo imposta, de substituir o diretor-geral da PF e a Superintendência da PF do Rio de Janeiro estava voltada para o acesso e controle sobre inquéritos de crimes de várias ordens e gravidades que envolvem diretamente filhos, aliados e o próprio presidente neofascista.
No entanto, quando achávamos que a semana não reservava mais surpresas sobre esse tema, veio à tona neste sábado a entrevista do empresário Paulo Marinho, suplente de Flávio Bolsonaro na campanha que o levou ao Senado em 2018 e pré-candidato a prefeito do Rio de janeiro pelo PSDB, relatando que em Dezembro de 2018, após as eleições que deram a vitória à Bolsonaro e a toda onda reacionária, Flávio o procurou para que indicasse um advogado para o defender das denúncias de desvios de dinheiro público da ALERJ – Flávio era Deputado Estadual no Rio de janeiro antes de ser eleito Senador da República.
O relato de Marinho é explosivo, pois Flávio disse nesse encontro que 1) entre o primeiro e segundo turnos das eleições de 2018 soube por um Delegado da PF do Rio de Janeiro com antecedência que seria realizada uma operação sigilosa de investigação da ALERJ, que 2) essa operação só iria ocorrer após o segundo turno das eleições presidenciais para não atrapalhar a candidatura de Bolsonaro e que 3) o tal delegado havia aconselhado que demitissem Fabrício Queiroz da chefia do Gabinete na Alerj e a filha dele do gabinete de Bolsonaro na Câmara dos Deputados, o que foi feito no dia 15 de outubro de 2018, antes do segundo turno das eleições presidenciais.
Esse depoimento acaba de encaixar as peças do porque Bolsonaro quer de forma ilegal controlar a PF, particularmente a do Rio de Janeiro. São fatos que revelam as entranhas da maquinaria criminosa que envolve a família Bolsonaro e expõem a mega manipulação da classe dominante e de poderosas instituições do Estado para impor a eleição fraudada de 2018.
O depoimento de Marinho tem que ser a gota d’água para transbordar a conjuntura e acabar de criar as condições para que a luta pelo Fora, Bolsonaro e Mourão concretize a abertura de um processo de impeachment para expulsar o candidato a ditador e todo o seu governo de Brasília. Mas isso não vai acontecer sem mobilização e unidade de todas as forças políticas que resistem ao avanço do autoritarismo.
Pensamos que é necessário, em primeiro lugar, que a esquerda socialista, com o PSOL à frente, se unifique em torno ao pedido de impeachment. Essa ação é importante para fazer na prática a exigência a que Lula, PT, CUT, demais centrais sindicais e todos movimentos, que dizem defender a democracia, rompam com a essa passividade que apenas dá tempo parar Bolsonaro recompor suas forças para retomar a ofensiva e impor a sua política genocida e ameaçar os direitos democráticos dos trabalhadores e oprimidos.
[…] Flávio Bolsonaro em dezembro de 2018 teria informado a Paulo Marinho (ex-aliado de Bolsonaro) que teve informações sigilosas de um delegado da PF do Rio de Janeiro que seriam feitas diligências na Assembleia Legislativa do Rio e que essas investigações seriam feitas apenas após o segundo turno das eleições para não atrapalhar a eleição de Bolsonaro. Veja detalhes em https://esquerdaweb.com/denuncia-de-ex-aliado-de-bolsonaro-e-peca-chave-para-impeachment/. […]