Marina Hidalgo Robles, por Las Rojas, em fala no 31º Encontro Nacional de Mulheres realizado na cidade de Rosário

“Boa tarde, companheiras e companheires, que bom voltar a nos reencontrar, para seguir organizadas em luta.

No marco desta reunião de luta, Las Rojas reivindicamos a solidariedade que atravessa as fronteiras, que se une aos oprimidos e explorados do mundo inteiro, assim como saímos juntos com as companheiras ianques para a defesa do aborto legal, apoiamos a iniciativa das sextas-feiras negras das mulheres polonesas em 2016, mobilizamos inúmeras vezes para a luta palestina, realizamos ações de solidariedade para as companheiras afegãs que estão enfrentando o Talibã e recebemos o abraço do mundo inteiro quando realizamos a luta pelo aborto legal, vendo imagens lençaços em todo o mundo.

Porque o movimento feminista vem construindo uma tradição de solidariedade, uma tradição internacionalista, que torna próprios os problemas de todes e que Las Rojas saudamos e promovemos este caráter importante deste movimento. A luta pelo direito de decidir pelo qual lutamos na Argentina, e pela qual ganhamos o Aborto Legal, foi replicada em dezenas de países que continuam lutando pela legalização do aborto ou contra o avanço reacionário que quer negar-lhes seu direito conquistado.

E esta luta pelo direito de decidir pelo próprio corpo também está sendo travada hoje no Irã, porque as mulheres não só não são donas de seu corpo, como nem sequer são donas da escolha de como se vestir: seu corpo é um símbolo de vergonha que deve ser coberto de uma ponta à outra. Mas isso está questionado hoje. E é por isso que estamos aqui, hoje, nesta praça para torná-la visível, para fazer saber que as companheiras no Irã não estão sozinhas!

O que está acontecendo no Irã é realmente impressionante, as imagens e vídeos que estão circulando pelo mundo são realmente chocantes; e nos enche de orgulho ver a coragem com que essas mulheres, essa juventude, estão enfrentando uma das mais cruéis e violentas repressões. O povo iraniano disse “basta!” e saíram às ruas com a perspectiva de lutar pela liberdade e deixar tudo nessa luta.

A onda de mobilizações começou em 16 de setembro, quando Jina Mahsa Amini morreu após três dias de agonia no hospital. Jina era uma jovem curda de 22 anos que vivia na região curda do Irã. Não sei se todos sabem, mas o povo curdo é um povo sem Estado que vive em diferentes partes do mundo, particularmente no Oriente Médio, e é sempre perseguido e oprimido. Eles também são um povo muito corajoso. Em 13 de setembro, Jina e sua família foram para a capital, Teerã, onde foi presa pela polícia moral – sim, no Irã há uma polícia que decide o que é certo, o que é errado, julga e condena! E Jina foi condenada por ser imoral, por mostrar parte de seu cabelo, por usar mal o hijab, de acordo com a Sharia, que é a lei islâmica!

(…) As expressões de solidariedade cruzaram fronteiras: eventos e manifestações na Europa, atrizes francesas cortando o cabelo, declarações de apoio. E aqui temos que dizer algo muito claro, que repudiamos a hipocrisia dos governos imperialistas, que, ao mesmo tempo em que declaram seu suposto repúdio ao assassinato de Jina Amini, não fazem absolutamente nada e continuam a apoiar estes regimes de terror.

O que está acontecendo hoje no Irã é bonito porque vemos a coragem de um povo se erguer contra anos de opressão, vemos meninas enfrentando balas e gás sem medo de dar suas vidas pela liberdade. Vemos uma tremenda experiência de luta que nos ensina que para conquistar nossa liberdade, para acabar com esses regimes de opressão, temos que lutar muito, nas ruas, juntes, juntos, juntas e em todo o mundo.

E agora por elas e por eles, a partir desta praça convidamos todas as companheiras e companheiros a se unirem a este pañuelazo como sinal de nosso apoio, para elevar alto nossos lenços verdes, estes lenços que se tornaram o símbolo da luta pela liberdade de decidir o que fazer com o próprio corpo; gritar alto para que atravesse fronteiras e oceanos, para que as mulheres, a diversidade, a juventude e o povo iraniano nos ouçam, para que não estejam sozinhos, para que na Argentina e em todo o mundo abracemos sua luta e que sigamos lutando até o fim, para que lutemos contra todos os reacionários que querem governar nossos corpos e para que continuemos a lutar até construirmos um mundo sem opressão, sem exploração!

Viva a rebelião das mulheres e do povo iraniano!

Traduzido do original espanhol em https://izquierdaweb.com/rebelion-irani-marina-hidalgo-robles-para-terminar-con-estos-regimenes-de-opresion-hay-que-luchar-mucho/